27 de julho de 2024
COLUNISTA

A Transfiguração do Filho Amado

Por Dom Caetano Ferrari - Bispo Emérito de Bauru |
| Tempo de leitura: 3 min

Neste segundo domingo da Quaresma a liturgia nos apresenta o Evangelho da transfiguração de Jesus - Mt 17,1-9, Ano A - a fim de nos encorajar na caminhada quaresmal rumo à Páscoa. No alto de uma montanha Jesus transfigurou-se diante de Pedro, Tiago e João. Seu rosto brilhou como o sol e suas vestes ficaram brancas como a luz. Apareceram ao lado de Jesus, Moisés e Elias os quais conversavam com Ele, certamente sobre o que aconteceria com Jesus em Jerusalém, sua morte e ressurreição. De uma nuvem saiu uma voz que dizia: "Este é o meu Filho Amado, no qual Eu pus todo meu agrado. Escutai-o!". É o que ouvimos neste trecho evangélico ora lido na santa Missa.

Depois de anunciar aos apóstolos por mais de uma vez a tragédia da cruz que lhe aguardava, Jesus transfigurou-se diante deles para encorajá-los a permanecerem firmes e afastarem todo medo e pessimismo, porque a sua morte na cruz não seria o fim do sonho do Reino que veio propor e do projeto de salvação do Pai que veio realizar. Pelo contrário, a cruz levaria à glória, a paixão se transformaria em vitória, a morte em ressurreição e vida plena, divina, eterna e feliz para todos e para sempre. Os apóstolos sentiram-se na presença de Deus Pai e reconheceram a Jesus como o Filho Amado do Pai. Sentiram que era muito bom estarem ali naquele momento. Por isso, prostraram-se com o rosto em terra. Tanto assim que Pedro queria construir três tendas: uma para Jesus, uma para Moisés e outra para Elias. Esqueciam-se de que a verdadeira tenda de Deus entre os homens era o próprio Jesus.

Então, Jesus disse aos três apóstolos prostados ao chão quando se transfigurou revelando a sua glória: "Levantai-vos e não tenhais medo". A lição de Jesus precisava ficar clara aos apóstolos, isto e, o caminho da cruz é a passagem obrigatória para a ressurreição.

Também para nós, agora, a leitura do Evangelho da transfiguração no começo da Quaresma deve nos animar na caminhada para a Páscoa quanto ainda na caminhada de toda a nossa vida neste mundo rumo à casa do Pai. Necessárias e indispensáveis devem ser a fé, esperança e caridade. Como aconteceu com Jesus também acontecerá conosco. Precisamos abraçar toda a nossa vida com tudo o que acontece, com fé e amor. Sem a fé e o amor será impossível tomar a cruz de cada dia e seguir a Jesus como seu discípulo e missionário corajoso e audaz.

Também em nossa vida cristã, como comunidade eclesial, acontecem estes momentos de Tabor: na reunião da assembléia de fé, na escuta da Palavra de Deus, na celebração da Eucaristia e em outros tantos momentos. Estes momentos nos fortalecem para que possamos descer o monte Tabor com Cristo e segui-lo pelas planícies da vida cotidiana no seu seguimento ao monte do Calvário, o qual por sua vez, como cremos firmemente, se transfigurará para sentirmos a presença de Deus Pai e reconhecermos a Jesus como o seu Filho Amado. Que a nossa penitência quaresmal abra nossos corações aos que sofrem com a fome, repartindo nosso pão com os que tem fome, como nos pede a Campanha da Fraternidade deste ano.