Orientar a política econômica no sentido de se promover o crescimento do produto interno pode comprometer a estabilidade monetária conquistada com tanto sacrifício nos últimos sete anos no Brasil? A resposta é definitivamente não. O desenvolvimento econômico brasileiro passou por fases distintas e que, naturalmente, alcançaram seus limites. Em cada uma dessas fases históricas, foram superados obstáculos existentes de forma seqüencial atingindo-se metas e objetivos estratégicos para o País. Assim foi com o estatismo-desenvolvimentista da era Vargas, com o modelo cepalino autárquico/substitutivo de importações da era Kubitschek, com a internacionalização econômica e a consolidação da infra-estrutura física nacional baseada no tripé estado/setor privado/capitais externos do período militar, e finalmente com a política saneadora e estabilizadora da nova era econômica global, do Plano Real.
Cada uma dessas etapas atingiu seus objetivos e metas estratégicas, e da mesma forma, cada uma delas atingiu seus limites, impondo a necessidade de identificação de novos rumos e de novos paradigmas de política econômica para sucedê-las. O Plano Real legou ao Brasil uma economia mais moderna, estável, organizada, e saneada pela remoção dos esqueletos e pela limpeza da sujeira depositada sob os tapetes. A estabilidade é uma conquista que já foi incorporada aos valores da sociedade brasileira, ainda que há poucos anos, no auge da hiperinflação, fosse julgada inatingível.
Não há como negar que a sociedade brasileira pagou um preço alto por esta conquista. Foram períodos de desemprego, de queda na produção, de deterioração nos mais importantes indicadores sociais. Contudo, nota-se a aproximação de uma importante descontinuidade histórica. Consolidadas as conquistas do Plano Real, chegou a hora da repartir benefícios, ao invés de sacrifícios. É o momento de acumular forças e energia e de dar início à era do crescimento econômico. É hora de reformular pensamentos com vistas ao investimento, à produção, ao fortalecimento do mercado interno e à conquista do mercado mundial.
É preciso acreditar que a dívida líquida do setor público, que de R$ 60 bilhões em 1994 passou a mais de R$ 600 bilhões em 2001, só deixará de ser uma ameaça no momento em que a taxa de crescimento econômico reduzir a dívida como proporção do PIB. Somente o crescimento econômico fará com que o passivo líquido externo brasileiro, de mais de 70% do PIB, deixe de ser uma ameaça à balança de pagamentos, e que faça com que o pagamento de juros e as remessas de lucro não sejam vistos como fatores impeditivos ao equilíbrio e como fatores predisponentes à inadimplência externa do País. Em resumo, é chegado o momento de uma reversão de rumos. Não se trata de uma opção entre crescimento e estabilidade, mas sim do reconhecimento da necessidade de superação de uma fase histórica que atinge seu esgotamento.
(*) Marcos Cintra é deputado federal pelo PFL/SP.