Por unanimidade, o conselho de sentença do Tribunal do Júri de Bauru condenou a 14 anos de prisão, Paulo de Tarso Tolin Cesário, denunciado por homicídio duplamente qualificado. Ele matou a cartorária Donizete Maria Artioli, com várias facadas, no dia 15 de março de 86, na época sua namorada.
Estudantes de direito, amigos e familiares de ambas as partes não arredaram o pé do julgamento, que durou mais de 12 horas, à espera da sentença.
O inusitado final feito pelo presidente do júri, Benedito Okuno surpreendeu os presentes e foi uma lição para o condenado. Ele citou textos bíblicos para dizer que Cesário ainda não tinha aprendido o verdadeiro significado da palavra amor.
Encerrou dizendo que por obra de Jesus ele estava sendo levado para uma penitenciária onde poderia mostrar que realmente havia se convertido para a igreja evangélica. “Seu papel no presídio será de salvar vidas.â€
A emoção tomou conta dos familiares de Zeti, como era carinhosamente chamada pela família e amigos. As irmãs Maria Cristina Artioli e Nazareth Artioli consideraram a sentença justa e elogiaram o desempenho da acusação e do juiz.
Para o advogado Marcelo Cury, assistente da acusação, a sanção fixada foi no mínimo legal. “Na época em que o crime ocorreu, o homicídio não era considerado crime hediondo. Ele era primário e a pena deverá ser cumprida, inicialmente em regime fechado.â€
O resultado, na opinião do advogado foi muito expressivo. “Atingimos o nosso objetivo integralmente. Apesar da sanção, por força da lei, não ser suficiente, há uma carga simbólica muito grande com esse resultado. A Justiça acabou prevalecendo e isto é uma resposta para a sociedade de um crime tão brutal.â€
De acordo com ele, a defesa admitiu a prática do crime, mas alegou que foi provocado por violenta emoção após uma suposta provocação da vítima de forma injusta. “O conselho de sentença afastou a atenuante por sete votos a zero e acolheu por unanimidade as qualificadoras invocadas pela promotoria.â€
O advogado não tinha feito os cálculos de quantos anos Cesário ficará preso. “Eu acho que entre três e quatro anos.â€
O advogado de defesa Lino José de Melo Júnior garantiu que o réu não pretende recorrer da sentença. “Ele não tem o desejo de recorrer. Vamos pedir a transferência dele para o Rio Grande do Sul, onde ele poderá cumprir a pena perto de sua família.â€
Melo Júnior admitiu que em crimes como esse existe uma comoção muito grande e fica difícil a prática da ampla defesa do réu. “O conselho acolheu as duas qualificadoras, motivo torpe e vingança e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.â€
O advogado pediu desculpas pelas ofensas que possa ter feito a família da vítima. “A família que nos desculpe, mas o réu tem direito à defesa e nós somos profissionais.â€
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Em nome de Deus
O filho da cartorária Théo Artioli Azevedo aceitou a sentença como satisfatória, mas condenou a atitude do réu em usar o nome de Deus em vão. “Eu acredito na justiça divina e sei que ele vai pagar caro por ter usado o nome de Deus como ele fez hoje.â€
Ele ressaltou o brilhante trabalho da acusação tanto do promotor quanto do advogado. “A Justiça foi feita. A pena foi dentro das condições previstas. Infelizmente ele vai estar livre em pouco tempo. Tirou um peso das nossas costas. Agora sabemos que ele foi condenado e vai pagar pelo crime que cometeu.â€
A irmã de Zeti, Maria Cristina Artioli saiu satisfeita do julgamento. Eu acredito na justiça divina e hoje passei a acreditar na justiça dos homens. Deus iluminou este juiz, promotor , advogado e corpo de jurados.â€
O filho Thiago Artioli Azevedo achou que a justiça dos homens foi cumprida. “Vamos esperar a justiça divina, porque com certeza ele não vai sair imune e não vai mentir para Deus.â€
Na opinião da irmã de Zeti Nazareth Artioli, justiça foi feita neste caso. “Conseguimos fazer com que a imagem de minha irmã prevalecesse, a idoneidade dela fosse reconhecida.â€