07 de dezembro de 2025
Geral

Maus-tratos à infância crescem 65%

Ieda Rodrigues
| Tempo de leitura: 5 min

A constatação é do Crami, que neste ano, até agosto, registrou 260 novos casos contra 191 no mesmo período de 2000.

Os maus-tratos contra as crianças em Bauru vêm aumentando em índices preocupantes. É o que mostra as estatísticas do Centro Regional de Registro e Atenção aos Maus Tratos à Infância (Crami) de Bauru que, de janeiro a agosto deste ano, atendeu 260 novos casos, contra 191 ocorrências notificadas no mesmo período do ano passado.

Já verificando um aumento de 65% nos casos registrados, o Crami está promovendo a Semana de Combate à Violência contra a Criança e Adolescente. O evento, que começou ontem e vai até o próximo dia 27, conta com palestras informativas destinadas a educadores, pais, mães, bem como a toda a comunidade interessada, que estão sendo ministradas em vários bairros da cidade (veja a programação no quadro).

Também faz parte da programação da Semana de Combate à Violência contra a Criança e Adolescente uma conferência com o tema a A Palmada Deseduca, que será realizada na Instituição Toledo de Ensino (ITE), sexta-feira, para 200 pessoas. A expositora será a assistente social Cacilda Costa Paranhos, especializada em Violência Doméstica pela USP.

O objetivo da Semana de Combate à Violência é orientar pais e mães e toda a comunidade de forma geral que uma simples palmada pode deixar seqüela psicológica na criança e até evoluir para uma agressão fatal, segundo Rosimeire Cristina Alves e Márcia Regina Ricordi, respectivamente coordenadora e assistente social do Crami. Elas explicaram que os pais têm impor limites a seus filhos através do diálogo e não da agressão.

O Crami, de acordo com Rosimeire e Márcia, está preocupado com o aumento dos casos e também com o tipo de violência sofrida pelas crianças. A cada ano que passa, os casos que chegam ao Crami são mais graves, ressaltaram. Com a Semana de Combate à Violência, o Crami quer levar a família e a comunidade a refletir sobre o assunto e a adotar novas posturas.

Há casos de agressão tão graves que, quando chegam ao conhecimento do Crami, a criança precisa ser internada. Neste ano, de janeiro a agosto, o Crami registrou 155 maus-tratos físicos, que encabeça a lista de agressões, contra 56 no mesmo período do ano passado. Em muitas situações, a criança sofre vários tipos de agressão, a chamada de violência múltipla. Outro tipo de violência que está crescendo, de acordo com Rosimeire e Márcia, é a sexual. De janeiro a agosto deste ano, foram registrados 12 abusos sexuais, contra 6 no ano passado.

Há inclusive, segundo Rosimeire e Márcia, um caso registrado no ano passado em Bauru em que uma adolescente de 16 anos foi estuprada pelo próprio pai e engravidou. Como o caso está sob sigilo de Justiça, os nomes dos envolvidos não podem ser divulgados, mas a adolescente, com o filho, depois de ser atendida pelo Crami, hoje está abrigada na casa de parentes levando uma vida relativamente normal.

Atendendo diariamente os casos de maus-tratos, Rosimeire e Márcia afirmaram que outro dado curioso e preocupante é a banalização da violência por toda a família. Elas apontam como causa dos maus-tratos às crianças a falta de estrutura familiar, a falta de diálogo, o desemprego, o uso de bebida alcoólica e o uso de drogas.

Os maus-tratos contra crianças ocorrem em todas as classes sociais, mas entre os mais pobres acaba chegando com mais facilidade ao conhecimento do Crami pelo fato de as casas não serem tão fechadas e os vizinhos participarem mais do dia-a-dia das pessoas e essa população necessitar de atendimento médico público. Por isso, a agressão ocorrida em um bairro pobre tem mais chance de ser registrada no Crami em comparação com uma ocorrida em bairro nobre, ressaltam Rosimeire e Márcia.

A mãe, por em geral ser a pessoa que mais fica com os filhos, continua liderando entre os agentes agressores. Em segundo lugar nas estatísticas de agente agressor está o pai. Já a faixa etária mais agredida é até sete anos, com cerca de 50% dos casos registrados. O Crami, que conta com três assistentes sociais, uma psicóloga, 19 estagiárias de Serviço Social e três estagiárias de Psicologia, atende toda a cidade.

A maioria dos casos de agressão à criança chega ao conhecimento do Crami através de denúncias anônimas. Uma equipe do órgão vai até o local e, se constatar a agressão, toma as medidas necessárias - que vão de orientação à família até a internação hospitalar ou em entidade da criança agredida - e aciona a polícia. A partir da constatação da agressão, a família passa a ser acompanhada periodicamente pelo Crami, que faz visitas domiciliares.

O Crami encerra o caso só quando constata que não há mais nenhum tipo de agressão contra a criança. Além de fazer o atendimento em casos de denúncia e o acompanhamento familiar, o Crami também promove, durante todo o ano, palestras sobre violência nas comunidades interessadas. A entidade se mantém com verbas da ITE, que cede o espaço para funcionar, na Vila Falcão, da Prefeitura e de promoções. A próxima promoção será uma seresta, no Bauru Tênis Clube, marcada para o dia 10 de novembro. O convite custa R$ 5,00.

Serviço

Os interessados em fazer denúncias sobre maus-tratos, solicitar mais informações e palestras, fazer reserva para a conferência a Palmada Deseduca, na sexta-feira, às 19 horas, ou ainda adquirir convite para a seresta do Crami podem entrar em contato pelo telefone (14) 230-1800. O Crami fica na rua Assef Madi, 4-65, próxima à ITE.

Programação

Hoje

* Palestra informativa no Núcleo de Apoio Sócio-Familiar (NAF) do Parque Jaraguá (avenida Gabriel Rabelo de Andrade, 7-85), às 9 horas

* Palestra informativa na Creche Municipal Parque Real (avenida das Bandeiras, quadra 12, Vila Industrial), às 16 horas

* Palestra informativa no Centro Educativo Jardim Redentor (rua São Valentin, 3-60, Jardim Redentor), às 20 horas

Amanhã

* Palestra informativa no Núcleo de Apoio Sócio-Familiar (NAF) do Parque Júlio Nóbrega (rua Professora Luzia Peres rego, 2-62) às 14 horas

* Palestra informativa na Creche Municipal Maria de Fátima L. de Figueiredo (rua Santo Garcia, quadra 5, Pousada da Esperança), às 16 horas

Quinta-feira

* Palestra informativa na Emei Gasparzinho (rua Santa Paula, 2-50, Jardim Redentor), às 8 horas e às 13h45

Sexta-feira

* Conferência a A Palmada Deseduca na ITE, a partir das 19 horas (é preciso fazer inscrição no Crami)