14 de dezembro de 2025
CADÊ O ÔNIBUS?

Atrasos, horários a menos e muita reclamação: a rotina de quem depende de ônibus

Por Felipe Pereira | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 4 min
Luis Eduardo de Sousa/Sampi Campinas
Esperar ônibus em Campinas é um exercício de paciência -- que muita gente já cansou de fazer

Toda vez que a balconista Lucilene Maria de Jesus, que mora no Jardim Nossa Senhora Aparecida, região do Ouro Verde, vai até o ponto de ônibus, nunca sabe o que esperar. Ônibus quebrado, atrasado, ou que simplesmente não aparece. Essas situações já aconteceram mais de uma vez com a jovem.

"É um misto de raiva com frustração, sabe? Já teve dias que eu vim para o ponto tendo a certeza que perdia o ônibus, mas ele tava tão atrasado que ainda consegui pegar. Considerei sorte, só que como já fiquei tanto tempo esperando algumas vezes, me deixa indignada", reclama.

Ela pega o ônibus da linha 111, que liga o Jardim Aeronave II ao Terminal Ouro Verde, por volta de 8h25. E bota "por volta" nisso.

O horário de saída do coletivo do terminal é 8h13, segundo tabela da Emdec. De acordo com cálculos feitos em mapas pela reportagem, deveria demorar, no máximo, 30 minutos para chegar ao ponto que fica na Avenida Petrona Recalde. Ou seja, dependendo das condições do trânsito e mesmo do ônibus, o horário previsto para a passagem pode ser de 8h25 até 8h33, considerando que o atraso mínimo aceitável pelo sistema de transporte campineiro é de 5 minutos (o mesmo tempo para adiantamento).

Só que... "o dia que saí atrasada, por exemplo, ele passou 8h37. Mas já vi ele passando mais cedo. Tem horas que dá vontade de jogar uma pedra", disse, mas ressaltando que jamais faria isso -- "senão aí é que não tem ônibus mesmo", complementou rapidamente.

A Emdec tem um Núcleo de Monitoramento de Transporte, criado a partir da implantação do GPS nos veículos, há cerca de três anos. Um site mostra as estatísticas do transporte, e os números que são considerados aceitáveis.

No momento em que este texto foi escrito, o sistema apontava, até às 10h, 20% de partidas adiantadas (considerado número excessivo pelo próprio medidor) e 3% de atrasos (dentro da média esperada, de até 5%). Porém, os dados após às 10h não foram atualizados devido a um problema no servidor.

E quando o horário simplesmente 'desaparece'?
Mwnnyra Yahanna Lourenço Barreto, que trabalha como auxiliar administrativo de uma loja no Shopping Iguatemi, também se irrita diariamente. Antes, ela pegava o ônibus que saía 11h15 do Terminal Ouro Verde, mas, de uns tempos para cá, o horário foi retirado. Ela tem que pegar um veículo às 10h50 para chegar ao centro de compras, e ainda ficar 'enrolando' para dar o horário de entrada no serviço.

"Ou ir para o centro e pegar a linha 385, que tem mais horários. Mas, é uma dor de cabeça enorme. Podia ir direto, sem ficar fazendo baldeação", conta.

Ela credita a mudança na tabela horária às férias escolares. No site da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas, a última alteração feita na linha 125 foi em 9 de novembro, portanto antes do período de recesso.

Campinas tem um hábito, de muitos anos, de retirar de 5% a 10% da frota nos períodos de recesso escolar, aumentando significativamente o intervalo das linhas, e provocando superlotação desnecessária nos coletivos, já que existe um sistema de transporte escolar para as unidades municipais, e a quantidade de alunos de escolas estaduais e universidades não cai tanto. Há exceções, claro, como na Unicamp e PUCC I, onde há, sim, redução importante na movimentação de passageiros.

Só que, no caso da linha 125, esse argumento é falho, já que os usuários trabalham no shopping -- que está até com horários estendidos durante o fim de ano.

"Esses horários de férias são horríveis. O pessoal da Emdec acha que só aluno é quem pega ônibus? Eu, por exemplo, saio às 20h do serviço e o ônibus só sai 20h50. Poderia estar até chegando em casa com esse intervalo", compara. "Ranço me resume", finaliza.

O que diz a Emdec?
A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas afirma que há duas frentes de atuação na fiscalização do transporte: rotina e via denúncias. "Constatada alguma falha na operação, os veículos são autuados por viagens não realizadas, antecipação ou atrasos, observando a tolerância de cinco minutos. Em situações em que são constatadas falta de um veículo para realizar a viagem prevista, a empresa é acionada para imediata reposição", informa.

Já sobre a linha 125, a autarquia afirma que houve um ajuste de itinerário no dia 15 de novembro, e que a alteração dos horários foi de fato na semana anterior, conforme registrado no site.

Finalmente, a empresa deposita todas as esperanças na licitação que foi lançada nesta terça-feira, 20. Diz que as tecnologias vão permitir que os problemas de atrasos e superlotação de linhas possam ser resolvidas de forma mais ágil do que atualmente.