07 de dezembro de 2025
Auto Mercado

Vale a pena ter mais de um carro?

Marcelo Ferrazoli
| Tempo de leitura: 5 min

Possuir mais de um carro na garagem já deixou de ser uma questão de luxo para famílias das mais variadas classes sociais. Virou uma necessidade e muitas pessoas optam por investir na compra de outro automóvel para conseguir cumprir os compromissos que aparecem por todos os lados.

Entretanto, o que quase ninguém pensa nessa hora é no impacto que esse tipo de conforto pode gerar no orçamento doméstico. Como reza um dos princípios da sabedoria popular, o carro é uma “família” e exige gastos de toda ordem, como combustível, impostos, manutenção, seguro e estacionamento.

Para o presidente do Sindicato dos Contabilistas de Bauru e Região, Cris Moreno, antes de efetuar qualquer negócio a pessoa tem de analisar sua condição financeira. “O importante é verificar o custeio que outros automóveis representam nas contas domésticas, pois muitos falam que o automóvel representa quase uma família”, afirma ele.

O sindicalista acrescenta que os custos dispendidos com os carros são altos. “Se pegarmos o valor do IPVA e dividi-lo por 12 meses veremos o quanto um veículo pode custar mensalmente só em termos de impostos. Nesse cálculo podem ser somados ainda as despesas com combustível, manutenção, seguro, desgaste e até uma possível multa”, afirma Cris.

Apesar disso, ele enfatiza que no seu caso não há como fugir desses gastos. “Ter um segundo carro é uma necessidade para quem precisa se deslocar constantemente de um lugar para outro. Minha esposa, se não tivesse um automóvel hoje, não teria como cumprir vários compromissos, como levar e buscar nosso filho na escola, inglês, e natação ou ir ao mercado”, considera Cris.

Ele recomenda que, no caso do automóvel ser adquirido através de financiamento, a prestação não ultrapasse a 15% da receita efetiva da família. Outro ponto importante, segundo Cris, é controlar a empolgação na hora de comprá-lo. “Use a razão e não o coração, pois a emoção é uma das que contribuem para o crescimento da inadimplência doméstica”, aponta o sindicalista.

Sem carros

Para o engenheiro bauruense Paulo Roberto Fernandes, se fosse para agir racionalmente, o ideal seria não ter carro. Ele justifica argumentando que com um pouco de negociação e organização boa parte das famílias poderia abrir mão dos automóveis e sentir um tremendo alívio no bolso. Entretanto, ele frisa que tal raciocínio só teria sentido se o sistema de transporte público oferecesse melhores condições aos usuários. “Com o valor que pago de IPVA, quantos dias de aluguel de um veículo ou de corridas de táxi não conseguiria pagar?”, questiona Paulo.

O engenheiro complementa destacando que algumas mudanças de hábito podem colaborar para reduzir os gastos com os carros. “Investimos para ter conforto na porta de casa e acabamos nos acostumando com os veículos. Mas programando-se um pouco pode-se andar de táxi e, com isso, não ter mais problemas com manutenção ou encontrar e pagar por vagas no estacionamento. Dessa forma, as despesas caem astronomicamente.”

Paulo, que passou a ter mais de um veículo quando adquiriu um Karmann Ghia (é dono ainda de uma perua Escort e de um Thunderbird), pensa em se desfazer de um deles para diminuir despesas. “Fica muito dispendioso pagar seguro, IPVA, manutenção e combustível de todos eles”, afirma ele.

Liberdade

O médico bauruense Arakem Fernando Carneiro, proprietário de dois veículos, considera que vale a pena ter mais de um carro pelo fato da liberdade que eles proporcionam. “Você não depende de ninguém e pode ir e vir a hora que precisar”, diz ele.

Arakem conta que resolveu preencher mais uma vaga na garagem por absoluta necessidade. “Não podia, por causa da minha profissão e das atividades da minha esposa, ficar com somente um veículo. É muito mais que um luxo. Se fosse assim gostaria de ter uma Mercedes ou um Volvo”, ressalta.

O médico salienta que não analisou o impacto que a compra de um outro carro poderia causar no orçamento doméstico. “Desde que me casei tenho mais de um automóvel, porque isso trouxe uma grande liberdade de locomoção. Logo em seguida vieram os filhos e, então, a mulher precisava buscá-los no colégio, na natação e no judô. Independente de qualquer cálculo, não podíamos, em hipótese nenhuma, ter apenas um veículo”, enfatiza.

Diante disso, o médico não acha vantajoso deixar de comprar um carro e optar pelo táxi, carona ou perua escolar para as crianças. Para ele, o automóvel é um investimento. “Se raciocinarmos em termos práticos, o dinheiro dispendido no aluguel de um veículo não retornará nunca, enquanto se você tiver seu capital investido em um veículo terá a chance de recuperá-lo”, conclui Arakem.

Professor desaconselha

Para o professor bauruense Arnaldo Pinzan, não vale a pena ter mais de um carro. Sua opinião é formada a partir da experiência vivida em sua residência com os automóveis da família.

Ele explica que, além dele e da esposa, seus três filhos têm veículos. “Com isso, o que acaba acontecendo?. Cada um vai para um lugar e os estaciona. Se calcularmos o capital que foi empregado para a compra dos automóveis, vale mais a pena ter um carro só e contratar um motorista”, pondera ele.

Além disso, Arnaldo chama a atenção para a depreciação que o preço dos carros sofre com o tempo, fato que irá comprometer uma possível revenda e o retorno do dinheiro aplicado no bem. “Os veículos têm um valor de venda que varia conforme seu ano de fabricação, independente da quilometragem do automóvel. Um zero quilômetro, assim que é tirado da concessionária, já sai valendo de 20% a 30% menos. Some-se a isso as despesas com licenciamento, IPVA, revisões, seguro. Quando você vendê-lo, acabará tendo um grande prejuízo”, diz ele.

No momento, segundo o professor, os carros estão atendendo as necessidades de seus filhos e é difícil tirar um hábito que já está inserido no dia-a-dia. “Mas não aconselho a fazer o que nossa família fez. O melhor mesmo é ter um pouco mais organização”, finaliza Arnaldo.