O homem sempre quis saber o que lhe reserva o futuro. Várias práticas foram criadas ao longo da História, muitas caíram por terra, outras sobreviveram ao tempo e entraram com força no terceiro milênio. É o caso da quiromancia, da qual originou-se a quirologia. Na sociedade moderna, porém, a leitura das mãos ganhou uma função bem mais importante: a detecção de doenças
Entre os monges tibetanos, saudar uma pessoa esticando os braços com as palmas das mãos voltadas para cima, é considerado um gesto quase sagrado. Afinal, acreditam, as mãos revelam integralmente a pessoa, sua verdadeira essência.
Há relatos que entre as mais antigas civilizações existia a preocupação em se prever o futuro; achados arqueológicos comprovaram ser a quiromancia um dos principais métodos utilizados. Hoje, mais do que prever o futuro, a leitura das mãos é bastante utilizada para detectar padrões comportamentais e até eventuais doenças.
Para os povos da Antigüidade, a mão cumpria seu papel de intermediária entre o homem e o céu e entre o homem e os espíritos do inferno. No Egito, China e Índia, a quiromancia já era praticada desde 4.000 a.C.. Também em tratados da Grécia antiga, observa-se citações referentes à prática, que passou a ser difundida com mais amplitude após a invasão dos templos da Índia.
Entretanto, não se pode afirmar ao certo onde a quiromancia teria se originado. A tradição mística prega que a prática foi criada na Índia, e integrava o Anga Vidya - uma possibilidade de prever o futuro por meio da análise de partes do corpo, especialmente pés e mãos, cujas bases eram os Shariraka Shastra e o Samudrika Shastra, textos védicos sagrados. Buda (nascido em 563 a.C.) teria deixado que os profetas analisassem seus pés para constatar sua elevação espiritual. Costume ainda hoje típico entre os quirólogos hindus, assim como ler as mãos dos bebês para verificar seus talentos e dificuldades na vida que se inicia.
A quiromancia chegou ao Ocidente pelas mãos de Alexandre Magno. Segundo os historiadores, ele não saía para uma batalha sem antes consultar uma quiróloga particular. Outros nomes expressivos da História também se deixaram levar pelos encantos da arte. De reis a rainhas, de intelectuais a plebeus. Mesmo porque, se a técnica adivinhatória é algo milenar a curiosidade é característica intrínseca do homem.
Entre os famosos consulentes, destacam-se, por exemplo, o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.), o médico grego Hipócrates (450-355 a.C.) e o cientista Isaac Newton (1642-1727).
Fortuna e perseguição
Por dominarem a arte da leitura das mãos, os ciganos da Europa fizeram fortuna, tornaram-se muito conhecidos e acabaram sendo contratados pelo imperador Sigismundo (1368-1437) para trabalhar como espiões durante o Sacro-Império Romano-Germânico. Depois da morte deste imperador, a Igreja Católica, numa tentativa de combater esta incômoda fama dos ciganos, passou a associar a quiromancia a poderes diabólicos. O resultado foi muita perseguição e a proibição da leitura das mãos em vários países da Europa.
Entretanto, no início do século 19 o quadro já havia mudado totalmente. Consultar um quirólogo era considerado sofisticado e claro, personalidades da alta-sociedade, intelectuais e políticos não hesitavam em fazê-lo. Napoleão Bonaparte e os escritores franceses Honoré de Balzac e Alexandre Dumas estavam entre estes consulentes. Em pouco tempo, a quiromancia chegou aos consultórios médicos.
A partir disso, conceitos novos foram ganhando terreno. Assim, deve-se esclarecer a diferença entre alguns termos relacionados ao tema. O mais popular é quiromancia, que quer dizer: quiro = mão e mancia = adivinhação, portanto, adivinhação através das mãos. Já a quirologia, com uma proposta totalmente diferente significa: quiro = mãos e logia = estudo, ou o estudo ou o conhecimento obtido através da análise das linhas, dos montes e dos sinais das mãos de maneira global. A quirologia pode ser dividida em partes, dependendo do enfoque da sua leitura. Ao analisar a aparência das mãos (dedos, unhas, formatos, tamanhos...), estamos praticando a quirognomonia, que significa fisionomia, ou seja, estudo da fisionomia das mãos, observa Sônia Regina Pinheiro, autora de Quirologia Aprenda a Ler Sua Mão.
De acordo com Sônia, que estuda o assunto há mais de 20 anos, atualmente a quirologia compreende os seguintes segmentos:
Quirosofia: ramo filosófico da quirologia que estuda os seus princípios, leis e normas;
Quirodiagnóstico: estuda o caráter e temperamento do homem;
Quirografia: técnica e arte de se obter boas cópias gráficas das mãos;
Quirometria: estudo especializado em medir no tempo os acontecimentos vividos e sua correspondente localização nas mãos;
Quiropatia: estuda a constituição orgânica e suas predisposições a doenças.
Das tendas ciganas para os consultórios
O primeiro trabalho médico publicado sobre o assunto foi o do checo Dr. Purkinje, em 1823. Foi ele quem concluiu que não existiam no mundo duas pessoas com as mesmas impressões digitais. Várias outras análises inéditas se seguiram a esta, como a dos médicos Francis Carus, sobre variações raciais; e a de Carl Gustaf Carus, sobre o formato das mãos; e da psicóloga Charlotte Wolff (1897-1944), que abordava o caráter humano. Mais recentemente, na década de 90, Alexander Rodewald, médico da Universidade de Munique, na Alemanha, desenvolveu uma técnica baseada na análise das mãos com a ajuda de um microscópio eletrônico.
O processo foi rapidamente adotado em muitas instituições, pois, segundo os especialistas, pode apontar com 80% de precisão as probabilidades de um bebê desenvolver no decorrer da vida doenças como o câncer, diabetes, disfunções cardíacas, leucemia e distúrbios mentais.