07 de dezembro de 2025
Geral

São Carlos pode mudar de nome

Redação
| Tempo de leitura: 4 min

São Carlos - Um grupo de moradores de São Carlos quer resgatar seu passado fazendo a cidade voltar a ter o nome que tinha na época do Império. A proposta é colher assinaturas para elaborar um projeto popular, apresentá-lo aos vereadores e realizar um plebiscito talvez ainda no ano que vem.

A idéia é fazer o município se chamar São Carlos do Pinhal, nome alterado em 1908, época em que havia um verdadeira caça às bruxas contra os monarquistas.

O prefeito Newton Lima (PT) e o presidente da Câmara, João Batista Muller (PMDB), simpatizam com a idéia de a cidade mudar de nome, mas sugerem que, para isso, seja feito um plebiscito.

Em 1908, uma lei aprovada na Assembléia excluiu o nome Pinhal da cidade, alegando haver relação com o nobre Antônio Carlos de Arruda Botelho, o conde do Pinhal, monarquista convicto e amigo de dom Pedro 2º.

Entre a Proclamação da República e os primeiros anos do século passado, houve no país uma forte campanha contra tudo o que lembrava o período do Império (1822-1889), que estaria ligado ao atraso político e econômico. A República, por outro lado, representaria o progresso. Por conta desse ambiente hostil, a lei mudou o nome da então São Carlos do Pinhal.

Só que a lei tinha um equívoco -a cidade chamava-se Pinhal não por causa do conde, mas sim devido ao fato de a região, em meados do século 19, ser coberta por pinheiros. Quando ganhou seu primeiro título de nobreza, em 1879, Botelho recebeu o nome de barão do Pinhal por causa da cidade e não o contrário.

Só que a mudança de nome requer muito trabalho burocrático. De acordo com a assessoria de imprensa da Assembléia Legislativa, somente por meio do encaminhamento de um projeto do prefeito é que o assunto pode vir a ser debatido pelos deputados estaduais.

Apesar disso, o grupo de moradores não está desanimado e quer fazer o que denominam correção histórica.

O autor do Projeto São Carlos do Pinhal é o oficial da Marinha Marcelo José Dotta da Silva, 34. Ele disse que começou a pesquisar o assunto em 1996. Mudar o nome de uma cidade somente devido à alteração do regime político é uma mera mutilação, afirmou, referindo-se à passagem do Império para a República.

Silva chegou a montar uma home page para divulgar o assunto (www.marcelosilva. com.br). Ela contém informações a respeito do brasão do município, bandeira, origem do nome e explica os motivos que o fazem defender a volta do nome do século 19.

Um dos apoiadores do projeto é o industrial Nelson Maffei, 61, integrante de uma das famílias mais tradicionais do município. Ele afirma que a discussão a respeito do nome não é nova.

Uma das provas que apresenta é uma carta do historiador Ary Pinto das Neves. A correspondência, datada de 1960, foi enviada para o irmão do industrial, Mário Maffei, 72, à época vereador de São Carlos.

A discussão sempre existiu, o que não foi feito antes era se tomar uma atitude a respeito para tentar mudar, disse Maffei, que é apaixonado pela araucária -símbolo de São Carlos.

O grupo já conta com 3 mil assinaturas a favor de São Carlos do Pinhal. Para que o projeto seja apresentado à Câmara são necessários pelo menos o dobro, 6.000.

Isso porque a Lei Orgânica do Município prevê que um projeto popular só pode ser apresentado com 5% do total de assinaturas dos eleitores -cerca de 120 mil na cidade.

Corte de araucária é proibido

Símbolo de São Carlos, a araucária tem um grande privilégio: seu corte é proibido na cidade. Trata-se de um decreto assinado no dia 20 de setembro deste ano.

A espécie Araucaria angustifolia, conhecida como pinhal -ou também pinheiro-do-paraná-, faz parte do brasão e da bandeira municipais. Antes de se tornar cidade, o que hoje compreende São Carlos foi habitado pelos índios guaianases. Em 1781, foi constituída a Sesmaria do Pinhal, demarcada em 1831 por Carlos José Botelho, o Botelhão -pai do futuro conde. Ficava onde hoje se localiza a região do município.

Diferentemente do que as pessoas pensam, um dos fundadores do município recebeu o título de conde porque era de São Carlos, e não foi a cidade que recebeu o nome por causa do conde, afirmou o industrial Nelson Maffei.