29 de novembro de 2024
COLUNISTA

O joio e o trigo, a mostarda e o fermento

Por Dom Caetano Ferrari |
| Tempo de leitura: 4 min
Bispo Emérito de Bauru

Jesus gostava de ensinar contando parábolas. No domingo passado, ouvimos no Evangelho de São Mateus a parábola do semeador. Na sequência de Mateus, neste domingo, Jesus prossegue com suas parábolas: a do trigo e o joio, a do grão de mostarda e o fermento - Mt 13,24-43. No próprio Evangelho, Mateus explica que Jesus nada falava às multidões sem usar parábolas para cumprir profecias, como esta que ele cita tirada do Sl 77,2: "Abrirei a boca para falar em parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo". Portanto, segundo Mateus, Jesus não falava em parábolas para reservar sua compreensão aos iniciados, mas para cumprir as Escrituras. Mateus escreveu seu Evangelho para os judeus convertidos, por isso, procurava fundamentar tudo sobre Jesus nas sagradas Escrituras.

As três parábolas são chamadas de parábolas do crescimento, porque falando da plantação que cresce, querem se referir ao crescimento do reino dos céus. Aludem ao fato de que o tempo da Igreja é o tempo do crescimento. No último dia é que se dará a colheita e, então, separar-se-á o joio do trigo. Quanto à parábola do trigo e o joio, Jesus a conta e a explica. Um semeador, que é o Filho do Homem, semeia boa semente. O campo é o mundo, a boa semente são os fiéis, os filhos do Reino. O inimigo que vem à noite e semeia o joio no meio da plantação de trigo é o diabo, e o próprio joio são os maus, os filhos do maligno. A colheita é o fim do mundo, na volta de Cristo, quando se dará o acerto de contas final. Os ceifadores são os anjos. Na colheita, os maus serão exterminados e os justos recompensados. A mensagem pode ser esta. Durante a nossa vida haverá sempre a presença do joio, que não vem de Deus, mas dos adversários, dos maus. Importante é a virtude da paciência, não a precipitação de tirar logo de cara o mal no mundo; a precipitação é defeito, uma anti-virtude. Deus é paciente, que dá tempo ao tempo, inclusive ao pecador para que se converta e se salve, que faz o sol e a chuva descerem tanto sobre os bons quanto sobre os maus. Ele é a misericórdia que se alegra quando um só pecador se converte. Do lado de Deus, portanto, resplandecem a paciência e a misericórdia do Pai, e do lado dos cristãos, Ele pede que resplandeçam a paciência e a humildade. Essa é a sua vontade: "que os seus filhos alcancem a própria salvação, fazendo o bem aos irmãos e irmãs desviados do bom caminho, a fim de que se convertam".

Completando o sentido da parábola do joio e do trigo, Jesus acrescenta as parábolas da sementinha de mostarda e do fermento. Estas destacam o aspecto da humildade. O reino de Deus é como uma sementinha de nada, miúda. O fermento quase que não se vê, se mistura na farinha e parece não acrescentar nada. No entanto, a sementinha torna-se árvore grande, o que não se vê leveda toda a massa, dá-lhe sabor e a faz crescer. Assim é o reino de Deus, que cresce da humildade e se desenvolve na humildade até tornar-se grande, para a todos acolher e satisfazer. A paciência e a humildade com a misericórdia são virtudes do Reino dos Céus. Elas resplandecem em Jesus que disse: "Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso". Estas parábolas nos ensinam a ser pacientes e perseverantes como Jesus o foi. O Reino dos Céus, já presente entre nós, vai crescendo e fermentando as relações humanas. A paciência, a humildade e a misericórdia atestam que até mesmo os pequenos gestos, o bem que não se vê, mas se faz, concorrem para transformar a realidade à semelhança de uma árvore grande, frondosa e acolhedora, e de uma plantação de trigo que dá fruto à razão de cem, de sessenta e de trinta.

São Paulo apóstolo, que disse que a paciência é um dos frutos do Espírito Santo (cf. Gl 5,22), admoestava os tessalonicenses com essas palavras: "Exortamos-vos, irmãos, ... sede pacientes para com todos. Vede que ninguém retribua o mal com o mal; procurai sempre o bem uns dos outros e de todos" (1Ts 5,14-15). São Paulo, pedindo aos filipenses para buscar o mesmo sentimento de Jesus, recomendava-lhes, dizendo: "Portanto, pelo conforto que há em Cristo, pela consolação que há no amor, pela comunhão no Espírito, por toda ternura e compaixão, levai à plenitude minha alegria, pondo-vos acordes no mesmo sentimento, no mesmo amor, numa só alma, num só pensamento, nada fazendo por competição e vanglória, mas com humildade, julgando cada um os outro superiores a si mesmo, nem cuidando cada um só do que é seu, mas também do que é dos outro. Tende em vós mesmo sentimento de Cristo Jesus" (Fl 2,1-5).