07 de dezembro de 2025
Geral

Momento incrível para alarmismo

Fernando José Dias da Silva
| Tempo de leitura: 2 min

A regra é manter a calma, não estimular o pânico. Mas, o doutor Henri Mollaret recomenda que, diante das ameaças bioterroristas, seja retomada a vacinação contra a varíola. E o doutor Mollaret não é nenhum médico jovem, impressionado com o que está acontecendo. Ele já viu muita coisa. Tem quase 80 anos. É decano do grupo de pesquisadores do Instituto Pasteur, de Paris, professor da Faculdade de Medicina, especialista e expert em guerra bacteriológica e bioterrorismo.

Por isso é sempre bom estar atento aos aviões que fazem serviço de pulverização, às pessoas que andam na rua usando spray e principalmente às caixas de saída dos sistemas de ar-condicionado em grandes espaços públicos, embora o vírus não seja perceptível. A reaparição de doenças como a varíola, através de ações terroristas, pode criar um enorme efeito de desmoralização psicológica na população e, em paralelo, um fabuloso sentido de vitória para os autores dos atentados, acredita o doutor Henri Mollaret. Foi o que aconteceu com as tropas inglesas que usaram a varíola contra os índios norte-americanos e também com a peste eqüina para matar cavalos na 1ª Guerra Mundial, lembra o professor. Um estudo conduzido pelo governo norte- americano, em 1993, demonstrou que 100 quilos de esporos de antraz lançados de avião sobre Washington poderiam matar cerca de 3 milhões de pessoas. Outra pesquisa, essa feita pela CIA, em 1995, indica que 16 países estariam montando, ou já teriam montado, os seus arsenais bacteriológicos: Iraque, Irã, Líbia, Síria, Coréia do Norte, Taiwan, Israel, Egito, Vietnã, Laos, Cuba, Bulgária, Índia, Coréia do Sul, China e Rússia.

Jeremy Rifkin, presidente da Foundation on Economic Trends, de Washington, diz que ao contrário das armas nucleares, os componentes e as ferramentas para a fabricação de armas biológicas são fáceis de achar e não custam caro. Por isso são chamadas de bomba atômica de pobre. Segundo Rifkin, é possível montar um laboratório biológico de ponta e colocá-lo em funcionamento por US$ 10 mil, com equipamentos comprados no comércio. Até nos laboratórios universitários é possível produzir tais armas. Graves também são as novas descobertas sobre o genoma e a sua utilização comercial, através de manipulações genéticas na agricultura, na criação de animais e na medicina, são potencialmente adaptáveis para desenvolver uma vasta variedade de novos agentes patogênicos capazes de atacar plantações, criações e seres humanos, garante Jeremy Rifkin.

Os cientistas já imaginam a possibilidade de clonar toxinas seletivas para eliminar grupos étnicos ou raciais, genotipos predispostos a certas doenças. A engenharia genética permite também imaginar a destruição, com alvos bem específicos, de espécies vegetais e de animais de criação com o objetivo de arruinar a economia de um país ou de uma região. Os autores de ficção-científica estão completamente ultrapassados pela realidade. E é por isso que todos nós, mesmo no Brasil, podemos ir dormir tranqüilos. (O autor, Fernando José Dias da Silva, é articulista da Agência Estado)