Com 29 anos, Eduarda Macedo Marques já é um exemplo de superação. Diagnosticada com um câncer de língua em meados de 2020, ela lutou por quase um ano contra a doença, no meio de uma pandemia, em um momento em que ainda não havia vacina disponível contra a Covid-19.
Forçada a um isolamento rígido e ouvindo de alguns médicos que a recuperação das funções de fala e deglutição poderia não se concretizar, Eduarda enfrentou o medo da morte e de eventuais sequelas e decidiu encarar a ameaça com 100% de certeza de sua cura. Com o apoio dos pais, José Augusto e Luciana, bem como do irmão Felipe, superou o período de incertezas, venceu a batalha contra o câncer e, para coroar o momento, abriu uma loja física de roupas e acessórios na zona sul de Bauru, a MM Store, que ela já mantinha há alguns anos de forma online.
O negócio deu tão certo que, após um ano de atendimento presencial, a empresária já faz planos de se mudar para um espaço maior. "Meu objetivo é continuar crescendo profissionalmente e, o mais importante, com saúde", diz. Nesta entrevista, Eduarda relata sua jornada contra o câncer, fala sobre o gosto por viagens, o amor pela família e como a vitória contra a doença fez com que ela ressignificasse toda sua vida. Leia, abaixo, os principais trechos.
JC - Como você descobriu o câncer?
Eduarda - Foi em junho de 2020. Eu tinha uma afta na língua que não sarava e que se tornou uma lesão mais profunda. Passei a sentir muita dor e fui ao médico. Fiz todos os exames de sangue imagináveis e estava tudo normal. Então, foi feita uma biópsia, que detectou o carcinoma. Nessa hora, perdi o chão. Meu primeiro médico falou que eu faria fonoterapia para recuperar a fala e a capacidade de ingerir alimentos sólidos, mas que não resolveria muita coisa, porque eu teria de fazer cirurgia e perderia 60% da língua. Chegou a dizer que talvez eu não conseguisse mais falar e que poderia só me alimentar por sonda.
JC - E de que forma este diagnóstico impactou você?
Eduarda - Resolvi ir a vários médicos, até adquirir confiança. Uma oncologista disse que, com o tratamento, o tamanho do câncer seria reduzido em mais de 80% e, então, faria cirurgia. Fiz três ciclos de quimioterapia e, na primeira sessão, o carcinoma diminuiu pela metade. Antes da cirurgia, disseram que seria necessário fazer um enxerto na língua, tirando pele do punho. Acabei consultando outro especialista, que descartou esta necessidade e ainda disse que eu falaria e me alimentaria normalmente. Fiz a cirurgia no início de janeiro de 2021 e, depois, 36 sessões de radioterapia.
JC - O que te debilitou mais, fisicamente falando?
Eduarda - O pós-operatório é bem ruim, porque dói e fiquei dois meses sem comer, só ingerindo suplemento líquido. E as sessões de radioterapia e quimioterapia me destruíram. A rádio queima tudo por dentro e tive muita afta, mucosite (lesões na boca e garganta), além de anemia e queda de plaquetas. E toda esta debilidade se deu no meio de uma pandemia, o que exigiu que eu fizesse um isolamento rígido. Mas, depois, minha recuperação foi excelente. Encerrei meu tratamento em 3 de maio de 2021 e esta passou a ser a data do meu segundo nascimento.
JC - Em algum momento, achou que não sobreviveria ou sempre manteve a esperança?
Eduarda - Quando recebi a notícia, achei que iria morrer. Fiquei uns três dias bem mal, mas recebi muito apoio da minha família. Entendi que Deus não dá uma cruz mais pesada do que a gente consegue carregar. Mesmo passando por altos e baixos durante o processo, decidi enfrentar a doença tendo a certeza da minha cura.
JC - O câncer ressignificou algo na sua vida?
Eduarda - Foi o momento mais difícil da minha vida e, hoje, sou outra pessoa. Antes, dava muita importância a pequenos problemas, como ter de acordar cedo com sono ou em um dia frio. Era reclamona. Agora, todos os dias, acordo e agradeço por esta minha segunda chance e tento conscientizar outras pessoas de que elas devem reclamar menos da vida. Além disso, estou muito mais disciplinada com alimentação e atividades físicas. Acordo de segunda a sexta às 4h, treino na academia das 5h às 6h e, depois, vou trabalhar. Só dou uma relaxada aos fins de semana.
JC - O que gosta de fazer nas horas vagas?
Eduarda - Ir em barzinhos com amigos, fazer churrasco em família e viajar. Já fui para a Disney, em Orlando (EUA), além de conhecer outras cidades dos Estados Unidos, como Miami, São Francisco, Los Angeles, Las Vegas. Já fui para a Jamaica, que tem uma paisagem perfeita. Já no Brasil, minhas viagens preferidas foram para Jericoacoara (CE) e Salvador (BA). São oportunidades de adquirir novas experiências de vida, conhecer pessoas e guardar memórias.
JC - Você já tinha sua loja antes de ficar doente?
Eduarda - Sim. Tenho a loja online há seis anos. Antes, tinha trabalhado com meus pais, que atuam na área de elaboração de licitações, mas sempre gostei de moda. Eu tinha medo, mas minha mãe me incentivou e abri a loja online. Porém, tive de parar quando fiquei doente e, depois de me recuperar, abri a loja física, que completou um ano. Sempre tive a ajuda dos meus pais e, até hoje, minha mãe é responsável pela contabilidade da empresa. Hoje, estou com duas funcionárias, além de ter uma modelo que posa toda semana para as fotos que publico nas redes sociais. E eu mesma, que sou formada em design gráfico, faço as artes para postar. Ter uma loja física é uma grande responsabilidade, algo bastante desafiador.
JC - Pelo visto, seus pais são seus grandes pilares...
Eduarda - Eles sempre foram muito acolhedores. Minha família, aliás, sempre foi muito unida. Eles foram fundamentais durante todo o meu tratamento contra o câncer, tanto emocionalmente quanto financeiramente, porque eu parei de trabalhar. Não foi fácil para mim e também para eles. Meus pais são minhas maiores referências.