Marroquina faz crítica da mulher ocidental
Fatema Mersissi, professora de Sociologia na Faculdade de Rabat, garante que é na reclusão que as mulheres inventaram a liberdade e que no Ocidente domina a obsessão pela juventude. A escritora, autora do livro Scheherazade Goes West Or: The European Harem, um percurso histórico em defesa da cultura do harém e da emancipação feminina em países muçulmanos, é uma das intelectuais do Marrocos mais famosas.
Os ocidentais do século XXI encontraram uma melhor forma de dominar as mulheres: o número 38 e a obsessão pela juventude, frisou Mernissi em entrevista à revista Paris Match. Nós, muçulmanas, jejuamos um mês ao ano. Para que servem aos ocidentais a inteligência e os diplomas, se a beleza é o valor supremo do sexo? As mulheres do Ocidente estão submetidas ao culto das aparências. A intelectual citou as cifras da emancipação social feminina nos países muçulmanos, onde um número bem maior de mulheres do que no Ocidente ocupam cargos como engenheiras ou técnicas.
A burca só existe onde a cultura é dominada pelo petróleo e a partir de 1993, quando a Standard Oil of Califórnia começou a extração, frisa a professora. Os países nos quais o véu é imposto pela polícia são os que têm petróleo (Irã e Arábia Saudita), ou os estrategicamente importantes para sua distribuição, como o Afeganistão. No Marrocos as mulheres podem optar. Pelas ruas se vêem moças com calças, saias curtas e djellaba (túnica). Algumas poucas com o véu, que são a minoria.
Em seu livro, Mernissi se escandaliza com a ignorância ocidental sobre a história e a realidade do harém. Foi o que descobri depois da publicação de minha novela Reves de Femmes, em 1994. Nele contava minha infância em Fez, em um harém. O livro foi traduzido para 22 idiomas. Assim que pronunciava a palavra harém, os homens riam burlescamente. Um árabe jamais reagiria assim. Então quis compreender o que divertia tanto os ocidentais.
O harém, explica Mernissi para a Paris Match, é o lugar onde homens e mulheres estão juntos, não o local de erotismo descrito pela literatura ocidental. As mulheres muçulmanas estão acostumadas a conquistar sua felicidade, como fez Sheherazade, e não a esperar como a Cinderela e o Príncipe Azul. Hoje muitíssimos muçulmanos têm parabólicas em suas varandas e assistem a TV por satélite. Eles também têm o seu canal Al Jazira, onde há mais mulheres do que na CNN, frisa a escritora. (Ansa)