Quando os parisienses decidiram, em 1558, implantar tochas na frente de todas as casas, seu principal objetivo era garantir a segurança daqueles que transitavam pelas ruas. A intenção era prevenir o ataque repentino de ladrões e evitar os acidentes. De lá para cá, a iluminação pública tornou-se um item cada vez mais essencial à qualidade de vida nas cidades. Mesmo assim, quase cinco séculos depois, boa parte dos bairros de Bauru ainda convive com a escuridão.
Na realidade, mais de 90% das ruas da cidade estão “munidas†de postes e lâmpadas. No entanto, a claridade que eles oferecem é insuficiente. A própria Administração Municipal, num estudo realizado entre os anos 2000 e 2001, detectou e admitiu a necessidade de substituir 78% destas lâmpadas - são mais de 25 mil unidades. Na imensa maioria dos casos, elas precisam ser trocadas por produtos mais potentes.
De acordo com o engenheiro José Angelo Cagnon, chefe do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual Paulista em Bauru (FE/Unesp), as ruas da periferia são iluminadas com lâmpadas de 70 a 100 watts. Ele explica que o fluxo de energia emitido por elas é insuficiente para produzir o aclaramento necessário das ruas. Para o estudioso, o ideal seria usar lâmpadas de 250 watts.
Cagnon explica que a distância entre os postes nas vias públicas é de 45 metros, em média. A capacidade de iluminação de cada lâmpada tem que ser suficiente para chegar até o raio de ação da outra, de modo que não haja espaços escuros nas ruas. Com produtos de baixa potência, a claridade fica restrita à pequena área logo abaixo do poste, tornando o serviço inadequado.
“A iluminação pública passou por um período de melhoria com relação aos tipos de lâmpada. Antigamente, as luminárias tinham lâmpadas incandescentes, que não oferecem uma reflexão muito boa. Depois, foram colocadas as de vapor de mercúrio de 400 watts, que têm uma emissão forte e azulada. Com a necessidade de conservação de energia, surgiram as de vapor de sódio, que têm emissão amarelada e refletem mais luz com menor potênciaâ€, lembra.
A partir daí, as lâmpadas de vapor de mercúrio com 400 watts passaram a ser substituídas pelas de vapor de sódio com 250 watts. A iniciativa resultou na redução de 38% no consumo, com um ganho de 12% na eficiência luminosa. “Supondo que as lâmpadas ficassem acesas 11 horas por dia, as de mercúrio consumiriam 4,4 KW/hora por dia, enquanto as de sódio gastariam 2,7 KW/hora por diaâ€, exemplifica.
O problema é que, nos bairros periféricos, as lâmpadas de mercúrio foram substituídas pelas de sódio com menor potência, reduzindo a qualidade da iluminação pública. Paralelamente a isso, as luminárias implantadas também tiveram sua eficiência reduzida.
“O que a gente vê nos bairros são luminárias abertas, sem calota de reflexão. A lâmpada tem que jogar luz para baixo. O filme refletivo no interior da luminária aumenta em 30% o nível de iluminamento de uma única lâmpada. Já o vidro ajuda a difundir a luz, além de proteger o equipamento das intempéries e atos de vandalismo. Investir em luminárias é uma forma de economizar no número de postes e lâmpadas utilizadosâ€, comenta.
No entanto, o que se vê hoje pelos bairros de Bauru são pequenos pontos de luz sob os postes, mas que não conseguem iluminar toda a extensão das ruas. Culturalmente, as trevas são o cenário perfeito para atos criminosos e os moradores acabam confinados em suas próprias residências, com medo do que pode estar do lado de fora.
A Prefeitura chegou a planejar o melhoramento da iluminação pública, mas quando os problemas foram mapeados, as soluções traçadas e o orçamento levantado, o Governo Federal anunciou o plano de racionamento de energia elétrica. Então, ao invés de melhorar a iluminação pública, era preciso desligá-la.