07 de dezembro de 2025
Geral

Laden, o pit bull Rickson e a súcia que atacou Elias

(*) B. Requena
| Tempo de leitura: 3 min

Tenho visto como absoluta normalidade, nesta minha coleção de janeiros, que o Sol continua brilhando, que o gelo faz tudo esfriar e que o fogo queima. Tenho visto, também, que o rio Bauru corre, dentro do Município, da região da Sanbra em direção ao Terminal Rodoviário. Entretanto, neste novo milênio, ou, mais especificamente, a partir do dia 11 de setembro, caso esses fatos acima citados não mais ocorram ou se dêem exatamente ao contrário, não irei me surpreender muito. E acredito que haja também muita gente pensando assim.

É curioso que o segundo milênio terminou com quase toda a humanidade preocupadíssima com um tal de pó branco e, agora, no terceiro milênio, o mundo todo está em polvorosa com um tal de pó branco, mas que não têm nada a ver um com o outro. E os que não crêem no ensinamento bíblico segundo o qual do pó nós viemos, pelo menos terão que acreditar que o pó pode levar muita gente...

Também não deixa de ser intrigante que os mísseis computadorizados do terceiro milênio, os radares sofisticados, as armas a laser e as bombas inteligentes do Pentágono foram vencidos pelo homem das cavernas...

E o homem das cavernas me faz lembrar de algo. Antes de ir dormir, leio no JC que na Vila Industrial o cão pit bull Rickson atacou, mas não matou, é bom que se diga, o pequeno Diego Martins. E que uma súcia ensandecida avançou contra o jovem Elias de Almeida, como uma matilha de lobos, ferindo-o com tal gravidade que suas forças restantes não foram mais suficientes para - mesmo com todos os recursos da Medicina - devolvê-lo à vida alegre junto com seus familiares, amigos e colegas de trabalho.

Lembro que durante o dia já havia ouvido um festival de incoerências daqueles que procuram uma culpa para o acontecimento, geralmente sem se ater ao motivo principal: Se as autoridades colocassem um segurança para cada um dos que comparecem a esses shows, isto com certeza não teria acontecido- opina um. Se não existisse o Centro Cultural, o show não teria sido realizado. Conseqüentemente, a turba não teria agido, diz outro, com raro brilho. Houve até quem culpasse o próprio rock pela tragédia... Estes fatos lembram a história do traído que para pôr um fim definitivo na farra mandou jogar fora o sofá onde tudo acontecia...

Bem, mas já informado com as notícias do pit bull que saiu do sério e da matilha que atacou o bom Elias, acabo pegando no sono e um misto de sonho e pesadelo acaba me vencendo. E numa situação em que a coerência não fugiu de todo, por se tratar de sonho, vejo o pit bull preso, algemado, sentado no banco dos réus, ouvindo expressões latinas nada favoráveis a ele, pronunciadas pelo advogado, pelo promotor e pelo próprio juiz...

Vejo também vários dos matadores de Elias, na porta da UIPA, cada qual aguardando a sua vez de ser chamado. O sonho também inclui uma rápida passagem em que observo o diligente vereador propondo uma reformulação na lei: Senhoras e senhores, diante da conturbada realidade atual, diante dos novos acontecimentos no mundo, eu gostaria de propor que não apenas os ferozes pit bulls fossem obrigados a usar focinheiras, quando estiverem nas ruas, em função do perigo que representam para as pessoas de bem. Quando acordo, reflito um pouco sobre este relato, mas, depois, penso: bem, deixa pra lá, pois sonho não é coisa para se levar a sério...

(*) B. Requena é jornalista.