22 de dezembro de 2025
Saúde

É preciso conhecer antes de ajudar

Fabiana Teófilo
| Tempo de leitura: 6 min

Diversas entidades vêm surgindo como forma de auxiliar pessoas portadoras de algum tipo de doença e seus familiares. O problema, de acordo com profissionais ligados à saúde, é que, nesse meio, podem surgir as chamadas associações “fantasmas”, ou seja, que arrecadam dinheiro, mas não investem naquilo a que se propõem. Para evitar esse tipo de erro, é preciso conhecer o trabalho desenvolvido antes de ajudar uma instituição filantrópica

Aumenta cada vez mais o debate em torno do crescimento do terceiro setor (entidades privadas sem fins lucrativos que realizam atividades voltadas para o bem público) e da necessidade de criar mecanismos para fiscalizar a atuação dessas lideranças que surgem dentro das comunidades.

Fiscalização

A ex-secretária da Saúde de Bauru, a médica Eliane Fetter Telles Nunes, explica que algumas cidades, principalmente as pequenas no interior do Estado, não investiam muito na área de saúde e só com a existência do Sistema Único de Saúde (SUS) conseguiram ter um centro de saúde.

A partir dessa realidade, a sociedade civil, percebendo que não tinha suporte, começou a se organizar em grupos de parentes e amigos. Eles se uniam com o intuito de ajudar as pessoas portadoras de algum tipo de doença específica. “Nesse meio tempo surgiram entidades sérias e aquelas não tão sérias, onde vários oportunistas deram golpes, se aproveitaram da filantropia para seu próprio benefício”, conta.

Em função dessa realidade, de acordo com Eliane, o Governo começou a fiscalizar um pouco mais e a exigir uma regulamentação para o trabalho assistencial.

Para o coordenador geral do Conselho Municipal de Saúde, José Perea Martins, e também para Eliane, a fiscalização é necessária. O desafio é como fiscalizar o terceiro setor sem ferir na liberdade de ação e sem criar uma estrutura que prejudique a agilidade e simplicidade das instituições - suas qualidades principais.

Martins acredita que a saúde pública melhorou nos últimos anos, apesar de ainda existirem problemas. “Nós sabemos das deficiências. Eu tenho promessas em recortes de jornais que certos tipos de problemas seriam solucionados dentro de um prazo estipulado e não foram. Eu acho que alguém deve tomar providências e esse alguém tem que ser o poder executivo. Falta de reclamação não é”, afirma.

Ele diz que, mesmo com esse problema existente na saúde pública e ciente de que os serviços atuais são insuficientes, é preciso verificar melhor o crescimento do terceiro setor com uma fiscalização devida.

Eliane concorda com Martins que a fiscalização tem que acontecer. Uma entidade ligada à área de saúde, de acordo com ela, por mais bem intencionada que seja, tem que ter uma supervisão técnica e um acompanhamento.

“Não adianta apenas eu ter uma boa intenção. Eu posso querer ajudar, mas preciso ter o mínimo de conhecimento técnico. Então nessa área da saúde tem que ter uma fiscalização, porque as pessoas estão mexendo com vidas”, conclui.

Martins explica que o conselho tem como objetivo ouvir a população e cobrar das autoridades da cidade melhoria dos serviços de saúde para a população. “Temos como função fiscalizar e deliberar e até poderíamos fazer essa fiscalização em relação às associações porque servimos de elo de ligação.”

O coordenador do conselho ressalta que o papel das associações é fundamental, mas é preciso ter cautela em relação ao objetivo principal. “Será que essas organizações, que se dizem destinadas a ajudar, não visam benefício próprio? De qualquer maneira eu acho que merece aplauso toda e qualquer organização que possa vir em benefício daquele que mais precisa”, afirma.

Para ele, deveria existir uma norma pré-estabelecida para a existência dessas entidades. “Tudo o que vier somar, vem trazer benefício. Eu acho que existem ONGs maravilhosas por aí, mas é preciso checar. Temos suspeitas, mas não existe denúncia”, diz.

