07 de dezembro de 2025
Articulistas

Nas mãos dos criminosos

Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque
| Tempo de leitura: 2 min

Como se não bastasse o empobrecimento ao qual vem sendo submetida, a classe média brasileira se vê acuada frente à falência da segurança pública, fato que vem provocando a explosão dos casos de seqüestros envolvendo pessoas desse estrato social.

O crime organizado segue um claro padrão de evolução. Inicialmente, no período militar, misturava-se presos políticos com assaltantes, gatunos e assassinos. Introduziu-se, na mentalidade do criminoso comum, padrões de racionalidade e de organização inexistentes anteriormente. Em geral, os meliantes agiam de forma individual, respondendo a desvios de conduta pessoais. Mas após aquele período de convivência e aprendizado, rapidamente o crime se organizou. Inicialmente, com objetivos políticos, os criminosos se concentraram em assaltos a bancos e em seqüestros políticos, cujo objetivo era o de levantar recursos para a guerrilha e para operações de resgates de presos políticos.

Com a redemocratização, as estruturas do crime com objetivos políticos evoluíram para o crime comum, concentrando-se nos assaltos a bancos, que predominaram nas décadas de 80 e até meados de 90. E mais recentemente, para o roubo de cargas. Hoje, o padrão mudou completamente. A adoção de técnicas de proteção adquiridas pelas empresas no florescente mercado de segurança dificultou a ação dos criminosos, que passaram a usar os mesmos métodos e padrões organizacionais em ações contra pessoas ou famílias. Indefeso e incapaz de se proteger mediante a contratação de segurança privada, o cidadão da classe média isolado se transformou no novo alvo do crime organizado. O seqüestro seguido de exigência de resgate em dinheiro passou a ser o grande filão do segmento criminoso. A natureza hedionda dos seqüestros, que estabelece um preço para a vida como se ela fosse uma mercadoria qualquer, soma-se agora à banalidade desse tipo de crime. A par da ação das quadrilhas altamente especializadas, surgiram os seqüestros-relâmpagos, praticados por criminosos cada vez mais inexperientes e tendo como vítimas pessoas cada vez menos ricas.

O seqüestro hoje pode ocorrer a qualquer hora e em qualquer lugar. Esse crime, que antes envolvia milhões de dólares, é praticado atualmente para se roubar algumas centenas de reais. A disseminação dos seqüestros envolvendo pessoas da classe média é mais um flagrante exemplo da falência da segurança pública no País. O criminoso vê nessa modalidade uma atividade rentável, cujo risco é baixo em função do esfacelamento de um serviço público típico, que deveria atuar no sentido de preservar o que cada um tem de mais precioso, que é a sua vida. Mesmo pagando cada vez mais imposto, a classe média está cada vez mais nas mãos dos criminosos. (O autor, Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque é deputado federal pelo PFL/SP e presidente da Comissão de Economia, Indústria e Comércio da Câmara dos Deputados)