07 de dezembro de 2025
Geral

O mundo não será o mesmo

(*) Arnaldo Jardim
| Tempo de leitura: 3 min

Os atentados terroristas às instituições americanas talvez caracterizem aquilo que um analista denominou o 1.º dia do século XXI .... Isso que pode até parecer eloqüente e exagerado é indicativo do que se sucederá ao fatídico dia 11 de setembro de 2001, quando terroristas suicidas seqüestraram grandes aviões, arremessando-os contra as torres gêmeas do World Trade Center e o Pentágono, respectivamente, símbolos do poder econômico e militar dos Estados Unidos da América.

Essa tragédia que se abateu sobre o povo americano atinge o coração de toda a humanidade e estará registrada na história como um marco de transformações profundas no planeta. A partir desse fato será erigida uma nova ordem mundial, cujos rumos estarão condicionados à identificação dos responsáveis pelo atentado e ao grau de retaliação a ser desencadeado pelo governo americano, num processo que levará a uma nova geo-política internacional.

No entanto, já é possível apontar para o aprofundamento da, já em curso, desaceleração da economia mundial: iminência da recessão econômica nos Estados Unidos; contaminação da gestão de negócios por um estado psicológico dominado pelo pessimismo; restrição no fluxo e mudança na característica dos investimentos, com predominância de ativos convencionais e mais sólidos (ouro e dólar) em detrimento de novas alternativas econômicas.

Afora o cenário de dificuldades das exportações, é de se esperar a postergação do processo de formação da Área de Livre Comércio nas Américas Alca, dada a tendência natural dos EUA se voltarem para dentro com a prevalência de um tom mais nacionalista e protecionista, o que pressupõe barreiras adicionais em relação à integração internacional. Além disso, deveremos ter um recrudescimento de movimentos de afirmação nacional na Europa, com o conseqüente fortalecimento do nacionalismo xenófobo e aprofundamento do distanciamento Norte Sul, num movimento rumo ao estabelecimento de um certo cordão sanitário em torno dos países desenvolvidos.

Esse cenário aparentemente apocalíptico, no entanto, pode reservar espaços para grandes esperanças. Afinal, nas grandes adversidades e tragédias é que surgem transformações importantes no modo de agir e pensar da humanidade. Deste momento de fundo do poço poderá vir sinais para a construção de uma ordem mundial mais solidária e menos desigual.

Mesmo que num primeiro instante a tendência seja de acirramento das tensões, creio que a ação objetiva dos povos poderá superar este momento de dor e definir novos contornos para o mundo, com o fortalecimento de valores tão caros e tão esquecidos como a solidariedade, a igualdade, a fraternidade e a justiça social. Está aberta uma oportunidade histórica para redirecionarmos o destino da humanidade e nesta tarefa devemos contar com o formidável desenvolvimento científico tecnológico para, por exemplo, produzir alimentos suficientes para erradicar a fome no mundo.

Não há dúvidas de que o Brasil, por sua vez, sofrerá também os efeitos da desaceleração econômica, o que deverá influenciar o quadro sucessório do próximo ano. Ao mesmo tempo, com nossa relativa estabilidade política e imunização a conflitos raciais, religiosos e ideológicos, aliados às nossas dimensões continentais e sólido e promissor mercado interno, temos tudo para ver concretizada a profecia que nos coloca como grande potência econômica mundial. Precisamos trabalhar para que isso de fato ocorra e que sejamos uma potência que dissemine no mundo a fantástica experiência da confraternização deste País que é um caldeirão de raças, de diversidade harmônica e de pluralidade religiosa que se constitui num testemunho vivo de convivência pacífica e harmoniosa, sempre praticada internamente e que devemos divulgar ao mundo. (O autor, Arnaldo Jardim, é deputado estadual, engenheiro civil, secretário da Habitação - 1993, relator geral do Fórum SP Séc. XXI, presidente estadual do PPS - e-mail: arnaldojardim@uol.com.br)