Orientação

Eliane explica que para montar uma associação é preciso manter “os pés no chão”. De acordo com ela, é fundamental ter a certeza de que essa entidade será auto-sustentável.

Ela diz que no SUS há atendimentos específicos para cada tipo de doença. Falta especialista, mas a médica salienta que esse problema será suprido. “Isso não quer dizer que o poder público terá dinheiro para desviar para uma associação”, afirma.

Para ela, as pessoas não dimensionam que são 317 mil habitantes em Bauru com diferentes tipos de problemas, reumáticos, cardíacos, hipertensos, diabéticos, aidéticos e tuberculosos. “Se cada um for fazer uma associação e quiser que o dinheiro seja desviado para ele, o dinheiro não dá. Não há dinheiro para tudo isso”, diz.

Idealismo

Eliane explica que as pessoas, quando incorporam o idealismo de uma entidade, têm que pensar nos gastos de um aluguel, contas de luz, telefone, água e funcionários.

Para ela, ou se monta uma entidade privada que tenha algum interesse em casos isolados e se auto-sustenta através de doações; ou se profissionaliza e vende o serviço ao município.

“Por exemplo, eles podem fazer determinada parte que o Estado não está fazendo, não está suprindo e vender esse serviço. Mas é preciso ter o profissional, a estrutura, o serviço. Para o município é mais barato pagar um serviço que já está estruturado, do que montar seu próprio serviço”, afirma a ex-secretária

Ela diz que o SUS é muito claro: não tem que bancar entidades privadas. É preciso transformar o serviço público em algo resolutivo. O dinheiro público, de acordo com ela, tem que ser investido publicamente.

Ajuda mental

ABRATA (Associação Brasileira dos Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) - busca informar, apoiar a melhorar a qualidade de vida de portadores de depressão e transtorno bipolar. Tel.: (0XX11) 256-4831 - www.abrata.com.br

AFDM (Associação de Amigos, Familiares e Doentes Mentais) - criada para defender a assistência permanente aos doentes mentais, com humanidade, respeito, dignidade e liberdade Tel.: (0XX21) 507-4558 / 507-5830 www. afdm.org.br

ASTOC (Associação Brasileira de Portadores de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo-Compulsivo) - estimula pesquisas, organiza simpósios e dá apoio a familiares e portadores destas síndromes Tel: (0XX11) 3088-9198 / 3085-2978 www.mtecnetsp. com.br/toc/.

GruPan (Grupo de Apoio aos Portadores do Transtorno do Pânico) - apóia, informa e esclarece os portadores da doença e seus familiares Tel.: (0XX31) 3487-2669 www. gold.com.br

IFB (Instituto Franco Basaglia) - seu principal objetivo é desenvolver ações estratégicas de incentivo à formulação de políticas públicas que possam resgatar os direitos de cidadania dos usuários de serviços de saúde mental Tel.:(0XX21) 542-3049 r. 2109

Projeto Fênix - ONG que luta pelos direitos e pela ressocialização de Psicóticos Anônimos através de grupos de auto-ajuda para eles, seus amigos e familiares. Tel.: 0800-109636 www.fenix. org.br

Reluzir (Associação Brasileira de Apoio à Prevenção e ao Tratamento de Transtornos Alimentares) - oferece apoio a pacientes e familiares, além de assistência médica, social e psicológica.Tel.: (0XX11) 3814-0379

Sosintra - tem o intuito de apoiar famílias e estimular a integração social de pessoas com distúrbios mentais. Tel.: (0XX21) 527-6873

Fonte: www.ipi.med.br

A filantropia no Brasil

• 54% dos jovens brasileiros querem ser voluntários, mas não sabem por onde começar. São 14 milhões de jovens e 10 milhões de adultos que querem ajudar.

• Somente 7% dos jovens brasileiros são voluntários, contra 62% nos USA. É muito pouco. É preciso que exista mais consciência social.

• Empresários do Brasil gastam 4 bilhões de reais por ano em segurança e 5 mil reais por mês em filantropia.

• Segundo a Receita Federal, a média para doações e contribuições é de 23 reais por ano para os 5 milhões de brasileiros que pagam Imposto de Renda.

Fonte WWW.voluntários.com.br