16 de dezembro de 2025
ENTREVISTA

Tecnologia em mãos femininas

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Arquivo pessoal
Melissa durante edição do Mind the Gap, programa do Google que busca despertar o interesse de mulheres para a área de tecnologia

Representante da terceira geração, em sua família, de egressos do Colégio Técnico Industrial Professor Isaac Portal Roldán (CTI), Melissa Motoki Nogueira, 21 anos, já acumula as primeiras conquistas no ramo da computação. Mas, ciente de que este é só o começo, pretende ir além e, se possível, inspirar cada vez mais meninas a seguirem carreira na área, ainda dominada por homens.

Aluna do 4.º ano do curso de Ciências da Computação no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC/USP), em São Carlos, ela e mais cinco estudantes ficaram em 1.º lugar no German-Brazilian EdTech Hackathon 2023, realizado em maio no Instituto Goethe, em São Paulo. Por conta do resultado, o grupo foi convidado a apresentar, em três universidades alemãs, o projeto vencedor, o SignLink, aplicativo que permite a comunicação e o intercâmbio entre pessoas surdas alemãs e brasileiras.

Nascida em Assis, Melissa mudou-se para Bauru ainda na infância, devido ao trabalho do pai, Ricardo, que atua como técnico de arquivos do Centrinho. Filha da professora Leila e irmã mais velha de Mayara, ela vive hoje em São Carlos, mas, periodicamente, retorna à "Cidade Sem Limites" para visitar a família.

Nesta entrevista, a jovem relembra os caminhos trilhados até decidir atuar com computação, dá detalhes sobre o aplicativo que une inclusão, educação e tecnologia e revela o desejo de se tornar uma referência feminina na área.

JC - Foi na infância que identificou alguma inclinação para área de computação?

Melissa - Quando entrei no CTI, optei por fazer o ensino técnico em informática. Foi quando passei a ter contato com computação, linguagem de programação e comecei a ter interesse. Como meu pai gosta de jogos, de Internet, desde criança eu peguei este hábito dele. Ele e meu avô também cursaram o CTI. E, além de mim, minha irmã também acabou fazendo o técnico em informática.

JC - E o CTI é bastante concorrido. No ensino fundamental, você já era uma estudante aplicada?

Melissa - As pessoas sempre disseram que eu tinha bom desempenho. E, mesmo estudando em escola particular, foram muitas horas de preparação para prestar o CTI, inclusive fazendo cursinho específico para a prova, junto com o último ano do ensino fundamental. Sempre estudei bastante porque vi um sentido para isso. Além disso, tive bons professores no fundamental e no CTI e estudar nunca teve uma carga negativa.

JC - Como foi o processo de descoberta deste universo da computação, no CTI?

Melissa - Descobri que a área de programação era totalmente diferente do que eu imaginava. Mas só fui trabalhar com isso pela primeira vez no último ano, quando fui fazer estágio. Como gostava muito de programação web, desenvolvi um projeto pelo Pibic Jr (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica a estudantes do ensino médio). Nele, trabalhei com o professor Carlos Roberto Grandini, da Faculdade de Ciências da Unesp, para desenvolver uma página mais atual e moderna do Laboratório de Anelasticidade e Biomateriais da unidade.

JC - Agora, no 4.º ano da graduação em ciências da computação, já sabe em que segmento pretende seguir carreira?


Melissa - A área de programação é muito ampla e abre margem para o profissional seguir por vários caminhos, que estou explorando diariamente. Mas, no curso e em palestras, tem se falado muito sobre inteligência artificial. Também tem a ciência de dados, que, atualmente, é a área mais ampla e rentável da computação, porque todas as aplicações que as pessoas usam, como Google e redes sociais, coletam nossos dados. E o cientista de dados é responsável por captar, estudar e utilizar estes dados para a tomada de decisões das empresas. É uma área em que tenho bastante interesse. Acho que é possível seguir nela e atuar em outras ao mesmo tempo.

 

JC - Você, junto com um grupo de alunos, venceu um concurso por desenvolver um aplicativo para permitir a comunicação entre pessoas surdas alemãs e brasileiras. Conte um pouco sobre esta experiência.


Melissa - No Hackathon, tivemos que desenvolver, em três dias, uma proposta tecnológica voltada à educação. Formamos um grupo de seis alunos, sendo três do ICMC da USP de São Carlos - incluindo o Pedro Kenzo, que também é de Bauru e cursou o CTI comigo -, dois da USP de Ribeirão Preto e um da Universidade Federal de Juiz de Fora. Criamos um aplicativo, o SignLink, que permite pessoas surdas da Alemanha e do Brasil que usam língua de sinais troquem conhecimento, por meio da tradução simultânea de texto português para o alemão e vice-versa. Agora, a intenção é captar recursos ou interesse de universidades para promover este intercâmbio.

 

JC - E, agora, vocês foram convidados para apresentar este aplicativo em universidades da Alemanha. Isso já tem data para ocorrer?


Melissa - A data limite para fazer esta visita é maio do ano que vem e estamos fazendo uma vakinha (www.vakinha.com.br/vaquinha/signlink-in-germany) para arrecadar dinheiro para a viagem. Por termos vencido o prêmio, ganhamos 2 mil euros, mas este valor seria suficiente para levar uma ou duas pessoas, no máximo. Nosso objetivo é que os seis tenham esta oportunidade e estamos batalhando por isso.

 

JC - Da sua equipe, só você é mulher e imagino que, no seu curso, os homens sejam maioria. É um desejo seu inspirar outras meninas a construir carreira nesta área?


Melissa - Quando eu entrei no curso, em 2020, tinha mais aluno chamado Pedro do que mulheres. O número de estudantes do sexo feminino está aumentando, mas a grande maioria ainda é homem. No ICMC, há vários projetos para ensinar meninas jovens, do ensino fundamental, que elas podem ter espaço na área de tecnologia. Da mesma forma, as empresas têm essa preocupação em contratar mais talentos femininos. E quanto mais mulheres trabalharem na área, mais meninas se sentirão estimuladas a fazer o mesmo. É um ciclo e, neste sentido, com certeza, gostaria de me tornar uma referência para muitas delas.

 Melissa e equipe que venceu o German-Brazilian EdTech Hackathon 2023. Foto: Arquivo Pessoal