Morador de Bauru há três anos, Francisco dos Santos conhece bem a cidade, mas a recíproca não é verdadeira. Nunca uma exposição sua foi realizada aqui e os seus trabalhos não correm no meio acadêmico.Ainda, porque o enigmático artista está saindo do casulo.
Desde o final do ano passado, seu site (www.francisco dossantos.com.br) recebeu as últimas correções e passou a receber visitas mais freqüentes, mesmo sem divulgação. Também sem nenhuma badalação, Francisco acaba de publicar o catálogo “Topografia de Um Homem Urbano e Outros Desenhosâ€, com desenhos feitos por ele entre 1986 e 2001.
Nos últimos anos, Francisco desenvolveu projetos para divulgar sua arte em outros suportes. Para o catálogo, a opção foi tinta e papel, espécie de golpe silencioso na arte contemporânea, ou o que convencionou-se chamar assim por falta de nomenclaturas. Nada de instalações monstruosas, nada de fotografias ampliadas com exagero, nada de videoarte. Mais: todos os desenhos do catálogo foram feitos com caneta esferográfica.
Além de buscar uma desmistificação do fazer artístico, usando um elemento do cotidiano, Francisco afirma que usa a “técnica†pela sua praticidade. “A caneta é uma coisa do dia-a-dia. Não importa a técnica, para criar dá para usar carvão, tinta, qualquer coisa.â€
Para ele, que também é poeta, com dois livros publicados, “M†e “Solilóquio†e o CD-Rom “O Golpe do Anti-Ceifoâ€, realizar seus trabalhos é uma maneira de existir. “Eu produzi os desenhos por expressão. Segundo alguns teóricos, a pessoa só existe a partir do momento que consegue se expressar. Senão você só está, não éâ€, argumenta.
Urbano
Como o nome diz, “Topografia de um Homem Urbano e Outros Desenhos†trata da cidade, do homem e de suas relações. “Isso é uma tendência hoje em dia, muitos artistas têm abordado esse assunto. Este mês acontece um evento em São Paulo chamado Arte-Cidade, que prevê intervenções artísticas em megacidades e a Bienal deste ano tem relação com a coisa urbanaâ€, contextualiza Francisco.
Na apresentação do catálogo, que tem projeto gráfico de Emerson Rocha, o crítico de arte e poeta Antônio Moura fez paralelos entre a fragmentação das cidades e dos homens.
“Os personagens dessa série são metáforas e alegorias do homem das cidades e, ao mesmo tempo, uma espécie de retrato naturalista às avessas, onde todos os destroços e mutações aberrantes interiores do homem, dilacerado na luta desumanizante que se desenrola nestes cenários angulosos que são as grandes cidades, vêm à tona, como um raio-X da almaâ€, analisa Moura.
“A cidade é um símbolo que sempre me interessou. O que mais me chama a atenção nela é como o homem se move dentro dessa estrutura e como nós ficamos limitados dentro dessa estrutura. Isso é uma coisa mais psicológica que propriamente uma observação de foraâ€, entrega Francisco.
“Eu associo muito a cidade com o labirinto. Quando você está dentro do labirinto, você tem que chegar ao centro para sairâ€, ensina. O catálogo pode ser encontrado na livraria Jalovi, nos Altos da Cidade e Centro.