Deficientes físicos e candidatos hospitalizados puderam fazer as provas para a Universidade Estadual Paulista (Unesp) em igualdade de condições aos demais vestibulandos. Pela primeira vez, a Vunesp, que neste ano recebeu mais de 85 mil inscrições, sendo 6.204 em Bauru, montou uma estrutura especial para receber estes candidatos especiais.
Provas em braile e em computadores formatados serviram de instrumento para seis vestibulandos em Bauru, sendo dois deficientes visuais, dois deficientes motores, mais dois estudantes com braços quebrados. Uma vestibulanda que estava hospitalizada fez requerimento de prova especial, mas teve alta antes do início das provas.
Desde que foi criado, o vestibular da Vunesp prepara provas em braile para deficientes visuais, mas até o ano passado os candidatos tinham que se dirigir a São Paulo para realizá-la. O desmembramento vem não só cumprir o estatuto dos deficientes físicos, mas também dar chances a estas pessoas de ingresso à universidade. Dessa maneira também foram colocados computadores para deficientes motores. Como urnas eleitorais, os computadores vêm lacrados da Reitoria para as unidades. As provas para casos especiais são as mesmas aplicadas a todos os alunos.
Uma equipe de profissionais também é colocada à disposição destes alunos. No câmpus de Bauru, dois deficientes motores estão prestando o vestibular, cada um ocupa uma sala com a companhia de um coordenador e um fiscal fica fora das salas para acompanhá-los em caso de eventualidade ou de ida ao banheiro. Há também uma técnica em computação de plantão pronta para resolver qualquer problema. Entre as medidas tomadas pela Vunesp para ajudar os vestibulandos especiais, está o aumento do tempo de prova em uma hora.
Para usufruir do benefício o candidato deve enviar à coordenadoria da Vunesp um pedido de prova especial detalhando o caso. A solitação só será aceita se a justificativa do problema for acompanhada de laudo médico.
Euforia
O técnico em comunicação Emílio Carlos Figueira da Silva, 32 anos, que tem problemas motores causados por paralisia cerebral, ficou muito contente e surpreso com a novidade. Um computador facilita na hora de responder. O vestibulando trabalhou com jornalismo durante nove anos em São Paulo e mais oito no Centrinho. Agora quer realizar o sonho de ser pesquisador na área de Psicologia para ajudar na descoberta de mecanismos para a reabilitação de pessoas. Para ele, a prova dissertativa de ontem foi muito fácil, mas no primeiro dia achou as questões de Exatas mais difíceis. Psicologia é o curso mais concorrido no câmpus de Bauru.
Com o mesmo problema de coordenação motora, mas com a mesma garra, o estudante Carlos Frederico Tidei de Lima, 19 anos, fazia prova para Ciências da Computação. Ele estava supersatisfeito por encontrar num vestibular público o mesmo recurso que encontrou em duas outras entidades particulares, a FGP, de Pederneiras, onde foi aprovado em Sistemas de Informação, e na Universidade do Sagrado Coração, onde aguarda o resultado do vestibular para Análise de Sistemas.
A deficiência moderada é apenas física e não atrapalha seu desenvolvimento mental. Ele nunca foi reprovado e apesar da dificuldade ao falar, o jovem faz refletir: a universidade devia se modernizar e desenvolver uma prova unificada que usasse mais da criatividade do aluno.
O pai de Frederico, o historiador João Tidei de Lima, dividia com o filho a alegria da conquista, que é um marco para a cidadania. Ele compara o tratamento oferecido pela universidade ao cuidado que o filho recebeu das escolas que o acolheram desde criança, sem discriminação. O professor que solicitou a prova especial à Vunesp através da Promotoria Pública, acredita que a partir do próximo vestibular a novidade será facilitada e difundida amplamente para que muitos usufruam do benefício.
O estudante Gustavo Rebeque Machado, 18 anos, tem 100% de perda de visão, está prestando Radialismo e veio de Bernardino de Campos para fazer sua prova em braile, em Bauru. Ele aponta que o tempo de cinco horas para fazer a prova no seu caso é providencial, pois a escrita braille leva mais tempo para ser lida. É uma atitude sensata, é compreensível da parte deles, até mesmo porque minha prova é em duas vias. Resolvo tudo e uma pessoa da organização passa as respostas no gabarito, que é o mesmo para todos. Amanhã (hoje) na redação vou ter que fazer um ditado. Mas ele já está acostumado com a fluência verbal, pois trabalha há algum tempo em uma rádio na sua cidade. Mesmo com toda a dificuldade, incluindo a das matérias Exatas, Gustavo está confiante em acrescentar logo o diploma universitário ao seu currículo.
Abstenção aumenta
No segundo dia do vestibular da Unesp, a coordenadoria da Vunesp registrou um índice de abstenção de 7,01%, aumentando em 2% em relação à primeira prova.
Segundo Lydia Savastano Ribeiro Ruiz, coordenadora do vestibular em Bauru, este crescimento é considerado normal. Ela aponta que na prova de hoje, a de redação, o índice deve chegar a 10%. Até agora os números não oscilaram em relação ao ano passado.
Mas é uma seleção natural: quem acha que foi mal na prova de conhecimentos gerais, abandona os conhecimentos específicos e quem se deu a segunda chance, mas acredita que foi em vão, não comparece para fazer a redação.