22 de dezembro de 2025
Cultura

Machado no palco

Gustavo Cândido
| Tempo de leitura: 3 min

Uma das maiores obras literárias do mundo e talvez o grande livro brasileiro de todos os tempos ao lado de “Grande Sertão: Veredas”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis é leitura obrigatória na maioria da escolas do País. Quem não leu a obra, que inaugurou o realismo no Brasil quando foi publicada em 1881, pode experimentar um bom exemplo da genialidade do autor com a adaptação que Rick Von Dentz fez para o teatro e que ele apresenta hoje, junto com o elenco da WZ Brasil Produções, no Teatro Municipal “Celina Lourdes Alves Neves”, às 10h e às 20h. Os ingressos podem ser comprados na bilheteria do teatro.

A encenação do grupo paulistano, que já adaptou outros clássicos da literatura nacional como “Memórias de um Sargento de Milícias”, “Capitães de Areia” e “Dom Casmurro” (também de Assis), procura preservar as principais características do livro. Nesse caso, o humor fino e sutil com que o personagem central - o defunto Brás Cubas - analisa e critica sua vida, o ambiente em que viveu e as pessoas que o cercaram.

A hipocrisia das instituições no final do século 19 são seu maior alvo. No início da peça, Brás Cubas narra sua morte. Através de um retrocesso no tempo, as cenas vão se passando desde seu nascimento até, novamente, o óbito. O nascimento, os mimos da família, os palpites dos tios sobre o futuro da criança e as peraltices do já menino Brás dão ritmo ao espetáculo.

As lembranças de Brás começam aos 17 anos, quando ele se envolve em uma de suas grandes paixões, a espanhola Marcela, uma mulher maliciosa e interesseira, que lhe dava amor em troca de presentes caros. O envolvimento é tão grande, que fica endividado e é mandado pelo pai para estudar em Coimbra, em Portugal.

Seguem-se a morte de sua mãe, a volta ao Brasil, a perda da noiva, do pai e o reencontro com o amigo Quincas Borba (que mais tarde seria o personagem principal de outro livro de Assis), que lhe rende alguns conflitos internos.

Os anos se passam, e com eles os amores. Brás fica só e doente. Recebe uma visita de Virgília (um ex-amor) e num delírio faz uma última viagem em busca do sentido da vida e dos segredos da eternidade, tudo, é claro, com todo o sarcasmo de Assis em relação ao mundo.

O elenco da peça, que já foi apresentada em várias cidades da região, é formado por Paulo Oliveira, Silmara Deon, Valdir Rivaben e Walter Ferreira. Além da direção e adaptação, Rick Von Dentz é responsável também pela sonoplastia, iluminação e trilha sonora do espetáculo.

• Serviço

“Memórias Póstumas de Brás Cubas”, hoje, às 10h e 20h, no Teatro Municipal. Av. Nações Unidas, 8-9. Informações: (14) 235-1312.

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Início do realismo

Com “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, publicado em 1881, Machado de Assis inaugurou o realismo na literatura brasileira e também na carreira do autor, que já tinha escrito livros românticos. A partir dessa obra, ele se mostra um observador perspicaz, que analisa o lado psicológico dos personagens.

Dividido em 145 capítulos curtos e dispostos de forma alinear, o livro tem um ritmo lento e o seu grande (e irônico) achado no fato do narrador ser um defunto. Como está morto, Brás Cubas fica livre de qualquer julgamento e assim pode revelar e criticar tudo e todos.

Engraçada e inteligente, a obra se destaca mais pela forma como foi escrita do que pela história em si, que, de qualquer maneira, é genial. “Memórias Póstumas...” é o primeiro livro da mais importante trilogia machadiana, que se completa com “Quincas Borba” e “Dom Casmurro”, que foram publicados em 1891 e 1899, respectivamente.