16 de julho de 2024
COLUNISTA

Setembro é mês da Bíblia

Por Dom Caetano Ferrari |
| Tempo de leitura: 3 min
Bispo Emérito de Bauru

As Sagradas Escrituras têm como centro a pessoa de Jesus Cristo. Ir até elas é ir até um dos lugares especiais para se fazer o encontro pessoal com Jesus Cristo. Neste sentido costuma-se repetir o pensamento de São Jerônimo, o que fez a primeira tradução da Bíblia para o latim, o qual disse: "Conhecer a Bíblia é conhecer a Cristo, ignorar a Bíblia é ignorar a Cristo". Além disso, a Igreja ensina que o conhecimento e a vivência dos ensinamentos das Sagradas Escrituras levam todo o cristão e toda a comunidade a subir na escalada das virtudes e da santidade de vida. Mais ainda a Igreja ensina que a formação bíblico-doutrinal que prioriza a escuta, o conhecimento, a meditação, a oração, a vivência e o anúncio, ou seja, a "Leitura Orante da Bíblia", os conduz sempre mais à conversão pessoal e comunitária, à renovação bíblica pastoral, ao comprometimento missionário e à dedicação aos pobres e sofredores.

Com efeito, é tradição perene da Igreja que o melhor leitor da Bíblia é o "leitor orante", que aprendeu a se aproximar do texto sagrado com "espírito orante". E a melhor leitura da Bíblia é a "leitura espiritual", a que se faz com a oração, na linguagem própria do Espírito que com gemidos inefáveis intercede e ao mesmo tempo produz em favor do leitor orante o fruto do encontro vital com Deus.

Na primeira leitura da Missa deste primeiro domingo de setembro - Jr 20,7-9 - o profeta Jeremias descobre que a missão de proclamar a Palavra de Deus é um trabalho ingrato, que não é fácil denunciar os abusos religiosos e sociais de seu tempo. Percebe que a Palavra de Deus é como que um fogo ardente que o abate, mas em seguida o faz redescobrir o primeiro amor de Deus com que foi seduzido e, assim, mantém-se firme na sua vocação e missão. Esta leitura se liga ao Evangelho desta santa Missa.

Na segunda leitura da Missa - Rm 12,1-2 - São Paulo exorta os fiéis a oferecerem a Deus, como verdadeiro culto espiritual, o sacrifício de suas vidas pela rejeição dos valores mundanos e pela luta a favor dos valores do Reino de Deus.

O Evangelho da santa Missa - Mt 16,21-27 - é sequência do Evangelho do domingo passado. Lá, para recordar, Simão fez uma declaração bonita que recebeu elogio de Jesus. Ele disse a Jesus: "Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo". E Jesus não só o elogiou como lhe trocou o nome para Pedro sobre o qual prometeu construir a sua Igreja e lhe deu o "poder das chaves", de ligar e desligar na terra e no céu. No trecho de hoje, porém, Jesus anunciou aos discípulos que o seu fim será trágico, terá que sofrer muito, deverá ser morto, mas ressuscitará. Então, o mesmo Simão, agora Pedro, reagiu como porta-voz do grupo, mas, desta vez para manifestar a incompreensão diante do mistério da paixão do Senhor. Como se fizesse coisa boa ele repreendeu Jesus por causa dessas suas palavras. Jesus, contudo, voltou-se para ele e o chamou de 'satanás' porque estava se colocando como obstáculo ao cumprimento de sua missão. Jesus, então, apresentou as suas exigências e condições para quem quisesse seguir a Ele. É preciso compreender a cruz de Cristo e assumir a própria cruz. "Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la", concluiu Jesus.

A mensagem evangélica para nós é simples. Se quisermos seguir a Jesus precisamos assumir a nossa cruz do dia a dia da vida e da missão que temos que cumprir neste mundo. A leitura orante das Sagradas Escrituras nos ajudará sempre mais a compreender o mistério da vida, paixão, morte e ressurreição do Senhor e nos colocará no caminho do Reino de Deus e de sua justiça.