22 de dezembro de 2024
POLÍTICA

Cunhado de Suéllen contratou hacker para monitorar desafetos, aponta depoimento

Por André Fleury Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
André Fleury Moraes
O vereador Borgo (Novo) e Estela Almagro (PT) durante sessão

Um hacker que confessou ter invadido celulares de autoridades que vão desde o ministro Márcio França (PSB) até o ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos) revelou em depoimento à Polícia Civil ter sido contratado pelo cunhado da prefeita Suéllen Rosim (PSD), Walmir Henrique Vitorelli Braga, para monitorar desafetos do governo na política local em 2021.

O caso foi revelado pelo vereador Eduardo Borgo (Novo), que mostrou parte das investigações durante discurso na tribuna da Câmara de Bauru nesta segunda-feira (23) e afirmou que "a cidade precisa acordar [para o que está acontecendo]".

Os alvos da artimanha, segundo o depoimento ao qual o JC teve acesso, foram a vereadora Estela Almagro (PT) e o jornalista Nélson Itaberá, proprietário do site "Contraponto". O autor das invasões teria sido Patrick César da Silva Brito, atualmente preso na Sérvia num centro de detenção de imigrantes.

O hacker é suspeito de ter auxiliado policiais civis a invadir celulares de autoridades envolvidas na Operação Raio-X, que investigou desvio de recursos públicos em repasses de municípios a Organizações Sociais (OSs) responsáveis pela gestão de unidades de saúde e hospitais.

Seu advogado, Daniel Medeiros, confirmou ao JC o conteúdo das declarações e afirmou que o caso está sob investigação da Polícia Civil de Araçatuba.

Segundo as investigações, ele teria sido cooptado por um delegado de Araçatuba depois de invadir o celular do prefeito daquele município. O delegado teria oferecido a soltura de Patrick com a condição de que o hacker trabalhasse informalmente para a polícia. E assim foi feito, disse Brito.

No depoimento à Polícia, o hacker afirma ter encontrado Walmir por acaso. Um dos policiais envolvidos no suposto esquema de invasões ilegais a dispositivos eletrônicos, Felipe Garcia Pimenta, seria filho do padrasto de Vitorelli.

"No segundo semestre do ano passado, pelo WhatsApp, o senhor Pimenta pediu a minha autorização para fornecer o meu número de telefone celular para um contato dele, que mais tarde eu descobriria se tratar do enteado do pai dele. Eu obviamente autorizei", afirma o relato de Patrick nas mãos da Polícia Civil.

Ele ainda apontou que o telefone de Walmir estava registrado em nome de pessoa jurídica com o CNPJ do PSC, partido que a família Rosim comandava antes da migração para o PSD.

Procurado, Pimenta não confirmou e nem desmentiu o grau de parentesco - ele afirmou que não comentaria porque o inquérito está sob sigilo.

O JC insistiu na pergunta, uma vez que não há segredo de Justiça sobre relações parentais, mas a negativa se manteve.

Walmir teria se apresentado ao hacker como cunhado da prefeita de Bauru e teria dito que a mandatária estaria "inconformada com a cobertura jornalística do website Contraponto, do senhor Nélson, que também era servidor da Câmara Municipal". Além disso, relatou, a fonte de "tais matérias jornalísticas seria a senhora Estela Almagro, vereadora do PT".

As reportagens que preocupavam o governo, segundo o depoimento de Patrick, tinham relação com uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) que apurava possíveis irregularidades nos contratos entre OSs e a Secretaria de Saúde, cujo titular na época era o vice-prefeito Orlando Costa Dias. Era a chamada "CEI da Fersb".

"O senhor Walmir me pediu para que eu levantasse tudo o que eu conseguisse a respeito do Nélson e de Estela, inclusive usando de 'hacking', o que foi feito por mim", destaca o relato de Patrick.

Ele prossegue: "a pedido de Walmir, [Felipe] Pimenta pesquisou todos os Registros Digitais de Ocorrência de Nélson no intuito de encontrar algo que desabonasse a sua honra, sendo que nada foi encontrado". Ainda segundo o hacker, foram efetuados dois pagamentos pelo serviço contratado.

Procurado, Walmir não retornou às mensagens ou às ligações do JC. O cunhado da prefeita é assessor do deputado estadual Paulo Correa Júnior (PSD), cujo gabinete não atendeu ao telefonema do JC realizado na tarde desta segunda.

A Prefeitura de Bauru, por sua vez, afirmou que não vai se manifestar "uma vez que não possui relação institucional com a situação". Ainda em nota, a assessoria afirmou que "a prefeita Suéllen Rosim está em viagem, não acompanhou a sessão da Câmara e quando chegar vai se inteirar do assunto".

Ao JC, a vereadora Estela Almagro (PT) afirmou que "as denúncias mostram um modus operandi de disputa política que se assemelham ao banditismo". A petista disse ainda que pretende se reunir com o Ministério Público (MP) para solicitar o desmembramento do inquérito em trâmite em Araçatuba e que repassou o caso ao diretório estadual do PT.

"Em 2021 eu passei meses sem redes sociais após um ataque hacker. E tínhamos informações na época de que isso se tratava de uma retaliação política", prossegue.

O jornalista Nélson Itaberá, também alvo do caso, admitiu que recebeu "com tristeza" a revelação e destacou que o governo precisa esclarecer o caso. "É um ataque não apenas a mim, mas à sociedade de modo geral e especialmente à imprensa", disse. O jornalista destacou ainda que está em férias, mas que deverá pedir acesso aos autos do inquérito tão logo retorne ao trabalho.