A transferência de dois coronéis da Polícia Militar de São Paulo, publicada na última terça (29) no Diário Oficial do Estado, gerou uma crise entre o secretário da Segurança, Guilherme Derrite, e integrantes da cúpula da corporação.
Um dos afetados pela medida é o coronel Hudson Covolan, comandante do Comando de Policiamento do Interior-4 (CPI-4), lotado em Bauru. O JC antecipou a crise no alto escalão da corporação na coluna Entrelinhas desta sexta-feira (1).
O clima é considerado tão tenso que não está descartada uma inédita debandada de nomes do coronelato, entre eles o próprio comandante-geral da PM, Cássio Araújo de Freitas.
O motivo da irritação dos oficiais não é a transferência. O problema estaria na forma como ela ocorreu, que classificam como desrespeitosa, e também por indicar uma possível perseguição pessoal.
Como informou a coluna Entrelinhas, o deputado federal Capitão Augusto (PL), policial militar reformado, afirmou que "nada justifica a transferência". Augusto encaminhou um ofício pedindo informações sobre o caso ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O descontentamento dos oficiais é amplificado pelo perfil dos coronéis transferidos, Hudson Covolan e Marcos de Paula Barreto. Ambos são considerados profissionais exemplares por colegas, e assim não haveria justificativa técnica para mudanças por "conveniência do serviço".
Em nota, o governo afirma que reconhece e valoriza o trabalho dos policiais e que vem realizando "movimentações de rotina" a partir de critérios técnicos.
Segundo oficiais, os coronéis Hudson e de Paula teriam ficado sabendo das mudanças pelo Diário Oficial.
O primeiro, que comandava a região de Bauru, foi enviado para comandar região de Osasco, a 300 km de distância. De Paula, que comandava a academia do Barro Branco, foi transferido para região de Bauru.
O motivo para tal decisão da gestão Tarcísio, dizem oficiais, seriam supostas críticas feitas por esses coronéis. Ambos teriam manifestado certa decepção com a falta de preparo de Derrite para dirigir a pasta da Segurança.
As críticas teriam chegado ao conhecimento do secretário, que, irritado, teria determinado a transferência. O comandante-geral, coronel Cássio, teria defendido a permanência dos dois colegas, pelo bom trabalho e pela possibilidade de crise.
Essas transferências estão sendo atribuídas pelo oficialato ao secretário Derrite, e não a Tarcísio, embora tenham sido assinadas pelo governador, que tem competência legal para transferir coronéis.
Procurado, o Governo de São Paulo não explicou se a decisão partiu de Tarcísio ou de Derrite nem quais foram os critérios para a transferência.
Em nota, o governo afirmou que "a gestão da Secretaria da Segurança Pública reconhece e valoriza o trabalho dos policiais paulistas".
Oficiais superiores da PM têm manifestado insatisfação com Derrite desde o anúncio de que ele fora escolhido para a pasta, no final do ano passado.
Hudson está na Polícia Militar desde 1988. Já trabalhou por três anos na Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e liderou a Força Tática na região do Capão Redondo, zona sul da capital.
A mudança de comando teve repercussão negativa entre a população e políticos de Bauru. Em novembro do ano passado, Hudson foi homenageado na Câmara Municipal pelo trabalho realizado.
Natural de Bauru, Hudson estava à frente do Comando de Policiamento da região desde 2021. No mês de julho deste ano, a região de Bauru registrou queda de 46% no número de homicídios dolosos (intencionais), de 27% no número de roubos em geral e de 14,7% no número de furtos em geral, na comparação com o mesmo período do ano passado. Procurados pela reportagem, nem Hudson nem Marcos se manifestaram.