13 de julho de 2025
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ENTREVISTA

Roberto Franceschetti Filho: 'Minha missão é manter o legado da dona Olga'

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Arquivo Pessoal
Capa da Notícia
Roberto Franceschetti Filho: vocação para o cuidado com pessoas com deficiência

Nesta semana, Roberto Franceschetti Filho, 34 anos, completa nove meses à frente da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Bauru, entidade presidida por quase quatro décadas pela lendária Olga Bicudo, falecida no Natal de 2019. Dedicada não apenas à melhoria da qualidade de saúde de pessoas com deficiência, a instituição também atua nas áreas de assistência social e educação, atendendo, mensalmente, cerca de 4 mil indivíduos de toda a região.

Desde 11 de abril de 2022, dia do seu aniversário, Franceschetti comanda uma equipe de 315 profissionais, que atuam em oito unidades espalhadas pela cidade. "O impacto que a Apae causa na vida das pessoas é muito grande. E vejo nos olhos delas a gratidão por conseguirem uma melhor qualidade de vida, evolução que se dá com a contribuição das nossas equipes", celebra.

Nascido em Bauru, Franceschetti passou a infância e adolescência em Ubirajara, retornando à 'Cidade Sem Limites' para cursar Educação Física. Depois, formou-se em Pedagogia, trabalhou por alguns anos no Lar Escola Rafael Maurício, até ser convidado por dona Olga para atuar na Apae.

Caseiro, ele aproveita as horas de folga para ficar com a esposa, a professora Jeruza Franceschetti, que conheceu em 2007 no Rafael Maurício, e os filhos Luiza, 9 anos, e Pedro, 3 anos. Nesta entrevista, Franceschetti conta como descobriu sua vocação para o cuidado com pessoas com deficiência, relembra momentos marcantes dentro da Apae e relata como tomou para si a missão de honrar o legado deixado pela "eterna presidente" da entidade.

Jornal da Cidade - Como foi sua infância?

Roberto Franceschetti Filho - Tinha um ano quando fui morar com minha família em Ubirajara, cidade de 4 mil habitantes. Foi uma infância de subir em árvores, brincar na rua até tarde. Estudei até o ensino médio lá e, aos 17 anos, voltei a Bauru para cursar Educação Física, em 2006, porque queria ser professor. Como meus pais tinham poucos recursos financeiros, fui trabalhar no programa Escola da Família, no Geisel, aos fins de semana, para ganhar bolsa e pagar a faculdade.

JC - E como se interessou pelo cuidado com pessoas com deficiência?

Franceschetti - Foi em 2007, quando ainda estava cursando Educação Física. Na época, não sabia o que era pessoa com deficiência, mas precisava trabalhar para ter renda. Vi no JC que havia uma vaga no Rafael Maurício, fiz o processo seletivo e passei como monitor. Eu era muito tímido, tinha vergonha de falar com as pessoas, mas comecei a desenvolver essa habilidade de me comunicar. Depois de dois anos, quando terminei a faculdade, me tornei professor na instituição.

JC - Quando surgiu a oportunidade de trabalhar na Apae?

Franceschetti - Fui fazer Pedagogia, porque queria ser diretor escolar, já pensando em trabalhar com gestão. Fiz, também, duas pós-graduações em Educação Especial. Em 2010, quando estava com 22 anos, me tornei coordenador técnico do Rafael Maurício, mas, em março de 2011, o lar fechou. Então, a dona Olga me convidou para coordenar as residências inclusivas da Apae, onde ficariam 18 pessoas que estavam no lar. Inicialmente, era apenas uma casa. Hoje, temos três.

JC - Em que momento você se tornou o 'braço direito' da dona Olga?

Franceschetti - Fiquei na coordenação das residências inclusivas até 2018. Estava exausto, porque é uma função que você exerce 24 horas por dia. Perdi muitos almoços em família no Natal e Ano Novo para levar alguém ao médico, atender uma demanda imprevista. Naquela época, o serviço era novo, havia muito a ser melhorado. Já hoje, temos uma equipe multidisciplinar completa. Eu disse para a dona Olga que iria sair e ela me chamou para ser coordenador-geral, o gestor financeiro, técnico e administrativo da Apae. Fiquei dois meses sem dormir, porque o desafio era enorme, principalmente diante da escassez de recursos públicos.

JC - Foi o período em que ficou mais próximo dela?

Franceschetti - Sim. A dona Olga me ensinou muito sobre como fazer gestão. Eu a representei diversas vezes onde ela já não conseguia ir com frequência, devido à idade. Ela faleceu no Natal de 2019 e continuei na mesma função até abril de 2022, quando, no meu aniversário, dia 11, assumi a presidência, com o compromisso de dar continuidade ao trabalho que ela desenvolveu durante 40 anos. Eu sempre falo que a eterna presidente da Apae é a dona Olga. Minha missão é honrar o legado que ela deixou, uma forma tradicional de gestão, além de manter e aprimorar os projetos desenvolvidos pela instituição.

JC - Mesmo sendo jovem, consegue pensar e agir dessa forma mais tradicional?

Franceschetti - Eu penso de forma mais antiga. Não tive uma adolescência e início de fase adulta de festas. Comecei a trabalhar com 18 anos por necessidade e não parei mais, o que fez com que eu amadurecesse mais cedo. E a Apae tem 57 anos, então, até a linguagem do nosso marketing precisa estar alinhada a terminologias mais tradicionais.

JC - Tem alguma história que mais te marcou nestes 11 anos de Apae?

Franceschetti - São várias. Há uns três meses, por exemplo, um senhor me parou na rua para contar que colabora financeiramente com a Apae há mais de 40 anos e que nunca imaginava que, um dia, iria precisar da instituição. Ele teve um AVC, recebeu encaminhamento para a reabilitação e ficou seis meses sob os cuidados da nossa equipe. Outro caso recente foi de uma menina de 12 anos que estava no carro com a família na Bauru-Jaú e uma pessoa atravessou a rodovia. O pai foi desviar e o veículo capotou. Ela fraturou a vértebra e não movimenta mais as pernas e os braços. O sonho dessa menina era dançar valsa com o pai ao completar 15 anos e a equipe da Apae confeccionou um colete para dar sustentabilidade a ela. No dia do aniversário, os profissionais foram até a festa para dar apoio e ela conseguiu dançar sozinha com o pai. São exemplos que mostram que a Apae é um serviço de 'padrão SUS plus', fortemente humanizado, e de que, um dia, todos nós poderemos precisar. E é muito gratificante poder ajudar e mudar a vida de tantas pessoas.