07 de dezembro de 2025
Polícia

Seqüestro-relâmpago em Bauru termina com acusado morto

Fabiana Teófilo
| Tempo de leitura: 8 min

O laboratorista Ricardo Martinez Lopes, 22 anos, foi seqüestrado na madrugada de ontem em Bauru. Ele foi vítima de uma emboscada que teria sido armada por cinco homens, sendo um deles o seu primo, Gedelson Lopes Carlos, 28 anos. Pelo que a Polícia Militar (PM) apurou, Carlos é que comandou o seqüestro. Um dos acusados foi morto durante troca de tiros com a PM.

Por volta da 1 hora da madrugada de ontem, Lopes, que estava passeando pela avenida Getúlio Vargas, recebeu um telefonema de um homem que afirmou estar com seu irmão mais novo. Este homem falou para Lopes sobre as características físicas de seu irmão, do carro dele, inclusive deu detalhes dos amassados do veículo, endereço da casa dele e outras informações sobre sua família. O interlocutor disse que se Lopes não chegasse ao local indicado por ele em dez minutos seu irmão seria morto.

Ainda durante o telefonema, Lopes foi orientado a levar seu cartão do banco e que fosse com seu carro, um Ford Ka, à entrada da favela São Manoel, local marcado pelo interlocutor. Nesse momento, Lopes contou que não pensou em nada a não ser livrar seu irmão dos seqüestradores. Como foi orientado, ele dirigiu-se à favela São Manoel em seu carro, sozinho.

No local, Lopes encontrou dois homens, que o abordaram. O laboratorista entregou seu cartão do banco com a senha, a chave do seu carro e pediu aos homens que devolvessem seu irmão. Nesse momento, ele descobriu que os homens não estavam com seu irmão, percebendo, então, que havia caído numa emboscada.

Mas já era tarde. Os dois homens impediram Lopes de ir embora e o levaram para um matagal nas proximidades da favela, perto da linha férrea. Lopes, que o tempo todo teve um revólver apontado para sua cabeça, conta que não foi agredido. “Não me amarraram, não me amordaçaram e não me vendaram”, diz.

Os seqüestradores, segundo ele, se alternavam para vigiá-lo, sempre armados de revólver. Lopes conta que os dois homens o obrigaram a percorrer vários locais no meio do mato. “Eles diziam que iriam esperar o dia amanhecer para que pudessem ir até o banco sacar o dinheiro. Eu tinha apenas R$ 380,00 no banco”, conta.

Às 4 horas da madrugada, a dupla pediu para Lopes telefonar para seu pai e tranquilizá-lo pela demora. “Eu pedi desculpas por acordar meu pai e avisei que estava com alguns amigos e iria demorar um pouco para voltar para casa”. O pai de rapaz, José Aparecido Lopes, disse ter estranhado o telefonema do filho, mas aguardou.

Às 6 horas, Gedelson Lopes Carlos, o primo da vítima, foi até a casa do rapaz. Carlos disse ao tio que Lopes estava nas mãos de bandidos e que precisava de R$ 380,00 para libertá-lo. O pai de Lopes, no mesmo instante, chamou seu cunhado e vizinho, que é policial militar. Os dois colocaram Carlos dentro do carro e se dirigiram até a Base Comunitária Noroeste da Polícia Militar.

Com as informações passadas por Carlos, os policiais armaram um cerco na favela São Manoel. Carlos, que até então dizia querer ajudar, foi até o local onde estariam os seqüestradores. Alguns policiais entraram no mato, nas redondezas da favela. Foi quando um dos policiais ouviu Carlos avisar os dois homens que ainda mantinham Lopes sob ameaça que a polícia estava por perto.

Um deles, um adolescente de 17 anos, foi abordado nesse momento por um dos policiais que fazia o cerco. O outro, conhecido como “Magrão”, tentou fugir e trocou tiros com os policiais. Ele ficou gravemente ferido, foi socorrido ao Pronto-Socorro Municipal (PSM) e morreu na tarde de ontem. Até o fechamento desta edição ele não havia sido identificado. Um policial também teve ferimentos leves.

Além dos dois homens, durante a operação, a Polícia Militar deteve o ajudante geral Lincon Rogério da Conceição, 25 anos, e o auxiliar de produção Juliano Jorge Pereira, 20 anos. Eles foram acusados de estarem envolvidos no seqüestro. O primo de Lopes também foi preso, igualmente acusado de envolvimento.

De acordo com o comandante interino da 3.ª Cia da PM, tenente Renato Ramos, o primo da vítima devia cerca de R$ 2 mil para os outros envolvidos no caso. A Polícia Militar acredita que Carlos planejou todo o seqüestro, fornecendo os dados de Lopes e de seu irmão.

