"Vodka brasileira orgânica, Jerez Fino, xarope artesanal de flores de lavanda, licor artesanal de sabugueiro e Club Soda". A junção de diferentes elementos como estes para compor coquetéis especiais é, atualmente, a principal forma de expressão artística da bauruense Gabriela Morandi Paveloski, de 27 anos. Não é à toa que o drink em questão, apontado como um de seus favoritos, foi nomeado por ela como "Acalma a alma".
Além de bartender e especialista do universo de bebidas alcoólicas, ela é uma das sócias-proprietárias da Mofo Bar de Queijos, inaugurada em novembro de 2021, na Vila Altinópolis, em Bauru. O estabelecimento, com paredes em tons de rosa e mobiliado com móveis antigos garimpados, atualiza quinzenalmente seu cardápio, também mudando, claro, algumas opções de drinks. Reflexo da personalidade autodeclarada "sazonal" da artista de sabores.
A paixão pela criação de coquetéis também fez com que a bauruense descobrisse uma segunda vocação: a de cozinheira. A habilidade dela é tanta que, recentemente, participou da seleção da 10.ª temporada de um dos maiores reality shows gastronômicos, o MasterChef Brasil.
Parte do lado artístico e gastronômico da bartender foi herdada da mãe Érica, de 53 anos, que é professora universitária, chef e proprietária do restaurante Orango Mango, e do pai Sandro, de 55 anos, que é jornalista, profissional de web analytics e musicista. Ela é irmã da Giovanna, de 24 anos, e do Miguel, de 6.
Junto com o namorado, o engenheiro agrônomo Flávio Rocha, de 35 anos, Gabriela também trabalha para aprimorar o sítio onde eles moram, em Piratininga, para que o local fique, em breve, cheio de plantas, flores, alimentos e animais, e seja autossustentável. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Jornal da Cidade - Conte um pouco sobre o início da sua vida profissional.
Gabriela Morandi Paveloski - Nasci e cresci em Bauru. Cheguei a fazer um ano de design e um ano de moda na USC (atual Unisagrado), mas não era o que queria. Me mudei para São Paulo com 19 anos para trabalhar com maquiagem. Até cheguei a fazer trabalhos grandes, como a maquiagem da equipe da Ludmilla no clipe de "Cheguei" e um editorial para a Vogue, como assistente. Mas também não gostava tanto, achava o universo superficial e não ganhava dinheiro.
JC - Como chegou ao mundo das cervejas artesanais?
Gabriela - Ganhei uma bolsa para um curso de sommelier de cerveja, no Senac. Foi nele que percebi que queria mudar de área. Consegui um emprego em um bar de São Paulo, primeiro como garçonete e, depois, como gerente. Nessa época, participei de vários eventos e conheci muita gente legal, mas continuei estudando. Acredito que, quando temos dinheiro e disponibilidade, temos que estudar. Claro que todo dia aprendemos algo novo, mas aprender com um professor é mais especial.
JC - E aos coquetéis?
Gabriela - Fiz um curso de bartender, também no Senac. Nele, aprendi o básico sobre coquetéis. Mas foi na prática que me apaixonei por poder criar infinitos drinks com as mais variadas combinações de ingredientes. Hoje, os drinks são a minha arte. É por meio dessas criações que consigo expressar meu lado artístico e como estou me sentindo.
JC - Por que decidiu voltar para Bauru?
Gabriela - Com as restrições da pandemia, o bar que eu trabalhava fechou e me vi sozinha. Então, voltei para Bauru e consegui um emprego. Fui morar em uma edícula no quintal da casa da minha mãe. Aqui, fiz um curso à distância, onde precisei criar três pratos do zero para harmonizar com cervejas. Eu já cozinhava no dia a dia, mas nada demais. Foi a primeira vez que criei algo do zero. Assim, começou o meu gosto por cozinhar.
JC - Gostou tanto que chegou ao MasterChef, né (risos)?
Gabriela - Pois é. Eu e minha mãe conversamos muito sobre tudo, e ela sempre gostou de cozinhar, fazer receitas inovadoras. Para você ter ideia, ela fez um curso de aproveitamento integral de alimentos em 2005 e fazia doce de casca de abacaxi. Ela também estudou gastronomia e virou professora do curso na faculdade, e atualmente tem o restaurante. Então, sempre tive contato. Até que surgiu a ideia de nos inscrevermos no MasterChef, Eu no de amadores, e ela, no de profissionais (a seleção ainda está em andamento). Fui chamada e acabei eliminada (o episódio foi ao ar na última terça-feira). Mas saí com muito mérito, porque o próprio chef Erick Jacquin disse que a éclair da minha prova era difícil até para um profissional. Mas foi uma experiência incrível, que aprendi muito. Nunca imaginei a Helena Rizzo elogiando minha pavlova!
JC - E a Mofo, surgiu como?
Gabriela - Na pandemia, conheci meu namorado, Flávio, e a Clara, que hoje é minha sócia. Juntamos o meu conhecimento com bebidas e gastronomia, o do Flávio com queijos e o da Clara, que estava entrando no mundo das bebidas também, para abrir um bar e naturalmente surgiu a Mofo. Nós três também contamos com a Carol hoje, nossa funcionária. Oferecemos majoritariamente produtos brasileiros de origem artesanal e sustentável, fabricados em Bauru ou perto daqui. Estamos sempre atualizando nosso cardápio, com diferentes drinques, tipos de cerveja artesanal e de vinhos. Essa mudança constante, a sazonalidade, o fluxo, coisas fluidas, fazem parte de quem eu sou e a Mofo tem muito disso. Aqui, estamos encontrando pessoas que se identificam com isso.
JC - Tem algum sonho que você ainda gostaria de realizar?
Gabriela - Gostaria de ter uma cozinha grande na Mofo, que hoje é enxuta. Também espero um dia produzir o suficiente no nosso sítio para abastecer o bar e o restaurante da minha mãe, e também fazer com que a propriedade seja autossustentável. Começamos há quase um ano e vamos aos poucos. Atualmente, já conseguimos nos abastecer com ervas, flores comestíveis e hortaliças, que até vendemos para alguns clientes. Mas queremos, no futuro, ter nosso queijo, nossas frutas, até nosso adubo. Então, digo que meu sonho, hoje, está em andamento, pois posso trabalhar e solidificar as coisas que eu acredito, com base nos meus ideais e na minha formação. Sinto que comecei a escrever a história significativa da minha vida nos últimos cinco anos. Minha dica de vida é: monetize seus hobbies (risos).
O QUE DIZ A EMPRESÁRIA
"Por meio dessas criações que consigo expressar meu lado artístico"
"Acredito que, quando temos dinheiro e disponibilidade, temos que estudar"
"Mudança constante, sazonalidade, coisas fluidas, fazem parte de quem eu sou"