DO GROOVE DE CASA AOS PALCOS DO MUNDO
Ainda na infância, enquanto aprendia a andar e falar, Marquinhos Amaral já tinha contato com diversos tipos de instrumento. Nas festas de fundo de quintal da família, que sempre foi muito musical, o hoje cantor e compositor bauruense, idealizador do 'projeto de um homem só' Mixdgroove, se encantou pela explosão de sentimentos que esta arte pode proporcionar.
Empenhado em fazer dela sua profissão, mudou-se para São Paulo, onde seguiu dedicado aos estudos e ao trabalho como músico, até começar a fazer shows com seu primo Rodriguinho, ex-vocalista do grupo Os Travessos, e com o filho do cantor famoso, Gaab.
Recentemente, Marquinhos, 33 anos, embarcou para a Europa, onde se apresentou com voz e violão em bares de cinco países, incluindo no repertório composições próprias, que misturam soul music com MPB, lançadas recentemente no álbum "Aconteceu". "A música me move desde criança e fico feliz em poder, hoje, espalhar coisas boas às pessoas", diz.
Filho único da professora aposentada Mírian e do profissional de sistemas de informação Antônio Carlos, já falecido, o artista conta, nesta entrevista, um pouco sobre a infância na Vila Falcão e sobre como se tornou um multi-instrumentista completamente fascinado pelo que faz. Leia, abaixo, os principais trechos.
JC - De onde veio o interesse pela música?
Marquinhos - Minhas duas avós gostavam de cantar. Tinha muita festa de família em fundo de quintal, cada um tocando um instrumento. Meu pai sempre cantou e tocou teclado na igreja e minha mãe cantava com ele. Meu primeiro instrumento foi bateria, daquelas próprias para crianças. Como meu pai também tocava violão, comecei a aprender com ele e, com dez anos, entrei na banda da igreja. Em casa, tocava dia e noite. Só mais para frente fui descobrir que poderia cantar.
JC - Que momento foi esse?
Marquinhos - Fui vocalista de uma banda de rock aos 14 anos, mas não pensava em levar aquilo a sério. Do lado da família da minha mãe, eu tinha primos mais velhos que integravam bandas de rock. Já o lado do meu pai era mais do samba. O rock sempre esteve presente, mas gosto de uma mistura de estilos. Tanto é que, quando fui estudar guitarra, com uns 16 anos, segui mais para o caminho do jazz e da MPB.
JC - Quais gêneros musicais você mais gosta e quais são suas maiores influências?
Marquinhos - Sempre gostei muito de jazz, MPB. Minha maior influência, com certeza, é Djavan, mas também gosto de Tim Maia, Ed Motta, Caetano Veloso, Gilberto Gil e, entre os internacionais, Michael Jackson, Steve Wonder. Música black, soul music sempre foram influências muito fortes para mim. Então, as músicas que componho acabam sendo um misto de MPB com soul music.
JC - Com quantos anos você decidiu sair de Bauru?
Marquinhos - Terminei o ensino médio e o curso de inglês e, com 19 anos, fui para São Paulo para continuar estudando música. Já tinha decidido que não haveria outro caminho profissional a não ser este.
JC - Você, aliás, tem um primo famoso: o Rodriguinho, ex-vocalista do grupo Os Travessos...
Marquinhos - O fato de ele morar em São Paulo contribuiu para a decisão de me mudar para lá, por ser um artista conhecido, que poderia abrir algumas portas. E foi o que aconteceu. Hoje, trabalhamos juntos no projeto Legado, liderado por ele, o filho Gaab e o irmão, Mr. Dan. Eu toco violão no grupo. E também toco na banda do Gaab, que faz uma mistura de trap com R&B. E faço shows sozinho, pela Mixdgroove, nos horários livres.
JC - Você também se apresentou em países da Europa. Como foi essa experiência?
Marquinhos - Fui pela primeira vez em 2018, a convite de um amigo, mas ainda não tinha meu trabalho autoral. Fui para tocar canções da MPB. Nesta viagem, vi o quanto a música brasileira é valorizada e tive o start de começar a desenvolver meu trabalho. Fui tocar em um bar de brasileiros em Madri e todo mundo parou para assistir. Foi muito legal e importante. Voltei para o Brasil e comecei a tocar com o Gaab, então, minha agenda ficou apertada. Aí, veio a pandemia, quando tudo parou, e comecei a desenvolver as letras, pensar que tipo de som e mensagem eu gostaria de passar. Hoje, tenho umas quinze músicas compostas, sendo sete já gravadas.
JC - E como foi essa experiência?
Marquinhos - Foi uma surpresa, porque consegui atingir o resultado que eu estava esperando, musicalmente falando. Sou uma pessoa autocrítica, mas fiquei muito feliz. Fiz toda a composição, arranjo. E, além da voz, gravei o violão e a guitarra de todas as músicas.
JC - Você voltou para a Europa recentemente. Em quantos países se apresentou?
Marquinhos - Voltei de lá há umas três semanas. Fiquei 40 dias. Fui para o casamento do meu amigo que mora lá, mas aproveitei para procurar alguns lugares, onde tenho outros amigos, para visitá-los e fazer shows, já com músicas minhas no repertório. Toquei em Paris, na França, em dois lugares; em Groningen, na Holanda; em Londres, na Inglaterra; Galway, na Irlanda; e Barcelona e Madrid, na Espanha. Nem todos os locais eram frequentados por brasileiros. Na Holanda, um grupo de pessoas de Cabo Verde, por também falar português, me disse que foi um conforto poder ouvir um pouco de música brasileira, um sentimento de estar mais perto de casa.
JC - Como se sente ao proporcionar esse tipo de emoção?
Marquinhos - A música me move desde criança e fico feliz em poder, hoje, espalhar coisas boas às pessoas. A música provoca vários sentimentos, marcam fases da vida. É incrível. Sou muito fã do Djavan e fui, recentemente, a um show dele. Saí de lá pensando que, se eu conseguir, um dia, com minha música, proporcionar a alguém 1% do que senti naquela ocasião, minha missão estará cumprida.
O QUE DIZ O ARTISTA
'Com 19 anos, fui para São Paulo para continuar estudando música. Já tinha decidido que não haveria outro caminho profissional'
'Um grupo de pessoas de Cabo Verde, por também falar português, me disse que foi um conforto poder ouvir música brasileira'
'A música me move desde criança e fico feliz em poder, hoje, espalhar coisas boas às pessoas'