A Polícia Militar apreendeu um revólver calibre 38, o relógio da vítima já que estava com um dos acusados presos. O aparelho de som do carro de Lopes desapareceu, mas o carro, que estava nas proximidades do matagal foi recuperado.

Até o fechamento desta edição, os quatro homens detidos pela PM - o adolescente, Carlos, Conceição e Pereira - estavam sendo ouvidos pelo delegado plantonista. Carlos, segundo a polícia, tem passagem anterior por furto e roubo.

Emboscada

Pelo que a Polícia Militar apurou, a história do seqüestro do irmão de Ricardo Martinez Lopes foi uma forma de atraí-lo. Supostamente, a dupla queria que o rapaz fosse para um local ermo, onde poderiam pegar seu cartão bancário e depois fazer saques, sem serem descobertos. Eles teriam aproveitado a onda de seqüestro na Capital, que já chega ao Interior para forjar a história.

O tenente Renato Ramos, comandante da Base Noroeste, disse que numa situação semelhante à vivida por Lopes a pessoa deve acionar a polícia imediatamente. Nunca, orienta Ramos, ir ao encontro dos ladrões ou seqüestradores.

José Aparecido Lopes, pai da vítima, disse que pretende tomar medidas de segurança para toda sua família. “Nós estamos assustados. Preciso proteger minha família, por isso vou tratar de providenciar mais segurança para meus filhos e minha esposa”, afirmou.

Vítima achava que iria ser morta

Jornal da Cidade - Como foi o telefonema que informaram sobre o seqüestro de seu irmão? Ricardo Martinez Lopes - Ele me disse que conhecia toda a minha família, meu irmão. Deu a descrição certinha da minha casa e falou que estava com o meu irmão, que se eu não me apresentasse com o meu veículo e meu cartão do banco em dez minutos ele iria “dar um jeito” no meu irmão.

JC - Qual foi sua primeira reação? Lopes - A primeira coisa que eu fiz foi correr ao lugar onde ele indicou e fui entregando o carro e o cartão e eu dizia: está aqui o que você quer. Mas não ocorreu como eu imaginava. Ele me abordou e me levou e eu fiquei nas mãos deles até as 9h30 de hoje (ontem).

JC - Você não teve medo de ir sozinho ao encontro dos seqüestradores? Lopes - E como! Mas na hora que eu recebi o telefonema eu só pensava em ir até lá e salvar o meu irmão. Eu tinha que entregar o que eles queriam e salvar o meu irmão.

JC - Em algum momento você pensou que ia morrer? Lopes - Em muitos momentos.

JC - Eles chegaram a te ameaçar? Lopes - Ameaçaram sim diversas vezes. Com a arma na minha cabeça, eles diziam que eu ia morrer. Principalmente quando a polícia cercou eles falaram para correr e, se eu não corresse, eles me matariam ali mesmo.

JC - Com quantos seqüestradores você teve contato? Lopes - Eu sei que eram mais do que dois, mas eu só vi os que revezavam tomando conta de mim com a arma apontada para mim.

JC - Em algum momento você foi amarrado ou amordaçado? Lopes - Não, não. Eu fiquei só mesmo com a arma apontada para mim e eles diziam que ou eu colaborava ou eles me matavam.

JC - O que passava pela sua cabeça naquele momento? Lopes - Eu pensava que eu ia morrer, que minha vida tinha acabado. Principalmente quando eles me mandavam caminhar e um ia atrás com a arma, eu pensava, agora eu morri, ele vai atirar.

JC - Eles chegaram a te agredir? Lopes - Não, não fizeram nada disso.

JC - Pelas informações da polícia foi seu primo, Gedelson, que arquitetou esse seqüestro? Lopes - Foi. Meu primo passou as informações da minha família. Me parece que ele devia dinheiro para esse pessoal e me deu como garantia. Falou para os caras que eu era de família rica e mandou os caras atrás de mim.

JC - Qual seu relacionamento com seu primo? Lopes - É um primo que a gente não conversa, não tem contato. Ele seguiu o caminho dele e eu segui o meu, mas ele tem informações da família.

Segundo caso em menos de uma semana

O seqüestro de Ricardo Martinez Lopes foi o segundo em menos de uma semana em Bauru. Na quarta-feira passada, o fazendeiro João Lourival Arantes foi rendido por três homens quando abria a porteira de sua propriedade. Sob ameaça de revólver, ele foi levado pelo trio e amarrado a uma árvore, no meio do mato, às margens de uma estrada que liga Bauru a Piratininga.

No mesmo dia, o filho do fazendeiro recebeu um telefonema de um dos seqüestradores, que pediu R$ 50 mil para libertar Arantes. As polícias Civil e Militar foram informadas e passaram a investigar o caso, até prender um rapaz, na entrada de um motel da cidade, que levou os policiais até o cativeiro. Arantes, que estava amarrado há 21 horas, foi solto ileso, sem que o resgate fosse pago.