18 de dezembro de 2025
Geral

Patrimônio histórico

Adriana Rota
| Tempo de leitura: 4 min

Praça Rui Barbosa completa 85 anos hoje e pede socorro

85 anos da praça Rui Barbosa levanta questionamento sobre patrimônio cultural

Texto: Adriana Rota

Nesta segunda-feira, a conhecida praça Rui Barbosa, localizada no centro da cidade, estará completando 85 anos de idade. A data é oportuna para um questionamento sobre o destino do patrimônio histórico de Bauru, segundo o historiador e agente cultural da Secretaria de Cultura Roberto Milanda Chinalha, 32 anos. A configuração atual da praça é fruto de diversas reformas que, para Chinalha, causaram sua descaracterização. "Problemas com drogas, marginais e prostituição, fazem parte do processo histórico atual. Em qualquer praça, em qualquer época, isso ocorre. O fator econômico

é predominante. Agora, tirando esse contexto social, o que temos de perceber, enquanto cidadãos bauruenses, é que estamos perdendo nossa memória", considerou.

Da década de 80 para cá, acredita o historiador, a descaracterização começou a ficar mais violenta, decorrência de um avanço econômico muito rápido que resultou na construção de diversas obras arquitetônicas modernas. "Acho fantásticas as inovações, mas falta ter consciência para buscar em cidades como São Paulo, Minas Gerais, Bahia a experiência necessária".

O estudioso, apaixonado pela história local, afirmou que existem grupos, como alguns estudantes de arquitetura da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que se preocupam com a preservação do patrimônio. Disse, ainda, que hoje não existe uma política nesse sentido, como houve até 1996, quando o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Bauru (Condepac), foi desativado.

"Nessa época existiam 32 processos de tombamento, a maior parte de prédios da área central, nas mãos do prefeito da época, Tidei de Lima, que não foram colocados em prática", contou. "Como sempre, a cultura foi delegada a último plano".

O tombamento, explicou, significa a não descaracterização da fachada do prédio. Quanto ao seu interior, ele pode ser adaptado pelo ocupante do imóvel. Para Chinalha, a retomada do prédio da Prefeitura, por exemplo, é uma forma de preservar. O entrevistado acredita que Bauru tem um potencial arquitetônico que poderia atrair muitos turistas para a cidade, além do potencial humano, fartamente encontrado nas faculdades daqui, que contam com cursos de Turismo, Jornalismo, Arquitetura, Administração de Empresas, Engenharia Civil, dentre outros. "Bauru não possui atrativos naturais, mas a parte turística só tem de ser lapidada".

Chinalha acha que os alunos não têm lugar para aplicar o que vêem na sala de aula, ficando praticamente no nível da teoria, mas mostrou, também, que a administração municipal está se mostrando aberta para algumas mudanças. Um exemplo foi o acordo firmado numa reunião entre alunos, professores, a vereadora Majô Jandreice, o secretário de Obras Leandro Joaquim e o prefeito Nilson Costa, que determinou um espaço para os alunos fazerem uma espécie de estágio, através de assessoria, no que se refere

à arquitetura da cidade.

Questionado sobre quem deveria empunhar a bandeira da preservação do patrimônio, o historiador respondeu que vários seguimentos da sociedade deveriam empenhar-se numa reformulação dessa política.

"Poderia ser criado um espaço ou mesmo um conselho, não de fachada, mas atuante, dentro da Universidade, da comunidade e da municipalidade", finalizou.

Praça "pede" ajuda

Inaugurada a 12 de abril de 1914, durante o governo do prefeito Manoel Bento Cruz, a praça Rui Barbosa somente ganhou esse nome em 1923, como forma de homenagear o baiano Rui Barbosa, falecido neste ano. O busto do político foi colocado no local em 1994.

A princípio, o espaço era conhecido como Largo da Matriz, isso em 1896, quando ainda era uma área povoada por plantas e aves silvestres.

Um atentado à vida do presidente da República Prudente de Morais, em novembro de 1897, mudou novamente o nome da Praça. Isso, devido a um ato de bravura do ministro de Guerra, marechal Bittencourt, que levou uma apunhalada de um soldado, para defender o presidente. A partir daí, a nova denominação passou a ser praça Marechal Bittencourt.

Em 1913, o então prefeito Manoel Bento Cruz tinha a proposta de transformar a praça num Jardim Público. Mas encontrou problemas, já que a velha capela que se encontrava em frente à Câmara estava ameaçada de ruir, totalmente fora de alinhamento, ocupando parte da rua Batista de Carvalho. Ela acabou sendo demolida. Com isso o terreno - que pertencia ao Bispado de Botucatu, cidade a qual Bauru era subordinada - foi desapropriado e transformado em jardim. O responsável pela obra foi o engenheiro Heitor de Andrade Campos, que buscou inspiração na praça da República de São Paulo.

Na década de 40 foi realizada a primeira reforma na Praça, durante a gestão do prefeito Ernesto Monte, com o plantio de diversas árvores. A segunda, na década de 60, feita por Irineu Bastos, ampliou as ruas e alargou espaço em frente ao coreto. Daí seguiram-se várias outras intervenções, a mais recente, de 1992. O coreto foi a única coisa que sobreviveu do projeto inicial e, ainda assim, sofre com o descaso.

A praça, que serviu por muito tempo de ponto de encontro e reunião de conjuntos musicais, principalmente a banda do antigo 4.º Batalhão de Caçadores, hoje 4.º Batalhão da Polícia Militar do Interior

(BPM-I), foi e continua sendo palco de inúmeras atividades culturais, políticas, musicais, religiosas e de comércio. Por essas e outras, merece um pouco mais de atenção.