Basta o inverno se aproximar para os ipês desabrocharem, como se desejassem boas-vindas à nova estação, que começa na quarta-feira da semana que vem, dia 21. Muitos dos que circulam por Bauru já se encantam com a exuberância da espécie, em vários pontos da cidade. Mas suas flores, neste ano, perderam, mais uma vez, a ordem natural de coloração. Até recentemente, a sequência era iniciada pela cor rosa, conhecida popularmente também como roxa, seguida pela amarela e, por fim, a branca. A falta de padrão pode significar uma ameaça a esse tipo de árvore.
O alerta é do diretor do Jardim Botânico de Bauru, Luiz Carlos de Almeida Neto, segundo quem o fenômeno tem se tornado comum nos últimos anos, possivelmente por conta das intensas variações dos índices pluviométricos e do aumento das temperaturas que a região enfrenta, resultado das mudanças climáticas. Para ele, porém, o fato de o inverno não ser mais uma estação bem definida colabora para que cores distintas desabrochem ao mesmo tempo. "Ontem, por exemplo, eu estava andando pela avenida Getúlio Vargas, no final da rotatória, ao lado da Polícia Federal, e tinha um ipê branco, ali, com flor. Então isso [a desordenação de cores] está se repetindo. O que significa que esta época do ano [outono] não está bem definida", avalia. E complementa: "Então, não há mais um padrão".
O diretor reitera: embora isso não represente muita coisa em um curto período, em longo prazo pode significar uma ameaça a esse tipo de árvore, assim como para todas as outras vegetações. "Houve anos em que todas as cores floresceram ao mesmo tempo. Isso pode parecer bonito para nós, com tudo colorido, mas a falta de padrão vai confundindo os estímulos da planta para a sua época normal de florescimento", explica.
Na região, o verão é chuvoso e o inverno seco e frio. As temperaturas mais baixas, no entanto, têm se tornado cada vez mais raras no município, sendo que a mínima do mês de junho alcançou 12,4 graus, acompanhada de elevado índice de amplitude térmica, de acordo com o IPMet. Esse fator pode influenciar o fenômeno de coloração dos ipês.
Conforme o JC já veiculou, a 'cidade lanche' está a caminho para ser também a cidade dos ipês, em virtude da alta preferência dos bauruenses pela árvore e da facilidade de adaptação que a espécie alcançou no município. Título que, todavia, ainda não pode ser utilizado na opinião do diretor do Jardim Botânico, haja vista a elevada presença de ipês em outras cidades do País.