07 de dezembro de 2025
Geral

Brasil e Argentina: viva a diferença!

(*) Luiz Carlos Mendonça de Barros
| Tempo de leitura: 3 min

Os mercados começam a separar o Brasil da Argentina. Nos últimos dias, publicações importantes como a revista inglesa The Economist e o jornal diário Financial Times, trouxeram matérias tratando desta questão. Nos mercados, o risco associado aos papéis da Argentina subiu bastante, enquanto o prêmio pago pelos títulos brasileiros caiu para abaixo do nível crítico de 1.000 pontos, ou seja, de 10% ao ano, acima dos títulos emitidos pelo Tesouro Americano. Este valor ainda é muito alto para um país endividado como o Brasil, mas o que mais importa hoje é consolidar este movimento.

Três fatores principais explicam esta lenta mas fundamental mudança na percepção dos agentes econômicos sobre a situação da economia brasileira, nesta virada de ano. O primeiro é a certeza que, apesar da desaceleração do crescimento da atividade econômica, o superávit fiscal primário de mais de 3% do PIB está consolidado. O segundo motivo desta mudança está associado a um cenário menos dramático para o financiamento de nossa Balança de Pagamentos em 2002. A redução das importações em função de uma economia estagnada deve criar condições para um superávit comercial acima de US$ 5 bilhões no ano que vem. O saldo em nossa balança comercial obtido no último mês de outubro, US$ 200 milhões, aponta para um número ainda maior do que esse! Outro ponto positivo nos últimos meses tem sido o ritmo de entrada de investimentos externos, acima das previsões de Wall Street.

Mas é a percepção de que, ao contrário da Argentina, nosso País tem uma economia ativa, dinâmica e competitiva, que vai consolidar esta separação. Os mercados financeiros têm o hábito de concentrar suas análises no que eu chamo de lado virtual da economia. Situação fiscal, política monetária e, principalmente, as condições da chamada conta corrente externa se sobrepõem ao entendimento de como funciona a economia produtiva do país. Com este comportamento acabam por não perceberem antecipadamente, mudanças importantes que irão ocorrer no lado financeiro em função de ajustes no tecido produtivo. É o que está acontecendo agora!

No caso brasileiro essa falha metodológica torna-se ainda mais grave em função da incrível capacidade de adaptação das empresas e consumidores às mudanças no cenário econômico provocadas por ações do governo. Foi o que ocorreu nos últimos meses depois que o BC tornou o crédito interno mais caro e mais difícil de ser obtido. Todos pisaram nos freios e a economia desacelerou-se em pouco tempo.

Podemos esperar nas próximas semanas uma consolidação desta nova fase da economia brasileira, com o chamado risco Brasil caindo para algo próximo de 800 pontos. Se isto ocorrer deve continuar o processo de valorização do real, diminuindo a pressão dos preços de produtos importados sobre a inflação e abrindo espaço para uma redução nos juros por parte do Banco Central. Será então a vez de nossa economia real mostrar sua força, com o ritmo de produção voltando ao que tínhamos no primeiro semestre de 2001. O Brasil deve reencontrar o caminho do crescimento ainda a tempo das eleições presidenciais de outubro.

(*) Luiz Carlos Mendonça de Barros é economista, diretor da Revista República e do site Primeira Leitura.