07 de dezembro de 2025
Ser

Que saudade!

Gustavo Cândido
| Tempo de leitura: 4 min

“A saudade está diretamente ligada à falta de alguém ou alguma coisa que a pessoa ‘teve’ em certo momento de sua vida e não tem mais”, explica a psicóloga Maria Regina Vanin. Isso significa que ela pode surgir com a lembrança de um objeto, um lugar, um animal ou uma pessoa. Qualquer coisa com qual a pessoa tenha criado um vínculo afetivo. De acordo com a psicóloga, todas as pessoas têm saudade de alguém ou alguma coisa, porque criar laços é comum entre os seres humanos. Todos nós temos por hábito investir efetivamente em outras pessoas, coisas e até objetos e assim estabelecemos um elo com eles. “São referências que criamos. A saudade surge quando a pessoa se afasta disso, pois há uma sensação de perda”, afirma Maria Regina Vanin.

O tempo é grande vilão dessa história, pois o seu implacável curso acaba sendo uma das principais causas de afastamento entre as pessoas e seus “objetos” de afeto. Por isso tantas pessoas têm saudade da infância, da adolescência... “Sinto muita saudade da minha vida na casa dos meus pais, quando era pequeno, porque tinha tudo o que queria”, diz o funcionário público João Elias Xavier. “A vida é muito tranqüila na juventude, tudo é alegria, brincadeira. Havia mais fartura. Toda vez que me lembro de quando tinha 8 ou 9 anos tenho saudade”, completa. Para a tradutora Alicia Tavares, a saudade da infância sempre vem acompanhada da lembrança do pai, falecido quando ela tinha 8 anos. “Tenho saudade da época em que ele brincava comigo e me levava para cima a para baixo. Era muito bom”, conta emocionada.

Sensação gostosa

A universitária e professora de francês Lívia Araújo tem muita saudade do período de cinco semanas que passou na Europa, onde conheceu Portugal, França e Holanda. “Sinto porque foi uma conquista minha, ninguém pagou para mim e foi a realização de um sonho que eu tinha desde pequena”, explica. Por causa da profissão, Lívia está em contato direto com sua grande saudade. “Tenho uma saudade constante, principalmente da França, porque uso as experiências que tive lá nas minhas aulas. É uma sensação gostosa”, revela.

Sentir saudade não é considerada uma coisa ruim pela maioria das pessoas. “Gosto muito de sentir saudade, mesmo que isso me faça lembrar de que estou ficando mais velha”, diz a designer Juliana Santos, cuja principal saudade são as férias na adolescência que passava na casa da avó, em Campos do Jordão, ou na praia. “Foi um período muito feliz da minha vida, porque além de ter a minha avó, era aquela época dos namoradinhos, das festinhas”, recorda.

O comerciante Aloísio Nunes adora sentir saudade porque revive a época em que era magro. “Nunca mais vou ter o físico de antes, por isso gosto de lembrar de quando era moço. Tudo dessa época me traz uma saudade boa”, diz. O técnico em eletrônica Fábio Rogério Santos concorda que é bom sentir saudade, mas lembra que há um limite para isso. â€œÉ bom lembrar do passado, com certeza, mas pode ser um problema se virar uma obsessão”, alerta.

Saudade boa ou ruim

O perigo apontado por Santos tem um certo fundamento, por que a saudade é, no geral, uma sensação positiva, mas que também pode acabar fazendo mal. Na opinião de Maria Regina Vanin, é até possível dividir a saudade em dois tipos: a dolorida e a nostálgica. A primeira seria aquela que se baseia na sensação de uma perda irreversível, como da morte de uma pessoa querida ou de uma fase que não volta mais. A segunda, mais leve, seria a constatação de que algo passou e ficou para trás, mesmo que tenha sido bom. “A saudade pode ser ruim se a pessoa não criar novos vínculos e ficar preso no passado”, afirma. Um exemplo citado pela psicóloga é de uma pessoa de 40 anos que tem saudade dos 20 anos porque nessa época tinha um namorado e depois dele nunca mais teve outro. â€œÉ normal passar por um período de tristeza depois de uma perda, mas também é normal descobrir novas respostas afetivas. Isso é saudável”, explica. Por isso, o ideal é equilibrar a saudade e não se tornar escravo dela. “As pessoas precisam estar abertas para o ‘novo’, superar perdas é não ficar preso no passado”, ensina a psicóloga.

“ Saudade!

És a ressonância. De uma cantiga sentida, Que, embalando nossa infância, Nos segue por toda a vida! ”

Da Costa e Silva, em “Pandora”