16 de dezembro de 2025
ENTREVISTA

Veja: Entrevista da Semana com a educadora Sara Hughes

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Arquivo pessoal
Sara Hughes: empresária, educadora e palestrante

Educação para desvendar o mundo

Desde nova, Sara Hughes, nascida nos Estados Unidos, interessou-se por tecnologia e por conhecer diferentes culturas. Após trabalhar e visitar diversos países e já vivendo no Brasil, mais especificamente em Bauru, enquanto atuava no Grupo Lwart, em Lençóis Paulista, percebeu que os jovens com quem tinha contato recebiam uma educação limitante.

Foi então que decidiu fundar a FourC Bilingual Academy, com o objetivo de formar novas gerações com pensamento crítico, colaborativas, cidadãs e interessadas em cultura, ávidas por desbravar e melhorar o mundo - o seu próprio e o que se apresenta, fisicamente, no Planeta Terra.

Aos 54 anos, a empresária, educadora e palestrante comemora, neste mês, 15 anos de seu projeto educacional e um caso de amor de quase três décadas com Bauru, onde fixou residência após casar-se com Carlos Renato Trecenti, presidente do Conselho de Administração do Grupo Lwart. Com ele, teve as filhas Sofia, 19 anos, e Giovanna, 16 anos.

Formada em economia e em pedagogia, é responsável pela Scaffold Education, plataforma de aprendizagem para escolas e empresas, e pela FourC Learning, voltada à formação de professores e gestores educacionais. É, ainda, Idealizadora do Instituto Lidera Jovem, em Lençóis Paulista, que abriga projetos como o Formação de Líderes, além de ser presidente do Conselho do The Family Business Network (FBN) Brasil. Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista concedida ao JC.

JC - Conte um pouco sobre a sua origem.

Sara - Eu nasci na Califórnia e, com quatro anos, fui morar no Vale do Silício, onde meu pai foi trabalhar como programador. Meus pais se separaram e, com nove anos, mudei-me com minha mãe para Kentucky. Fiquei transitando entre estes dois estados totalmente diferentes ao longo dos anos, até fazer faculdade de economia com ênfase em relações internacionais, na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara. Eu era presidente da organização de intercâmbios Aiesec, no câmpus, então, tive contato com estudantes da Nigéria, Austrália. E, no primeiro ano do curso, pude ficar um semestre em Londres e viajei para a Espanha, Irlanda. Comecei a me interessar pelas diferentes culturas.

JC - Quando concluiu a faculdade, foi trabalhar onde?

Sara - Eu comecei a trabalhar aos 14 anos. Na faculdade, fazia análise de tecnologias novas e dos custos para implantação e ajudei uma escritora a redigir um livro sobre mulheres empreendedoras. Quando me formei, trabalhei na expansão de um aeroporto de Kentucky, mas, por conta da Aiesec, sabia que poderia escolher outro lugar no mundo. Fui para a Colômbia, na época do Pablo Escobar, em 1992, e atuei em um banco privado, com o mesmo trabalho que eu fazia na faculdade. Fora o narcotráfico, foi maravilhoso. Aprendi a dançar músicas latinas, experimentei comidas diferentes e trabalhei com pessoas muito capacitadas.

JC - Depois disso, voltou a morar nos Estados Unidos?

Sara - Em 1993, voltei para a Califórnia e a escritora que eu havia ajudado a escrever um livro me chamou para apoiá-la em trabalho com mulheres empreendedoras e jovens mulheres em vulnerabilidade. Ao mesmo tempo, um colega com quem eu havia trabalhado na HP e estava na Apple me convidou, por eu falar fluentemente espanhol e ter conhecimento em tecnologia, para fazer análise da experiência dos usuários com os produtos da Apple na América Latina. E fui fazer meu MBA em Barcelona, no Iese, com uma parada no Brasil e outra em Costa Rica.

JC - Por qual motivo e como foi sua primeira vinda ao Brasil?

Sara - No primeiro dia de aula no Iese, em 1994, conheci um brasileiro, o Carlos, que viria a se tornar meu marido. Eu queria estudar, estava focada no que o mundo poderia me oferecer e não queria namorar. Além disso, ele era intercambista e só ficaria quatro meses lá, mas foi insistente e começamos a namorar. Ele foi embora e, entre o primeiro e o segundo ano do MBA, tem o Summer Job. Vim para o Brasil e fiquei o verão no Banco Votorantim, em São Paulo, na época das privatizações, analisando o mercado para verificar quais ações eram interessantes para compra. O Carlos é de Lençóis Paulista, trabalhava lá, e nos víamos aos fins de semana. Depois, fui para a Costa Rica, em um intercâmbio.

JC - E como se deu a vinda definitiva para cá?

Sara - Antes de eu ir para a Costa Rica, o Carlos me pediu em casamento. Voltei para a Espanha, me formei em maio de 1996 e nos casamos em setembro, no Kentucky. Ele falava que nós ficaríamos no Brasil entre três e cinco anos, mas foi propaganda enganosa. Fui trabalhar na empresa da família dele, o Grupo Lwart, na área de exportação de celuloses especiais e, em uns seis meses, já estava conseguindo me comunicar bem em português. Fiquei como diretora por 11 anos, atuando em várias frentes, como a mudança de sistemas e processos na fábrica e no setor administrativo, com implantação de novas tecnologias, para as empresas crescerem.

JC - Como foi a transição para a área da educação?

Sara - Eu comecei a gostar muito do desenvolvimento das pessoas, de inspirar as pessoas a se capacitarem para as mudanças. E fizemos, dentro da fábrica, várias ações neste sentido, como o Projeto Formação de Líderes e o Projeto Escola, com alunos de Lençóis, este último com concurso de redação e de fotos na floresta de eucalipto, com premiação. E, com duas filhas pequenas, vendo que a educação no Brasil e mundo não era adequada para potencializar pessoas para o futuro, decidi abrir uma escola. Fiz muitas pesquisas e definimos um modelo que estimula o pensamento crítico, a colaboração, a cultura e a cidadania, sempre com curiosidade aguçada, contratei uma equipe de profissionais em que acreditava e começamos com 120 alunos de 3 a 12 anos. Pela demanda apresentada pelos pais, depois de alguns anos, estendemos até o Ensino Médio e já temos muitos alunos formados na faculdade, desbravando, de forma muito bem-sucedida, o Brasil e o mundo.

O que diz a educadora:
'Fui para a Colômbia, na época do Pablo Escobar, em 1992. Fora o narcotráfico, foi maravilhoso'
'No primeiro dia de aula no Iese, em Barcelona, em 1994, conheci um brasileiro, o Carlos, que viria a se tornar meu marido'
'Vendo que a educação no Brasil e mundo não era adequada para potencializar pessoas para o futuro, decidi abrir uma escola'