No ano de 1952, quando iniciava, como empregado, minha vida ferroviária, trabalhavam em Urutágua (km.210) e Penápolis (km.220), como telegrafistas e operadores de trens, Dorival Nogueira e Aparecido João Esponton, respectivamente. Certo dia, o trem de cargas, prefixo C-17 executou manobras para deixar um vagão com caixa de graxa queimada. Logo após, Dorival autorizou a partida para Penápolis, estando o maquinista munido do staff (licença).
Ao retornar à estação, ouviu a campainha do aparelho do lado de Penápolis, bater duas vezes, determinando o corre de algum trem. Dorival acionou o magneto e por telefone com Esponton, soube deste que um trem de gado havia saído de Penápolis para Urutágua. Sem esperar mais nada, largou o fone e em desabalada carreira conseguiu se segurar numa escada lateral de um dos vagões do trem C-17, já em movimento. Subindo até o teto do vagão passou a correr, saltando de um para o outro vagão até atingir o último, na cauda, onde desceu, apoiando-se no pára-choque e, de cabeça para baixo, arrancou a mangueira do engate cego, provocando a aplicação dos freios do trem que imediatamente parou.
Feito isso, desceu do vagão e correu em direção à locomotiva e avisou o maquinista que vinha um trem de Penápolis, continuando a correr até que avistou o trem de gado, em sentido oposto. Com os braços, transmitiu sinais de parada, conseguindo assim que as duas locomotivas ficassem perto, uma da outra, sem ocorrer, entretanto, o choque e um acidente grave.
Na oportunidade ficou comprovado que o maquinista do trem de gado tinha em seu poder o bastão de staff do trecho - Penápolis-Bonito - o que não lhe permitia estar nesse trecho, Penápolis-Urutágua. Aliviados, agradeceram e elogiaram a atitude de Dorival, como também Aparecido João Esponton, de Penápolis, considerando que se ocorresse o acidente poderia ele ter sua dispensa dos serviços da ferrovia.
A atitude heróica de Dorival Nogueira, evitando um acidente de graves proporções, com possíveis vítimas a se lamentar, merecia, no mínimo, um elogio por parte da administração Marinho Lutz, o que, infelizmente, não ocorreu. Alguns anos depois, Dorival e Esponton se transferiram para os Correios, onde atingiram elevados cargos, para, ao final, obterem a merecida aposentadoria. (Vivaldo Pitta - RG. 6.028.556)