Para algo ser científico, deve ser público e atingir o maior número de pessoas. A sociedade paga aos pesquisadores para gerar conhecimento e divulgar ao maior número de pessoas. A sociedade tem que se beneficiar com acesso fácil destas informações Se ficar isolado em um canto imperceptível da internet, a informação vale apenas para os autores mostrarem a parentes e amigos.
As agências financiadoras de pesquisa como CNPq e Fapesp não valorizavam os trabalhos de pesquisadores que se dedicavam à divulgação científica voltada para a sociedade. Hoje, isto é muito valorizado nas avaliações, até para financiamento de novas pesquisas, e tende a ser cada vez mais. Um trabalho de divulgação é um relatório à sociedade do que já se foi feito.
Um conhecimento científico não deve ser escondido atrás de palavras difíceis com gráficos e tabelas que ninguém entende. Um amigo dizia: se quiser parecer inteligente, fale sobre genética e estatística. Ninguém vai entender nada, mas vão achar que você é um “crânio”, e todos sabemos que não é bem assim! E se for em outro idioma, fica perfeita a enganação. Os mais críticos vão dizer: ele pensa que engana a gente!
ALINHADORES DE DENTES
Esta semana foi amplamente divulgada a cura completa de um paciente com câncer por reprogramação dos linfócitos T do próprio paciente. Em laboratório, eles reaprenderam a reconhecer e destruir as células malignas. Foi notícia em todos os portais, jornais e revistas. Foi uma demonstração da ciência publicando seus resultados muito antes de aparecer nas publicações científicas. Essa já é a tônica de cada dia. Os dados científicos são publicados e explicados muito antes do que nas revistas científicas, quase ao vivo e isso é fantástico.
As revistas serão muito mais um repositório científico aos poucos interessados. Nos portais, jornais e revistas comuns cada vez mais se têm notícias de ciência. Que bom que seja assim, tudo transparente para que toda a sociedade possa saciar suas necessidades, curiosidades e compreender por que se financia pesquisas.
Um profissional me consultou, pois estava preocupado porque os alinhadores de dentes (aquelas placas transparentes para pequenos movimentos dentários), não movimentavam significantemente os dentes em mulheres grávidas. Ele havia observado isto em algumas pacientes e queria saber por quê.
Como fiz pesquisas para explicar os movimentos com aparelhos ortodônticos em grávidas, notei que no começo do tratamento, a movimentação era mais lenta, pois o conteúdo de líquidos é maior e amortece as forças leves, até que os tecidos sejam comprimidos de fato. Por extrapolação, fica mais fácil explicar por que nos alinhadores, a movimentação não fica tão evidente quanto as obtidas em mulheres não grávidas, pois eles usam essas forças mais leves. As forças primeiro deslocam os líquidos e só depois, irão comprimir os tecidos periodontais.
Eu disse a ele que explicaria isto, proximamente, em uma revista científica. Imediatamente ele disse: - não Professor por favor, me fale agora, tenho alguns especializandos e estágiários e já quero passar esta informação supernova!
REFLEXÃO FINAL
Pesquisa hoje é assim, as pessoas têm pressa, ninguém quer esperar explicações que sairiam na revista científica ainda a ser publicada, como antigamente. As pessoas querem saber, quase online na mídia, os resultados, aplicações e explicações. Expliquei a ele, que já passou para a frente e nem deu tempo de sair antes aqui no jornal, imagine se eu só explicasse quando escrevesse em uma revista científica: demoraria alguns meses a mais.