07 de dezembro de 2025
Regional

São Carlos vai ter Pólo Ecológico

Ricardo Santana
| Tempo de leitura: 7 min

São Carlos - Quando sair das pretensões políticas e passar a funcionar, o Pólo Ecológico dará um grande salto na educação ambiental em São Carlos. Não por estar em uma área gigantesca, mas por promover a integração de estruturas ambientais hoje desconectadas e, por isso, funcionando separadamente.

Formarão o Pólo Ecológico de São Carlos o Parque Ecológico, o Horto Municipal, a horta ecológica, a unidade de produção de matéria orgânica, a unidade de produção de mudas nativas e as nascentes e captação de água do córrego Espraiado. Esse projeto recupera a tradição ecológica da cidade ligada à araucária, espécie de árvore encontrada em grande abundância quando da fundação do município de São Carlos do Pinhal.

Esse complexo é um projeto que já faz parte do Plano Plurianual do Governo Municipal e mobiliza as secretarias de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia e a de Agricultura e Abastecimento. O secretário de Desenvolvimento Sustentável, Francelino Grando, explica que necessita-se de financiamento extra para tornar viável o Pólo Ecológico.

“Deve ser custeado com recursos que nós consigamos fora. Com Agências de Fomento e Ministério do Meio Ambiente”, aponta, dando idéia de algumas parcerias que podem tornar realidade o megaespaço ecológico. O setor privado também é uma opção, como empresas do porte da Volkswagen, que já desenvolve um trabalho em conjunto com o Parque Ecológico.

Do ponto de vista administrativo, Francelino Grando explica que é necessário um Plano Diretor criando uma unidade de administração e uma filosofia de trabalho para a disponibilização ao público e pesquisadores desse conjunto de recursos ambientais.

Articulação

O Pólo integrará diversos equipamentos hoje desarticulados e funcionalmente distintos, porém formando um cinturão. Na visão de Grando, esse complexo seria ideal para mostrar uma parte significativa dos recursos ambientais do município.

O Parque Ecológico abriga a fauna, o Horto Municipal, as espécies da flora, a reciclagem de resíduos numa estrutura de produção de matéria orgânica onde, atualmente, se localiza a horta e a horta que seria transformada em um modelo de produção de legumes e verduras, com adubação orgânica – com proteção de defensivos agrícolas naturais.

Complementado essa estrutura, tem-se a indispensável contribuição do córrego Espraiado, com nascentes dentro do campus da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

â€œÉ uma continuação do Parque Ecológico, porque ser uma propriedade da Prefeitura e não da universidade. A UFSCar vem cuidando disso, mas é um bem público municipal”. O Saae capta do Espraiado a água para o abastecimento da cidade.

Horto será usina de produção de mudas

Um convênio firmado com a Fundação Florestal do Estado de São Paulo – aprovado no final do ano passado pela Câmara Municipal – autorizou o Horto Municipal a receber a doação de mesas de plantio, além de tubetes e sementes suficientes para a produção de um total de 600 mil mudas, ao longo de um período de três anos – 150 mil no primeiro ano, 200 mil no segundo e 250 mil no terceiro –, “criando uma verdadeira usina de produção de mudas”. Essas 600 mil mudas serão fornecidas basicamente ao Programa “Plantando o Futuro” e usadas na recomposição das matas ciliares do município. Instalado numa área de dois alqueires e meio na estrada municipal Guilherme Scatena, logo após o Parque Ecológico, o Horto Municipal “Navarro de Andrade”, durante o ano de 2001produziu cerca de 5 mil mudas e recuperou outras 5 mil. Há ainda cerca de 20 mil mudas em desenvolvimento. Esses expressivos resultados foram obtidos apenas utilizando-se a infra-estrutura e o material existentes.

