28 de novembro de 2024
COLUNA

Universidades e escolas estão esvaziadas?

Por Alberto Consolaro |
| Tempo de leitura: 3 min
Professor Titular pela USP e Colunista de Ciências do JC
Se tiver uma alavanca e um apoio, sonhos impossíveis se viabilizam! Arquimedes é um sábio.

Procurei o primor e o amor na arte de ensinar desde os primeiros momentos. As aulas são muito ruins e desta forma, pareço pessimista e não sou. Corrigindo: as aulas são extremamente ruins.

Os talentos, sonhos e vocações determinam as escolhas de cada jovem para uma determinada área do conhecimento. Parece óbvio que as melhores escolas e carreiras são escolhidas pelos mais preparados sobre esses aspectos.

Muitas escolhas de compras de carros e outros objetos caros como computadores e máquinas são determinadas pela forma que o sistema pós-venda é avaliado pelos que já compraram. Se você não usa este critério és um sério candidato a ficar sem nada na hora que mais precisa de quem te vendeu o produto ou do fabricante.

Os conscientes do seu talento, sonho e vocação irão compatibilizar suas escolhas de acordo com o pós-venda, digo pós-vida de formado daquela carreira e escola escolhida. Isto inclui condições de trabalho, salários, valorização social e até como é o final de carreira depois de muitos anos de dedicação.

Como um estimulador de pessoas na vida universitária, participei singelamente da escolha de tema de uma dissertação. Dois anos depois, a convite, participei da avaliação final desta dissertação de mestrado em pedagogia de uma universidade estadual, em que se avaliou qual a razão da pessoa ter escolhido este curso para seguir na carreira de professor de crianças e jovens.

As pessoas que escolhem ser professor como meio de vida e realização pessoal não o fazem por talento, sonho ou vocação. A maioria escolhe porque é barato, tem vaga, tempo menor de formatura e porque tem na sociedade, ainda, um mínimo de reconhecimento. Muitos escolhem esta carreira de professor por falta de outra opção, um quase “é o que sobrou”.

Esta descrição que fiz foi de um ambiente de formação de professores para o ensino primário e médio. Na carreira universitária é a mesma coisa, exceto nas áreas de sucesso social, profissional e financeiro explícito na mídia. Nas áreas de humanas, há um desânimo geral nas universidades esvaziadas.

SONHO POSSÍVEL

Se o neoliberalismo ou o socialismo, não importa, quiserem educação e universidade de qualidade pulsante com pesquisas significantes, a valorização dos professores se faz necessário. O jovem que optar ser professor tem que saber que ganhará tão bem quanto os profissionais que ajudam a formar e ser competentes.

Se assim acontecer, os talentos, sonhos e vocações voltarão a escolher a docência como arte de viver, modo de vida digna financeira e social. Um professor, em qualquer nível, não pode ganhar 10 a 20% do que ganha um advogado e juiz que o formou. O mestre não pode ganhar 10 a 20% do que ganha o médico e o dentista que treinou e aprendeu a partir de suas aulas e treinamentos. É tão óbvio, mas será que seria necessário um projeto de lei para fazer esta paridade de professor com as demais carreiras?

Nas universidades e nas escolas devem voltar a circular muita gente, mas antes disto, deve ser povoada por professores vocacionados, talentosos, sonhadores, felizes e entusiasmados. Se um professor não for aquele que se sinta o ser humano mais importante enquanto está ensinando, não terá tecnologia, metodologia, simpatia e competência que o fará estimular o conhecimento pleno e consciente em seus pupilos.

Se não for assim, as aulas, na quase totalidade, continuarão sendo ruins e as universidades esvaziadas cada vez mais, infelizmente. Aos que quiserem ver como é isto, humilde e singelamente, o convido para participar de uma aula em que atuarei como Professor! Eu sei como é, pois procurei sempre “ser o Professor” para meus amados Alunos. Só isso e, se quiserem, podem me dar só uma lousa e giz.

REFLEXÃO FINAL

A paixão induz a busca incessante. Arquimedes dizia “me dê uma alavanca e um ponto de apoio, que eu movimento o mundo”. Eu ouso parafraseá-lo pensando: “me dê uma paixão, que viabilizarei qualquer sonho que lhe pareça impossível”. Vamos mudar?