07 de dezembro de 2025
Geral

Armazén: com a bola toda

Ricardo Polettini
| Tempo de leitura: 7 min

Armazén Rock Gol terá 25 bandas de rock jogando futebol e tocando, em comemoração aos 21 anos do bar; leia entrevista com Paulão, proprietário da casa

Quem disse que os roqueiros não gostam de praticar esportes? A prova de fogo será hoje, no Armazén Rock Gol, comemorando os 21 anos do Armazén Bar. A maratona futebolística-musical começa cedo - pelo menos para os músicos -, ao meio-dia, no campo das Faculdades Integradas de Bauru (FIB).

Estão confirmadas 25 bandas, mais as surpresas do dia: a participação de Ivan e Andria Busic e Joey, da banda Dr. Sin e do show da banda Chipsetezero (veja no boxe a primeira rodada de jogos).

As disputas, em dois campos de futebol society, serão, inicialmente, em 12 jogos, simultâneos dois a dois. Os vencedores fazem mais seis jogos. Estes afunilam em outros três jogos. Sobram três times, um fica no chapéu.

Conforme acontecem os jogos, as bandas que perderem sobem ao palco e fazem seu show. A banda que vencer faz show de encerramento de uma hora. A banda Mahatma, que não joga, vai abrir a tarde de música.

21 anos

Orgulhoso de estar há 21 anos na noite bauruense, o empresário Paulo Penatti, o Paulão, sócio-proprietário do Armazén Bar, conversou com a reportagem do JC Cultura e fez um balanço da vida boêmia da cidade, no passado e no presente. Leia a seguir.

JC Cultura - Como foi abrir o primeiro bar de rock da cidade, há 21 anos? Paulão - Na época, o Armazén pirou a cabeça de todo mundo. Porque os bares eram todos muito clean e a gente resolveu criar um estilo de bar que eu freqüentei na Holanda. Em 1978 eu morei lá. Aquele estilo bem underground, um pub mais simples. E transformamos isso para a realidade brasileira. O que nós fizemos? Nossos bancos são latões de leite, o balcão é um dormente, as mesas são de carretéis de fio, o teto baixo e as mesas quase que grudadas umas nas outras, para já criar aquela interação. Hoje é que a coisa está diferente, as pessoas são mais individualistas. Mas nos anos 80, era a época de boemia. Hoje a coisa ficou muito americanizada.

JC Cultura - Mudou muito? Paulão - Mudou muito, porque antes, as pessoas saíam porque eram boêmias. Hoje as pessoas saem porque a mídia empurra elas para algum lugar.

JC Cultura - Tem que consumir a noite...Paulão - É, você tem que consumir a noite. Às vezes, nem tanto por você gostar. Antigamente, a faixa etária das pessoas que freqüentavam a noite era maior. Hoje predomina os jovens de 18 a 25 anos de idade. O poder aquisitivo das pessoas mudou também.

JC Cultura - Você acha que o poder aquisitivo das pessoas era maior há 20 anos? Paulão - Ah era! O consumismo hoje é muito grande. A carga de informação que você recebe, do fim dos 80 para cá, é muito grande. Você tem Internet fazendo você consumir, você tem televisão falando adquira isso, compre aquilo, você tem um monte de coisa hoje, de informação de consumo violento.

JC Cultura - A concorrência também deve ter aumentado bastante...Paulão - É, a concorrência hoje está muito grande. Nós estamos disputando hoje com casas de poder aquisitivo muito grande. Nós somos hoje uma gotinha dágua no oceano dentro de Bauru. E a gente acaba sobrevivendo. E estamos pegando a terceira geração...

JC Cultura - Tem netos de antigos freqüentadores que vão hoje ao Armazén? Paulão - Tem netos. Tem filhos de músicos que já estão formando bandas e tocando no Bar. Um exemplo é a Superliga Katólica, que o filho do Claudinho tem uma banda chamada Rock S/A, que por sinal toca músicas deles (Superliga).

