Os atentados de 11 de setembro iniciaram a era do terrorismo globalizado. Cuidadosamente planejados, uniram em sua simbologia o ataque aos Estados Unidos como potência política, econômica e militar dominante, com a utilização de elementos de alta tecnologia convertidos em armas letais. Esta mescla de fanatismo religioso obscurantista com avanços técnicos acrescenta uma nova e terrível dimensão ao processo de globalização. Por isso, é tão importante contrapor com a reafirmação de valores universais de respeito à vida e aos direitos humanos, ao mesmo tempo em que se intensifica a necessidade de encontrar respostas culturais, socioeconômicas e políticas que atendam aos problemas mais graves da humanidade, reforçando a interdependência e evitando o temido choque de civilizações.
Em essência, o desafio é civilizar a globalização. Diante desta nova situação, é preciso encontrar respostas a perguntas feitas intuitivamente. A primeira é que a globalização não é intrinsecamente ruim, o problema é que não há o bastante. No momento, temos uma globalização financeira e econômica, selvagem, sem controle nem normas suficientes. A tarefa é civilizá-la, isto é, criar um contexto regulado e democrático. A solução não é pedir o fim da Organização Mundial do Comércio (OMC) ou do Fundo Monetário Internacional (FMI), como fazem muitos manifestantes, mas é preciso fortalecer e democratizar as organizações globais, a ONU e suas agências, a OMC, o FMI, a OIT e outras.
Hoje, o nó górdio central está em que falta governo à economia, e por isso é preciso aproximar, sincronizar os perímetros da economia e da política, como assinala, com razão, Tomasso Padoa-Schioppa. A experiência européia é ilustrativa neste campo. A primeira metade do século XX viu-se dominada pelas políticas protecionistas armamentistas, pelas afirmações nacionalistas, bem como pela manutenção dos impérios coloniais como mercados cativos. O resultado foram as duas guerras européias que acabaram em guerras mundiais.
A responsabilidade européia nesta hora é decisiva, como primeira potência comercial mundial, com uma moeda básica. No pós-guerra, foram os Estados Unidos o elemento decisivo para lançar as bases da arquitetura mundial; hoje, encastelaram-se em um desdenhoso e unilateral egoísmo manifestado na não-adesão ao Protocolo de Kyoto sobre mudança climática. Cabe cada vez mais à União Européia tomar a iniciativa como fez em Bonn ou como no terreno comercial, com o perdão da dívida dos países mais pobres ou suprimindo barreiras alfandegárias para a importação dos 48 países mais pobres do Planeta.
No entanto, não basta apenas isso, é preciso defender novamente as negociações da Rodada do Milênio da OMC, com base em um comércio livre e equilibrado, com uma consideração dos direitos humanos e trabalhistas e do meio ambiente, porque o desenvolvimento sustentável não é apenas um privilégio dos ricos. E sobretudo, a União Européia tem de avançar na construção de uma resposta democrática e civilizada à globalização, tanto em sua própria casa quanto no reforço das instituições internacionais, cuja missão deve ser responder ao interesse geral. Tocqueville dizia que a crise da democracia deve ser respondida com mais democracia; Amartya Sem demonstrou que nas democracias não são conhecidos casos de fome generalizada.
A melhor resposta à globalização não é fechar-se na aldeia com saudades de um passado idealizado, mas é dar uma resposta civilizada e democrática em nível global. Um de nossos maiores desafios é saber encaminhar e aproveitar o potencial de generosidade e interesse que demonstra que as causas nobres podem motivar e moralizar, ao mesmo tempo, pessoas de diversos países e continentes.
(*) O autor, Enrique Barón Crespo, é presidente do grupo socialista do Parlamento Europeu