A desigualdade social contribui para a violência, mas não é seu fator essencial. A avaliação é dos policiais Antônio Ângelo Ciocca e Eliseu Eclair Teixeira Borges e da psicóloga Vera da Rocha Resende.
A desigualdade social influi na marginalidade, mas é uma mentira dizer que todos os pobres são marginais. A grande maioria é ordeira, essa é a regra. A desobediência, o atrevimento é feito por uma minoria. Não podemos agir de forma violenta com a população em virtude de atos isolados, afirma Antônio Ângelo Ciocca, delegado seccional de Bauru.
O coronel Eliseu Eclair Teixeira Borges, comandante do 4.º BPM I, compartilha a opinião de que a pobreza não é fator preponderante para a delinqüência. Isto não pode ser dito porque a maioria pobre é honesta. Há parcelas de delinqüentes em todas as classes sociais. A violência é gerada por uma série de fatores, que envolve desde a própria revolta adolescente até a ambição, a formação familiar, argumenta.
Muitos desses fatores, diz o coronel Eclair, levam alguns jovens a querer encurtar caminhos. Antes, aprendíamos que para se ter algum sucesso na vida era preciso estudar, trabalhar. Hoje, as pessoas querem pegar atalhos, muitos dos quais não são ideais, diz.
A inversão de valores também é vista pela psicóloga Vera da Rocha Resende como uma das principais causas da violência. Hoje, a riqueza não é colocada como um bem a ser produzido, mas como um bem a ser encontrado. Nessa inversão de valores, a riqueza pode ser encontrada no auditório de Sílvio Santos ou na loteria, com a qual o próprio governo colabora, critica.
Segundo Vera, a inversão de valores está refletida na própria descrença da população pelas instituições (veja matéria na página 11) e nos depoimentos dados recentemente pelos envolvidos no seqüestro de Patrícia Abravanel, filha do empresário e apresentador Sílvio Santos.
Dizer, como fizeram Luciana e Tatiana, que planejaram um seqüestro ou foram envolvidas a participar de um seqüestro porque estavam decepcionadas com a sociedade é um desrespeito à maioria pobre, que está vivendo honestamente, lutando por dias melhores, opina a psicóloga.