07 de dezembro de 2025
Geral

O quarto movimento

(*) Miguel Ignatios
| Tempo de leitura: 3 min

Se algum estudioso, no futuro, resolver contar a história da educação brasileira durante o século 20, ele não poderá ser acusado de cometer exageros ao resumi-la em quatro nomes: um baiano, dois pernambucanos e um gaúcho. Refiro-me, obviamente, pela ordem, a: Anísio Teixeira, Paulo Freire, Josué de Castro e ao ministro Paulo Renato Souza.

Curiosamente, apenas dois deles - o baiano Anísio Teixeira e o pernambucano Paulo Freire - são educadores por formação. Os outros dois, o também pernambucano Josué de Castro e o gaúcho Paulo Renato, não são do ramo - imagine só o leitor o que teriam feito se o fossem -, já que o primeiro era médico e geógrafo e o atual ministro da Educação é economista. Tudo começou, nas décadas de 40 e 50, com o professor Anísio Teixeira que entendia a escola pública como um espaço democrático no qual pobres, pessoas de classe média e gente abastada colocavam indiscriminadamente seus filhos para recriar um País, a partir da escola, que, pensava ele, viria a ser, no futuro, dirigido por uma elite intelectual acima de classes sociais, etnias, raças e religiões.

Nas décadas de 60 e 70, o governo escolheu outro modelo de escola. Todavia, algumas poucas universidades públicas conseguiram, apesar de todas as dificuldades, manter a excelência na qualidade do ensino. Esse período foi marcado pela proliferação de escolas particulares, do pré-primário ao terceiro grau, caras e de qualidade - hoje nós sabemos - mais do que duvidosa. Um desastre! Na contramão de tal fenômeno, duas vozes críticas rebelaram-se contra esse novo modelo: a do professor Paulo Freire e a do médico Josué de Castro. O primeiro criou um método revolucionário de alfabetização de adultos, aliando o ensino do bê-a-bá ao conhecimento da realidade social em que o aluno estava inserido. Banido do Brasil, o método Paulo Freire foi adotado, com sucesso, em diversos países pobres. Hoje, é considerado uma espécie de bíblia por especialistas internacionais da Unesco.

Com seu livro Geopolítica da Fome, Josué de Castro alertou o Brasil e o mundo para o surgimento de um novo biotipo humano, o homem gabiru, raquítico e pouco maior do que um anão, com altura de, no máximo, um metro e meio, como resultado de séculos de miséria e desnutrição. O alerta do geógrafo pernambucano foi bastante claro: é impossível alfabetizar e educar o homem gabiru e seus descendentes. Antes disso, é preciso romper o círculo vicioso que o gera. De que forma? Dando-lhe renda mínima que o livre da condição de miserável.

Já no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, o ministro da Educação deu prioridade à redução do analfabetismo e à universalização do ensino fundamental e médio, condições essenciais para adequar a mão-de-obra brasileira às exigências da globalização. Por fim, colocou o ovo em pé: adotou o programa Bolsa-Escola, que já conta com um milhão de famílias beneficiadas. Ousado, abriu licitação pública para a aquisição de 233 mil computadores, que serão utilizados na rede pública escolar. Os resultados já obtidos permitem prever, em curto espaço de tempo, um salto virtuoso na qualidade do ensino público e privado do País; 97% dos estudantes entre sete e 14 anos estão na escola; na faixa dos 15 aos 17, o percentual de estudantes subiu de 62% para 84% e na faixa de 18 a 24 anos, elevou-se dos 22% aos 33%. Mas não é só isso. O analfabetismo reduziu-se em todas regiões do País, principalmente no Norte e no Nordeste, caindo, em média, dos 20%, em 1991, para 13%, em 1999.

(*) Miguel Ignatios é presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil - ADVB - e do Instituto ADVB de Responsabilidade Social - e-mail: presidencia@advbfbm.org.br