07 de dezembro de 2025
Tribuna do Leitor

Vício do fumo

Maristela Figueiredo de Almeida
| Tempo de leitura: 2 min

Sou uma viciada. E por isso venho de alguma forma contribuir para entender o sofrimento de todos os que passam as agruras de um vício. Uso uma substancia química que, tenho certeza, é tão poderosa quanto a cocaína no seu efeito viciante. Também é tão cara quanto aquela, também causa um trauma social de tamanhas proporções. Sou viciada em nicotina. Não apenas sou fumante, pois este termo nos dá a entender que gostamos do que ingerimos, de que não deixamos de fumar porque não temos força de vontade para tal ou vergonha na cara. Somos fracos, sim, somos pouco diante da dependência química que nos atraca ao vício da nicotina.

Mas esse não é o pior estigma que enfrentamos. Temos que aceitar ainda o fato de que o governo se beneficia do nosso vício, através dos 45% de impostos que recaem sobre o cigarro. Tudo bem que não mantemos uma organização criminosa de tráfico, mas nosso governo se beneficia como aqueles do tráfico, com todo a dinheiro levantado com os altos impostos. Porém, sustentamos multinacionais inescrupulosas, a corrupção, o favorecimento e por aí vai.....

Isto dói mais que o pigarro insistente ou as caras-e-bocas dos não-fumantes....

Para piorar a situação, hoje ao comprar minha dose de nicotina diária, dou de cara com uma foto terrível de um fumante em estado terminal de câncer. Meu Deus, se isso me fizesse parar de fumar eu assistiria 24 horas por dia aqueles filminhos das palestras educativas, que já vi inúmeras. Na verdade, isso só aumenta meu sofrimento.

Se é assim, então, será que a cada mesa ou pia de mármore que comprasse, viesse na embalagem uma foto com as criancinhas de até 3 anos de idade trabalhando sob o sol ardente numa das pedreiras da marmoraria, conseguiríamos resolver o problema do trabalho infantil?!

E no pacote de farinha de mandioca? Teria uma foto com todas aquelas mulheres e seus bebês, trabalhando 15 horas por dia e recebendo ao final R$ 0,80.

Melhor, ao comprar um carro, modelo esportivo, superluxo, em seu interior viesse estampado vítimas de acidentes automobilísticos, com suas cabeças decepadas, membros estilhaçados e sangue por todo lado...dizendo...“Use com moderação”... Mostre a um alcoólatra um cadáver com o fígado deteriorado pela bebida... provavelmente ele precisará tomar “uma” para suportar. Definitivamente, não defendo o vício, mas não é por aí que vamos acabar com ele.

E será que a Souza Cruz, a Philips Morris, o próprio governo querem eliminar o vício ou fazer com que FUMEMOS MODERADAMENTE... Querem ajudar a desintoxicar-nos? Querem que paremos de fumar? Ótimo, concordo, mais do que isso, espero, desejo. Mostre a solução, diga como, dê a receita... Mas, por favor... seja honesto... (Maristela Figueiredo de Almeida - RG: M-4.637.096 - SSP/MG)