Se em médio ou longo prazo, em determinado dia, as pessoas puderem voltar a circular tranqüilamente pelas ruas, no período noturno, à procura de uma farmácia, ou se vizinhos puderem voltar a colocar cadeiras nas calçadas para jogar conversa fora, no crepúsculo, ou, ainda, retirar as grades de suas “prisõesâ€, parece que terá acontecido um fenômeno natural, uma transformação espontânea, sem qualquer participação de nossas autoridades. Para sintetizar, caso a violência exacerbada desapareça, isto ocorrerá de maneira inexplicável, isto é, se dará da mesma forma como surgiu.
Para não dizer que as autoridades governamentais - e mesmo outros segmentos da sociedade - não têm alterado as cifras alarmantes desse drama vivido pela população, poderíamos afirmar que alteram, sim. Mas para pior.
Recentemente, a Nação retomou aquilo que ocorre ciclicamente, isto é, um forte desejo, uma premente necessidade de dar um basta na violência. Os motivos para isso foram quatro (?) crimes que abalaram o País: que vitimaram o prefeito de Campinas, o Toninho do PT; o prefeito de Santo André, Celso Daniel, uma senhora seqüestrada em Campinas, assassinada diante de sua própria casa, e o seqüestro do publicitário Washington Olivetto. Como parece que crime neste Brasil é coisa rara, esses fatos acima descritos fizeram com que as nossas autoridades acordassem para o problema.
E, como das outras vezes, é reiniciado o debate a todo vapor, como o jacaré que abre os olhos diante do barulho, para depois voltar a fechá-lo, em seu pesado sono, sem ao menos mexer o corpo. Neste ínterim, discute-se se a Nação deve adotar a pena de morte, a prisão perpétua e a maioridade de menores de 16 ou 17 anos para fins de condenação, igual aos adultos etc. A proibição da venda de armas também se inclui neste contexto.
Isto tudo, porém, de nada adianta. Pena de morte, perpétua, proibição de armas, menores condenados etc. são temas que no Congresso brasileiro terminam empatados. Sem contar o lobby, o apoio que os bandidos desfrutam em meio da sociedade brasileira. Na terça-feira (5/3) a Polícia Militar paulista fez o que deveria fazer. Aniquilou com 12 bandidos que já haviam colocado em curso um megaassalto. Uma bela vitória entre muitas derrotas que sofre. Pois os sicários nem haviam ainda sido colocados nos caixões e já havia sido iniciada uma corrida em sua defesa.
Dias atrás, policiais que flagraram alguns pichadores em ação, em São Paulo, fizeram com eles, usando suas próprias tintas, o que essas turbas fazem, normalmente de maneira impune, com qualquer muro, prédio, monumentos históricos, etc. Sem contar que lhes deram os merecidos - e por grande número de pessoas endossados - pescoções. E não é que os pichadores ganharam - diante da sociedade boquiaberta - a solidariedade e o apoio de uma grande rede de TV! Daí minha tese: vai continuar como está, na melhor das hipóteses. Porque poderá piorar...
(*) O autor, B. Requena, é editor do Internacional