A fila por vagas nas creches cresce dia-a-dia impulsionada por vários fatores entre eles o crescimento natural da população.
O ano letivo de 2001 ainda não chegou ao fim em muitas unidades de educação infantil de Bauru conveniadas às Secretarias de Educação e do Bem-Estar Social (Sebes). Mas a fila de espera por uma vaga em 2002 nas creches municipais pode ultrapassar 4 mil crianças. No início de 2001, segundo dados oficiais, este número era de 2,2 mil crianças sem atendimento.
Até agora nenhum dos órgãos conseguiu determinar o fator de crescimento desta demanda em praticamente 100%.
Desemprego, crescimento natural da população, ações de cidadania, fiscalizações no cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente e até projetos governamentais como o Programa de Encontro da Turma (PET) e o Bolsa-Escola Federal de incentivo ao estudo estão fazendo com que este número aumente a cada dia.
Um outro dado interessante, é o número de mulheres que está abocanhando uma maior fatia do mercado de trabalho, os altos índices de gravidez na adolescência e ainda a mãe exercendo o papel do chefe de família, sendo muitas vezes responsável pelo sustento da casa.
Na lista de espera em creches de duas regiões da cidade, a desenhista Gisele Silvério Nascimento aguarda com ansiedade por uma vaga para a filha, seja perto de sua casa no Parque dos Sabiás ou do trabalho no Higienópolis. Antes de seu bebê completar três meses Gisele pegou todas as creches da lista telefônica e entrou em contato com todas, sem exceção, incluindo as particulares. A única escola que lhe deu esperança de vaga era de Piratininga, o que impossibilitava a filha de freqüentar o aparelho educacional. Há dois meses, a criança que está com cinco meses fica com a avó paterna ou o pai, que está desempregado e passa a maior parte do tempo fora de casa procurando um novo trabalho. É uma situação complicada ainda mais no meu caso. Os berçários municipais não oferecem vagas e os particulares não aceitam, alegando que o bebê é muito novo, pode dar trabalho, não acostumar... E a gente fica como?, desabafa Gisele que mantém uma esperança quase remota.
A operadora de caixa Priscila Regina Alves Monteiro tenta uma vaga há um ano e quatro meses e durante todo este tempo é um irmão de 16 anos quem cuida da sobrinha de 3. Pelas tardes de babá, o rapaz recebe R$ 60,00 por mês mais os passes para sair do Octávio Rasi, onde mora, buscar a sobrinha de 3 anos na escolinha municipal do Jardim Mendonça e ficar na casa da irmã cuidando da garota até o pai da criança chegar e levar o cunhado de volta para casa. Mas agora Priscila já começa a se preocupar, porque o irmão já está moço e quer um novo trabalho.
Sua irmã, a doméstica Aparecida de Fátima Alves Monteiro nunca deixou nenhum dos seus três filhos, com 9, 4 e 1 ano e um mês, numa creche. Hoje, ela paga para a vizinha cuidar das crianças enquanto ela trabalha. É o maior sufoco, mas eu e meu marido preferimos que eles fiquem em casa. Já procurei vaga, mas quando se encontra é para um só. E os outros? Então, é melhor pagar para que todos fiquem juntos, diz.