07 de dezembro de 2025
Geral

Os 15 minutos de fama

(*) Fernando José Dias da Silva
| Tempo de leitura: 3 min

A primeira vez foi como o marginal que ele apareceu. A segunda foi como o vingador. Para o homem que queria ser rei, este segundo papel é a coroação de uma curta vida dentro da Sociedade do Espetáculo. Onde a uns é dado o papel de usufruir com luxúria e avareza de todos os prazeres proporcionados pela riqueza. E a outros é dada a função de apenas observar. Fernando Dutra Pinto imaginou que poderia alterar os papéis de forma radical. Ele não quis participar da festa, nem que fosse sem convite, nem que fosse de penetra. Ele quis ser o personagem principal da festa, ultrapassar o fosso que separa o mundo das delícias e o mundo real, num passe de mágica. E conseguiu. É uma estrela. São raras estas histórias. Mas elas acontecem. Pessoas que aparecem do nada e surpreendem a todos pela ousadia dos seus atos. Com Timothy McVeigh também foi assim. Quis também toda a publicidade, toda a ira da sociedade norte-americana voltada sobre ele. Até o momento em que recebeu a injeção que o matou jamais se arrependeu, jamais pediu desculpas aos familiares das suas vítimas. Foi também um homem que queria ser rei. Dizia odiar o governo. Mas existem muitas pessoas que odeiam o governo e não cometem tal desatino. Aí entra o alerta incômodo do escritor Gore Vidal: por que não foram analisadas as outras hipóteses desta história americana? Vidal imagina que McVeigh pode ter sido apenas um idiota útil, que tão logo detido, assumiu toda a glória para si mesmo e assim abriu mão da vida.

O que estaria passando pela cabeça de Fernando Dutra Pinto ao voltar à cena do crime? Ódio puro e simples pelo fato de toda a sua operação perfeita ter dado com os burros n água. Ou a vontade de entrar para a história, como McVeigh, através não só do feito hediondo, mas da postura sobre o seu feito. Sem arrependimento, sem nenhuma concessão aos sentimentos dos comuns - como arrependimento, vergonha. Fernando Dutra Pinto tinha tudo para ser mais um jovem daquele imenso batalhão que vive nos bairros de classe média baixa das grandes cidades. Chegou até a fazer vestibular para o curso de Direito, mas desistiu porque não tinha dinheiro.

Matou a sangue frio dois policiais. Teria telefonado para a casa de Silvio Santos ameaçando de novo a família. Escapou do maior cerco policial dos últimos tempos. Virou um monstro. É um monstro. Só isso? Passada a comoção, todos irão voltar para os seus cuidados. Os mais criativos podem optar por outras soluções. Caetano Veloso é um deles. Roubaram o seu violão de estimação, por isso ele vai votar em Lula e ler Mangabeira Unger.

O próprio Silvio Santos tem como alternativa se mudar para Miami, colocar um batalhão cercando a sua família, dobrar a altura dos muros da sua casa. Mas será que os seus programas na televisão também vão mostrar alguma diferença? Ou o estilo quem quer dinheeeirooo ! continuará. Um dinheiro que é oferecido virtualmente, que não pode ser obtido, mas que os mais pobres de espírito imaginam real. São os brioches imaginários, no estilo Maria Antonieta, que o populismo virtual oferece. Então voltamos ao Estado Espetáculo onde todas as pessoas terão os seus 15 minutos de celebridade, ou então os seus 15 minutos de execração.

(*) Fernando José Dias da Silva é articulista da Agência Estado