A falta de iluminação, a deterioração e o abandono das praças públicas está tirando do cidadão contemporâneo uma das únicas opções gratuitas de lazer. O espaço que reuniu pessoas de todas as profissões e níveis sociais durante séculos tem trocado o antigo glamour pela criminalidade, prostituição e circulação de drogas. Uma degradação que dá medo e afasta o munícipe.
De acordo com a professora de Paisagismo do Departamento de Arquitetura da Universidade Estadual Paulista (Unesp-Bauru), Norma Constantino, a “morte†dos espaços públicos é causada pela falta de “olhosâ€.
“A afirmação é de uma escritora que, nos anos 60, avaliou cidades norte-americanas. Ela comenta que, antigamente, quando você deixava seus filhos brincando na praça, sempre tinha um vizinho com a janela aberta que cuidava. Além disso, você conhecia as pessoas que freqüentavam aquele lugarâ€, ressalta.
Ela observa que, hoje, as janelas foram isoladas por grandes muros e portões, rompendo a ligação que havia entre os espaços público e privado. “Você se sente um estranho passando ali. Isso dá a sensação de insegurançaâ€, completa.
Constantino salienta, como exemplo, que o ponto de encontro dos jovens em Bauru, ao invés das praças, tem sido a avenida Getúlio Vargas. “Justamente por ser um local de muito movimento, onde todos são vistos e vêem. Onde existem ‘olhos’â€, reitera.
Descuido público
Para o comandante a 1.ª Companhia da Polícia Militar de Bauru, capitão Benedito Roberto Meira, o que afastou o cidadão das praças foi o descuido por parte do poder público. Ele lembra que, quando a Praça Rui Barbosa foi remodelada, em 1992, resgatou-se essa função de reunir pessoas. Havia recitais, música aos finais de semana, uma bonita fonte, carrinho de pipoca e algodão-doce.
“Era uma forma de levar a família para passear e ter um divertimento gratuito. Só que ela foi se deteriorando, vândalos começaram a urinar e nadar no chafariz, os bancos e calçada quebrados não foram reformados, as pessoas começaram a depositar lixo ali, causando mau cheiro, o banheiro está mal cuidado, enfim, acho que o poder público abandonou a praçaâ€, lamenta.
Meira confirma que o local, hoje, é freqüentado por prostitutas, menores infratores e pessoas ligadas a drogas e criminalidade, além de uma ocupação desordenada pelos ambulantes, que tira a beleza do local. “Não fosse por isso, as famílias ainda gostam de ir à praça. Basta ver o movimento na Praça da Paz â€, observa.
Outra observação feita pelo policial é a falta de atrativos nos espaços públicos da cidade. Como exemplo, ele cita a Praça Portugal, que está entre as maiores no município, localizada numa região nobre, porém, abandonada. “Não há um coreto, uma atividade cultural, ou um playground ali. Apenas bancos, árvores e grama, que não atraemâ€, comenta.
Na opinião dele, a falta de incentivo à presença familiar resulta em problemas de segurança, pois o abandono torna o local convidativo aos desocupados. “E até a atuação da polícia é complicada, porque a viatura é facilmente avistada e eles têm tempo de livrar-se do objeto suspeito e fugirâ€, acrescenta.
Meira diz acreditar que bastaria melhorar o ambiente, proibir a venda de bebidas alcoólicas nas imediações e oferecer atividades culturais para estimular a volta das famílias para estes espaços. Isso devolveria uma opção de lazer e reduziria a utilização imprópria das praças.