07 de dezembro de 2025
Geral

O terrorismo bacteriológico

(*) Rafael L. Bardají
| Tempo de leitura: 3 min

A linha que separa a prudência do pânico torna-se muito tênue quando se fala de armas bacteriológicas. É natural, pois não apenas se trata de armas silenciosas e praticamente invisíveis, como há anos sabemos que, diante de uma guerra com vírus e bactérias, são poucas as defesas úteis. E mais. Depois dos ataques de 11 de setembro e suas conseqüências catastróficas, estendeu-se a visão de que, a partir de agora, tudo é possível para o mundo do terror.

O primeiro nos Estados Unidos, em 1984, onde a seita dos Rajneeshees provocou uma epidemia de salmonelose que afetou cerca de mil pessoas; o segundo, no Japão, em 1995, quando a seita Aum Shinrikyo cometeu atentado com gás sarin no metrô de Tóquio, causando a morte de 12 pessoas e enfermidades consideráveis em cerca de mais uma centena.

No papel, as armas bacteriológicas são temíveis pelo grau de vítimas mortais que pode causar. Segundo estimativas oficiais norte-americanas da Fema (a agência federal para as emergências civis), que comparam as conseqüências causadas por diferentes tipos de armas, o mesmo número de baixas por quilômetro quadrado pode ser produzido por 1.600 quilos de bombas de fragmentação, 160 quilos de gás mostarda, 40 quilos de gás nervoso, 2,5 quilos de material radioativo numa arma rudimentar de fissão nuclear, 40 gramas de toxina causadora do butolismo, ou 4 gramas de esporos de antraz. Nesse sentido, parece evidente a atração que estes dois últimos agentes podem ter para mentes terroristas.

A seita Aum Shinrikyo tinha trabalhando em seus laboratórios químicos 80 licenciados universitários e mais 20 em seus projetos bacteriológicos, o que não impediu que as novas tentativas de ataques biológicos falhassem uma após outra e que de 20 agressões químicas apenas duas tivessem um certo êxito. No caso dos Rajneeshees do Oregon, seus recursos humanos limitavam-se a um médico e pessoal de enfermaria e laboratório e, ainda assim, sua idéia de estender a febre tifóide teve que se transformar, ao longo de mais de um ano de testes, em algo mais fácil e menos grave: um ataque de salmonelose (Salmonella enterica em lugar de Salmonella typhi).

Portanto, e contra o que comumente acredita-se, não apenas não é fácil obter os elementos necessários para desenvolver um agente bacteriológico como sua utilização como arma também não é simples. Sua fabricação exige processos de purificação e secagem que reduzem drasticamente a quantidade de organismos vivos e utilizáveis em cerca de 70% a 80%. Além disso, sua disseminação, que deve respeitar o tamanho máximo dos esporos (dez micras para o antraz, por exemplo), exige instrumentos de aerossolização muito sofisticados.

Os atentados por carta com antraz que estamos vendo ultimamente nos Estados Unidos reafirmam a limitação desses sistemas para provocar danos em massa. A aerossolização de esporos, na realidade, acaba com 60% a 70% deles e os sobreviventes estão à mercê da luz solar e do vento, o que os faz caírem rapidamente. No caso do sarin, seriam necessários mais de mil quilos para cobrir uma área aberta para matar dez mil pessoas, uma quantidade complexa de manejar para quem se move na clandestinidade. Em espaços fechados, a coisa muda, mas, como demonstra a história do Aum, nem com três anos, 80 cientistas e um investimento perto dos US$ 100 milhões, conseguiram causar mais danos do que um carro-bomba.

Bin Laden não é onipotente, nem seus terroristas têm acesso a todos os meios com que gostariam de contar. A prudência lógica dos governos não deveria levar a população ao pânico, porque isso seria o mesmo que cair na armadilha do terror. E não há motivo para isso. (IPS).

(*) Rafael L. Bardají é fundador do Grupo de Estudos Estratégicos (GEES) e assessor-executivo do ministro da Defesa da Espanha