O secretário explica que o Horto já passou por momentos de maior visibilidade, quando era muito visitado por sua beleza, época em que o espaço era gerador de mudas. O que mudou foi o descuido administrativo que fez com que o espaço perdesse o seu viço. “Ele foi sendo desleixado e acabou virando ‘terra de ninguém’. Apesar dos funcionários de idade serem ótimos. São caprichosos e carinhosos com o que fazem. De vez em quando, a administração exilava alguém malquisto para lá”, avalia o secretário. Agora, o Horto, na opinião de Grando, necessita ser revitalizado para se tornar uma usina de produção de mudas para o programa “Plantando o Futuro” e, também, para a produção de mudas ornamentais para o plantio em praças e jardins.

Cara nova

Até o final de fevereiro, a Prefeitura deve inaugurar a sede do Horto Municipal “Navarro de Andrade”. Conforme o secretário de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia, Francelino Grando, a data deve ser definida pelo prefeito Newton Lima.

Francelino Grando acrescenta que a antiga casa de caseiro, que existia no local, foi reformada e agora servirá como escritório das chefias dessa unidade e da Divisão de Áreas Verdes, além de abrigar uma biblioteca especializada em Botânica e temas afins, um mostruário de sementes que serve como apoio a aulas de educação ambiental e também um laboratório, que será usado na produção de sementes.

“Ao entrar em funcionamento, o que espero possa ocorrer até o final do primeiro semestre deste ano, esse laboratório vai permitir a realização de um trabalho mais científico dentro do projeto de coleta e reprodução de sementes de espécies nativas que estamos iniciando, que deverá contribuir para alcançar as metas previstas pelo Programa ‘Plantando o Futuro’”, projeta o secretário.

Pesquisa

O laboratório fará estudos a respeito da germinação e viabilidade de sementes em geral. O biólogo Alberto Klefasz, chefe do Horto Municipal, ressalta que será constituído por equipamentos muito simples – bancadas para seleção e preparo de sementes, uma câmara fria para armazenamento e alguns vidros de ensaio –, mas embora sem maior sofisticação tecnológica possibilitará um grande avanço na produção de mudas pelo Horto, tanto as empregadas na arborização urbana quanto as de plantas ornamentais e as destinadas ao reflorestamento. No ano passado, foram plantadas cerca de 10 mil árvores nas margens dos córregos. No segundo semestre de 2001, iniciou-se um programa de plantio na área urbana, para compensar o gigantesco déficit de árvores na cidade. Já foram plantadas 4 mil mudas, aumentando em 20% o número de árvores na zona urbana.

Educação ambiental já ganha mais projeção

A questão da educação ambiental e sua relação direta com a coleta seletiva de lixo vem sendo alvo de comentários e discussões e, por isso, está começando a ganhar projeção. Mas ainda falta um maior reconhecimento por parte das autoridades e instituições locais para que se perceba que São Carlos está em um momento limite para tomar decisões a respeito da questão ambiental.

O vereador Lineu Navarro (PT) é um dos que demonstram interesse. Pelo menos mencionou o tema em discurso, há duas semanas, na Câmara Municipal, na sessão extraordinária para aprovação de verba suplementar para o processo de licitação da coleta do lixo na cidade.

Agora, o mesmo vereador petista enviou solicitação ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) para que implante um Grupo de Educação Ambiental para articular e ampliar os projetos que a empresa já realiza nessa área. Regularmente, a autarquia promove visitas de estudantes de escolas locais à Estação de Tratamento de Água (ETA).

Lineu visitou, recentemente, a ETA para conhecer detalhes de um projeto desenvolvido por funcionários do Saae que elaboraram um levantamento de todas as nascentes, açudes e represas que precedem o ponto de captação de água do córrego monjolinho, que abastece parte de São Carlos.Segundo ele, o trabalho relata a atual situação das nascentes e reservatórios, de suas encostas e as análises físico-químico e biológica da água nesses pontos. â€œÉ um exemplo de trabalho sério, que poderia ser incorporado a um plano mais audacioso de educação ambiental que o Saae já poderia estar desenvolvendo”, ressalta.

O vereador, em ofício encaminhado ao diretor do Saae, Jurandyr Povinelli, propõe a criação de um projeto de visitas programadas às nascentes, poços de produção de água e reservatórios, além da produção de material impresso e vídeos e realização de palestras em escolas e entidades da sociedade.