A proliferação de macrófitas, plantas aquáticas e aguapés, na extensão do Rio Tietê, problema que se agravou ao longo do último ano, preocupa autoridades da região e gera incertezas sobre o futuro de uma das maiores hidrovias do País. Cinco mil hectares do Tietê estão tomados pelas macrófitas. A reprodução rápida da espécie é um dos fatores que contribui para a expansão das plantas aquáticas no rio. Mas não é o único: há excesso de nutrientes presentes na água, causado pelo despejamento de esgoto de municípios que não possuem tratamento e também pelo escoamento de agrotóxicos utilizados nas monoculturas próximas ao Tietê.
A situação é preocupante e mobiliza autoridades políticas, entidades não governamentais e também a concessionária AES Brasil, responsável pela hidrelétrica de Barra Bonita e também pelos serviços de turismo no trecho do Tietê na região. Integrantes desses órgãos se reuniram na manhã de quinta-feira (21) na Câmara de Barra Bonita para discutir o assunto. Eles lideram o Grupo de Trabalho (GT) Macrófitas Tietê-Paraná, montado no ano passado, para estudar exclusivamente o problema relacionado às plantas aquáticas.
A conclusão foi inevitável: a busca por recursos junto ao Governo do Estado e até mesmo o Federal, se necessário, é urgente. "Se nada for feito, podemos presenciar a maior mortandade de peixes da história do rio, que tem 15 milhões de anos", diz Hélio Palmesan, presidente da ONG Mãe Natureza.
O problema afeta toda a cadeia produtiva: do pescador aos portos hidroviários, dos motores de veículos aquáticos às turbinas da hidrelétrica que atua no local. Em última instância, o maior prejudicado desse imbróglio são os moradores do Estado, que têm 75% de sua população morando na bacia hidrográfica do Tietê.
Um levantamento preliminar do GT Macrófitas dá uma dimensão do prejuízo. O município de Barra Bonita, por exemplo, estima uma perda mensal de ao menos R$ 10 milhões em circulação no município, cujo carro-chefe é o turismo, devido aos aguapés.
Pescadores, enquanto isso, calculam um prejuízo ainda maior: a associação da classe prevê perda R$ 30 milhões por mês, valor estimado para toda a cadeia produtiva do setor.
Há o dinheiro que não entra porque a quantidade de peixes pescados caiu e o dinheiro gasto a mais em razão da maior quantidade de combustível utilizado nas navegações - os aguapés, afinal, dificultam o transporte hidroviário em dias. "Uma viagem para Minas Gerais que levava quatro dias hoje leva uma ou duas semanas", afirma Palmesan.
Há o problema relacionado à saúde pública pela proliferação de insetos e o risco à captação de água destinada à irrigação da monocultura. Há bombas de captação, por exemplo, que estão próximas à superfície e podem acabar entupidas caso suguem os aguapés.
A solução não é simples e muito menos barata. Pesquisadores do GT Macrófitas defendem uma ação radical e rápida para combater o problema. As primeiras atuações devem se voltar contra os nascedouros da espécie, que têm uma taxa de reprodução estimada em 10% ao dia, para depois iniciar a retirada dos aguapés espalhados pelo Tietê.
Há nove áreas de acumulação das macrófitas na zona de influência do reservatório Tietê de Barra Bonita, divididas numa região de 865 hectares. A erradicação delas é considerada prioritária pelo GT.
Existem dúvidas, no entanto, sobre a maneira ideal de se retirar os aguapés. A mais fácil está no uso de produtos químicos, mas não há nenhum deles aprovado no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ou pelo Ibama - muito embora tenham sido regulamentados em lei.
Tudo indica, então, que o plano de ação deva envolver tratores e colhedoras aquáticos e equipamentos de grande porte voltados exclusivamente a problemas hidroviários. A questão é o preço disso tudo.
O GT Macrófitas calcula que o investimento inicial para combater a espécie no Tietê custe R$ 165.872.727,00. Depois, haveria uma verba de R$ 415 mil para manutenção para evitar que o problema volte a acontecer. A principal aposta está no governo estadual: as autoridades planejam uma mobilização conjunta para solicitar a medida. Isso será definido dentro de algumas semanas, após a entrega do relatório final do GT.