28 de novembro de 2024
COLUNISTA

Deficiências não são castigos divinos

Por Alberto Consolaro |
| Tempo de leitura: 3 min
Professor Titular pela USP e Colunista de Ciências do JC
As mulheres, geralmente, ficam sabendo da gravidez após o início do terceiro mês

Uma vereadora disse publicamente que mulheres que têm filhos com deficiências e doenças estão pagando maldades que cometeram em suas vidas anteriores. Nem vou falar o nome e nem mesmo a cidade, pois merece o esquecimento, já que dizer tal besteira só se for para ganhar atenção ou exibir um atraso intelectual típico da idade média.

Não é verdade que aqui se faz e aqui se paga, pois a maioria dos desonestos e maldosos envelhecem impunes e quase sempre viram super-heróis familiares. Os que mais sofrem por aqui são pobres inocentes no sentido mais cruel da palavra, pois não tem dinheiro nem para comer ou nem um mínimo conhecimento sobre a dinâmica da vida.

Você consegue imaginar Deus todo poderoso e bondoso reunido lá no palácio celestial com seus assessores santificados e supercomputadores, para decidirem naquele próximo mês, quem vai nascer para ser feliz e os que sofrerão a vida toda por aqui com síndromes e anomalias. Esta cena nem é imaginável em qualquer filme de terror.

CRIANÇAS

Quando uma criança nasce com síndrome, anomalia e outras doenças, tem se uma causa ambiental e ou genética, e nem necessariamente, é hereditária. Até 250 anos atrás, quando o atraso era lamentável e generalizado, se dizia que crianças nasciam assim para pagarem penas e pecados que tiveram em vidas anteriores, e seus pais também. Hoje é impensável algum cérebro humano pensar assim, a ciência já mostrou!

Todo aquele que acredita em Jesus Cristo não pode pensar assim, pois sua doutrina prega a ressureição e que temos uma única vida. Então não tem a menor possibilidade de distúrbios e doenças em crianças, ser pagamento do que fizeram em vidas anteriores. Para a doutrina cristã não há vidas anteriores, apenas uma.

Se existir um plano celestial para voltarmos à terra como chance de melhorarmos, como acreditam espíritas e budistas, a inteligência celestial representada por Deus, daria oportunidades para se testar a compreensão, bondade, humildade, inteligência e solidariedade nas situações em que viveríamos por aqui. Estas situações, incluindo as doenças e limitações por deficiências, são consequências das escolhas que fazemos por aqui e não por imposição divina como punição. Deus não imporia deficiências na vida de ninguém.

GRÁVIDAS

Quando uma mulher fica sabendo que está grávida, quase sempre, já iniciou o terceiro mês de gestação. Até este momento se tem um embrião e as partes do corpo já tem seus componentes primitivos definidos. No início do terceiro mês, os tecidos passarão a amadurecer e ganhar capacidade funcional até o nascimento. Neste período se tem um feto e a sua forma já lembra a espécie humana. Apenas quando nasce, é que se tem uma criança acalentada nos braços dos pais.

Sem saber que estão grávidas, as mães trabalham, submetem-se a estresses psicológico e físico, medicamentos e drogas, ingerem produtos derivados do tabaco e álcool, sofrem radiações e esforços, que logicamente não fariam se soubessem da gravidez, se poupariam desde o primeiro momento. A maioria das causas dos problemas do desenvolvimento, atuam nos dois primeiros meses e repito: quando as futuras mamães ainda nem sabem que estão grávidas.

REFLEXÃO FINAL

Deus não puniu as pessoas deficientes e nem seus pais. As causas das deficiências estão no ambiente em que os humanos se oferecem uns aos outros. A idade média acabou há séculos, paremos de culpar o divino pelos nossos erros enquanto espécie dominante no planeta.