07 de dezembro de 2025
Geral

A BUSCA ETERNA POR JUSTIÇA

Antonio Pedroso Júnior
| Tempo de leitura: 3 min

Em 20 de Janeiro de 1949, ferroviários da então Companhia Paulista de Estrada de Ferro paralisaram suas atividades em busca de melhores salários, denunciando que percebiam salários de fome e sem aumento há quatro anos em decorrência da crise do pós- guerra. Histórico se torna que nas chamadas épocas de crise quem paga o pato é a classe trabalhadora. Porém, nesta greve, reprimida com violência pela polícia, que utilizou-se de metralhadoras e fuzis na vã tentativa de fazerem os trabalhadores retornarem ao trabalho, o saldo negativo mais uma vez ficou nas costas da classe trabalhadora.

Diversos ferroviários foram demitidos e condenados à prisão sob a acusação de liderarem o movimento paredista. Considerou o juiz de Direito da época que mais perigosas que as armas da polícia eram as idéias marxistas dos réus.

A Constituição Federal de 1988, no artigo oitavo das Disposições Transitórias, estabelece que estes ferroviários estão anistiados. Dentre os poucos que conseguiram sobreviver encontra-se ELIAS CALIXTO BITTAR, que exercia as funções de rádiotelegrafista.

Hoje, aos oitenta e dois anos de idade, conseguiu com que o então governador Mário Covas declarasse publicamente sua anistia, após parecer da Procuradoria Geral do Estado emanado pelo sr. procurador José Damião de Lima Trindade.

Ora, a Constituição é clara ao afirmar que o cidadão ou é reintegrado ao serviço ou é aposentado. Nada disto aconteceu com Elias Calixto Bittar. A Companhia Paulista foi encampada pelo Governo do Estado, transformou-se em FEPASA e esta foi privatizada, entretanto, o ônus de pagamento de aposentados e pensionistas ficou para o Governo do Estado de São Paulo. Nada mais justo de que o governo que anistiou o perseguido político o aposente garantindo-lhe os direitos pecuniários perdidos em decorrência da militância sindical. Entretanto, quando se trata de beneficiar trabalhadores perseguidos o governo tucano faz ouvidos moucos, sendo certo que após sua declaração de Anistia, ELIAS CALIXTO BITTAR protocolou pedido de reintegração e aposentadoria junto à Assessoria Técnica do governador e, hoje, decorridos dois anos, nada de concreto foi formalizado.

Será que aguardam este velho combatente das causas populares falecer para posteriormente reintegrá-lo in-memorian e prestar significativa e emocionante homenagem, esquecendo-se de que em vida este companheiro passou por dificuldades financeiras para lograr sobreviver. Em um país onde o mais terrível dos criminosos não pode permanecer mais que trinta anos recluso, inconcebível se torna que um dirigente sindical amargue as dores de uma injusta perseguição durante 52 longos e intermináveis anos.

Lanço um apelo público para que esta situação seja denunciada e levada ao conhecimento da Procuradoria Geral e ao Governador de São Paulo, em uma última e derradeira tentativa de ser feita Justiça a este lutador das causas populares. Era registrado como rádio- telegrafista de 2ª, sob o número 62.075 e seu prontuário encontra-se arquivado na Fepasa em Jundiaí, tendo sido declarado anistiado pelo governador em 26 de março de 1999, conforme publicação no Diário Oficial, na secção Atos do Governador.

Antecipadamente, agradeço a atenção do companheiro, inclusive na divulgação desta situação, colocando-me à disposição para maiores esclarecimentos. Recuperar a história dos heróis anônimos da classe trabalhadora, inclusive restabelecendo os seus direitos arbitrariamente retirados, é um dever de todo democrata. (Antonio Pedroso Júnior - e-mail ChineloNeles@aol.com)