JC Cultura - E como é lidar com a concorrência? Paulão - A preocupação do Armazén sempre foi fazer um trabalho independente do que vai acontecer na cidade, do que outro bar vai trazer. Acho que o importante é você se preocupar com seu trabalho. Aí vem até uma pergunta que sempre os donos de outras casas me fazem, especificamente um, que eu não vou citar o nome e ele vai saber de quem eu estou falando, que é o seguinte: Paulo, você fica puto quando a gente pega banda que toca no Armazén e traz para tocar na nossa casa.... Eu respondi para ele você não entendeu até hoje qual é o meu posicionamento. Eu fico puto, mas não porque ela vai tocar na sua casa. É porque nós, praticamente, criamos as bandas. Elas chegam formadas, aí, a gente sugere até mudança de nome, as bandas começam a tocar, a pegar pique de palco, a ficar preocupadas com equalização de som, a trabalhar e aí, os donos das casas, que não plantam nada, vão lá e pegam as bandas para tocar. Não acho errado, mas a minha posição é essa. Porque se eles criassem alguma coisa... Nós somos todos atravessadores, a gente vende alegria. Eu sempre digo, não sou melhor nem pior do que ninguém, eu faço meu trabalho. Mas a gente ainda criou a transa das pingas aromatizadas... Como somos pequenos, trabalhamos com idéias, e isso ninguém paga.

JC Cultura - Como a idéia do visual do bar...Paulão - É... Nos anos 80, foi um choque muito grande, as pessoas entravam no bar e falavam: Não sei se eu corro ou se eu fico aqui dentro (risos). Pinga, ninguém tomava, tinha que ficar oferecendo. Hoje, a gente vende pinga para tudo quanto é lugar. Hoje, a gente tem quarenta e tantos tipos de pinga. E o paladar que você tem da pinga de 80 para 2001 é o mesmo.

JC Cultura - Qual é o segredo? Paulão - Segredo não tem. Me perguntaram uma vez como que faz pinga de mel? Ora, é pinga com mel! Só que você tem que ter uma medida, como que ela vai ficar melhor. No começo do Bar, eu tinha que experimentar. Hoje, eu já nem tomo mais, pela coloração já dá para saber.

JC Cultura - E como é fazer 21 anos de noite? Paulão - Me sinto honrado e orgulhoso, por várias razões. Uma delas é que eu consegui juntar o útil ao agradável. Eu gosto da noite, eu sempre gostei, gosto de rocknroll, apesar de não ter criado o Armazén para ser uma casa de rocknroll. É como você ter um filho, você põe no mundo e, às vezes, quer que ele seja médico e ele acaba sendo cantor. Então, o Bar tomou um rumo próprio. Ainda bem que tomou um rumo que eu gostei. E me sinto muito honrado de estar fazendo uma coisa e o prestígio todo que você acaba conquistando com isso.

JC Cultura - Qual é o futuro do Armazén? Paulão - Essa é uma preocupação que eu tenho. Eu vou fazer 51 anos de idade, em janeiro. A única geração que eu acho que poderia ficar com o bar é do meu sobrinho-neto, que tem apenas 2 anos e levará pelo menos 16 anos para assumir. Eu não posso falar em futuro. Enquanto eu agüentar eu vou tocando. Mas eu ainda não me sinto com essa idade.

JC Cultura - A que se deve essa vitalidade do Armazén ? Paulão - Eu tenho que agradecer aos amigos, aos músicos e ao público que está sempre nos prestigiando, claro que com altos e baixos. E é por isso que o Armazén sobrevive, porque ele recicla muito. E tem a velha lenda, o Armazén é bar de louco. É bar de rocknroll...

Serviço

Armazén Rock Gol, hoje, meio-dia, na FIB (rua Rodolfina Dias Domingues, quadra 1 - acesso pela quadra 24 da av. Castelo Branco). Ingressos: R$ 7,00 mais 1 Kg de alimento não perecível (em prol da Sociedade Beneficente Cristã - Paiva). Apoio: Meteoro, Ola, Tania Boutique, Thermic, Golden Med, Tilibra, Secretaria de Estado da Cultura, 96 FM e Jornal da Cidade. Informações: 234-3351 / 9772-4827 / 234-3730 / 9772-3736 / 226-2016 / www.armazenbar.com.br.